Por Ariane Ferreira - Discreto e avesso à imprensa, o argentino Franco Davin é um dos mais bem sucedidos treinadores de tênis. Ele é o único sul-americano a vencer Grand Slams com diferentes jogadores e é responsável pela virada de Fabio Fognini.
Canhoto, nascido no distrito de Pehuajó, nas cercanias de Buenos Aires, Davin foi um tenista de sucesso, top 30 do ranking da ATP em 1990, venceu três títulos profissionais (St. Vicent, Palermo e Bucareste, este vencendo o croata Goran Ivanisevic) e foi vice-campeão em outros seis torneios. A carreira foi encerrada em 1997, aos 27 anos, após lutar com uma série de lesões, a derradeira no ombro esquerdo.
Como jogador, Franco Davin viveu um momento complicado, quando aos 17 anos percebeu como o circuito funcionava. Ele jogava contra o então oitavo do mundo, o ex-número 1, John McEnroe na primeira rodada do Masters de Roma em 1987, vencia por 6/3 2/1 e viu as luzes da quadra serem desligadas e o jogo interrompido. "Cortaram a energia de propósito, sim. Alguns anos depois Sergio Palmieri, que era o agente de McEnroe e tinha muita influência no torneio, me confirmou", relatou o treinador em entrevista ao jornal argentino La Nacion.
Após a aposentadoria discreta, Davin passou a dedicar-se aos estudos do esporte e ao ensino do tênis. Já no ano seguinte a sua aposentadoria, foi convidado a assumir a capitania da equipe argentina na Fed Cup e na Copa Davis, tendo trazido de volta a Argentina ao Grupo Mundial da Davis em 2001. O convívio como capitão deu a ele seu primeiro "pupilo", Guillermo Coria.
Um dos mais talentosos expoentes da sua geração, Coria iniciou o trabalho com Davin pouco após sua profissionalização em 2000 e seguiu até o final de 2002. Neste período, a dupla conquistou três títulos de ITF e quatro Challengers consecutivos ao fim de 2000. Em 2001, a dupla conquistou o primeiro ATP da carreira de Coria, Viña Del Mar, no Chile. Davin tirou Coria do posto 734º da ATP em janeiro de 2000 e o levou a 25º do mundo em maio de 2001.
Pouco após romper a parceria com Coria, Davin assumiu o difícil compromisso de treinar o não menos talentoso, porém ainda mais temperamental, Gastón Gaudio. O argentino, contemporâneo de Coria, era também um expoente do tênis sul-americano envolto de muita expectativa mundial. Quando Franco Davin chega à equipe de Gaudio, o tenista já possuía dois títulos ATP, era 22º da ATP, mas oscilava muito em quadra principalmente do ponto de vista emocional. Juntos conquistaram o título de Roland Garros 2004, o primeiro título do país no tênis masculino na Era Aberta, o primeiro e único sul-americano a vencer no saibro parisiense após o tricampeonato de Gustavo Kuerten, o nosso Guga.
Apesar de tornar-se responsável por um dos títulos mais esperados pelos fãs de tênis na argentina, Davin manteve-se discreto, concedeu poucas entrevistas, até que rompeu a parceria com Gaudio e anos mais tarde assumiu outro jovem promissor local: Juan Martín Del Potro. Sob comando de Davin, Delpo chegou no mais alto posto de sua carreira, quatro do mundo e ao título do US Open em 2009, tornando Davin o único sul-americano campeão como treinador de dois títulos do Grand Slam com diferentes atletas.
Ao lado de Juan Martín, Davin esteve por longos sete anos, enfrentou as primeiras três paradas por cirurgia do pupilo. A parceria acabou em julho de 2015 e três meses depois foi anunciado pelo búlgaro Grigor Dimitrov, com quem ficou até meados de 2016.
A mudança na carreira de Fognini
No inicio de 2017, o italiano Fabio Fognini surpreendeu ao anunciar o rompimento com o espanhol José Perlas, após cinco anos de parceria, e a contratação de Davin. Em São Paulo, o italiano falou sobre a contratação ao Tênis News à época, e pediu calma para que o trabalho frutificasse: "Escolhi Franco porque tem um grande currículo. Chegou onde chegou com [Juan Martín] Del Potro. Treinou muita gente boa. Quando se muda algo há que ter paciência, caso contrário as coisas não acontecem".
Na mesma conversa, Fognini assumiu que o sucesso de Davin comandando Gastón Gaudio foi crucial para a parceria: "É que sou, um pouco, reflexo de Gastón - tomara que alcance os seus resultados -. Somos dois muito bons jogadores, em que às vezes a cabeça "tira férias". Assim que contratei toda sua equipe". Na ocasião, sob orientação de Davin, Fognini passou a trabalhar com o mesmo psicólogo esportivo do campeão de Roland Garros 2004, Pablo Pécora.
Franco Davin chega ao comando da equipe de Fognini com o desafio de repetir sua melhor fase na carreira, que foi de estar como 13º do mundo em 2014 e realizar o sonho de ser top 10. Fabio Fognini abriu 2017 como 49º do mundo e já em abril consolidou-se no top 30 novamente.
A evolução de Fognini diante do trabalho de Davin foi tema de uma conversa do italiano com o jornal argentino Página 12 no inicio deste ano. "Franco é uma pessoa fantástica fora de quadra e dentro dela, às vezes, é muito calado (risos), mas entendi que é assim sua personalidade. Quando o escolhi foi porque queria fazer uma mudança enorme em minha cabeça. Ele é um dos melhores treinadores do mundo", declarou.
Franco Davin mudou a consistência de Fognini, que em 2018 jogou, aos 31 anos de idade, a melhor temporada de sua carreira, como este artigo do Tênis News aponta. Foram três títulos (o tão esperado pelo italiano: Brasil Open, Bastad e Los Cabos), além do vice-campeonato em Chengdu.
Este ano, Davin precisou de muito trabalho para manter Fognini consciente de que estava no caminho certo, mesmo com a sequência de derrotas. Duas semanas antes da campanha histórica em Monte Carlo, a esposa do jogador, a ex-tenista Flavia Pennetta, falou à Sky Sports italiana e destacou que o lado mental do marido é o que vinha sendo trabalhado por Davin.
"Fábio chegou a um patamar em que muito confiante acabou relaxando e aí vem uma, duas, três derrotas inesperadas e elas tiram muito a confiança. Sem a confiança, qualquer coisa pode abalar seu jogo. Ele tem treinado bem, tem ciência disso, [Franco] sempre lhe fala isso, analisa tudo. É uma questão de vencer um jogo bom para recuperar a confiança, é o que lhe dizemos", disse a campeã do US Open 2015.
A vitória chegou e deu-se com o italiano muito perto da derrota na estreia em Monte Carlo diante do russo Andrey Rublev, que um set à frente, vantagem no set e breakpoint, viu Fognini resistir. Em um de seus raros momentos de esboçar reação, Davin apontou para a cabeça e na direção do italiano sugeriu "Concentre-se. Ainda dá".
O recado deu motivação ao italiano, que ao conquistar tamanha virada, em consequência de um ano até então bastante duro, sem nenhuma vitória no piso, ganhou a confiança de que Franco Davin tanto lhe falava em treinos. Como resultado, Fognini ergueu no último domingo seu primeiro título de Masters 1000 e abriu a semana mais próximo do sonho de ser um top 10, está em seu melhor ranking: 12º.
Atualmente, Davin também colabora com a equipe do português Gastão Elias, outro tenista conhecido por seu temperamento difícil em quadra.