Por Aparício Menezes e Marcelo Abuchacra - Mais um recorde para Novak Djokovic, o 7º ano finalizado como Número 1. O sérvio demonstra uma personalidade forte, que passa por oscilações ao longo da temporada, tanto em termos de rendimento, como emocionalmente.
Observando esta temporada, vimos que Djokovic passando por experiências não tão agradáveis no circuito, perdendo jogos e demonstrando comportamentos inadequados dentro de quadra. E mesmo com essas manifestações ele finaliza o ano com mais um recorde vencendo, não só os adversários, mas a si mesmo.
Este é o movimento genuíno que representa a essência de tenista competitivo, porque Nole passou por diversas adversidades dentro e fora das quadras, e se manteve focado e determinado ao objetivo que ele mesmo traçou previamente. O fez mesmo com as possibilidades de desistir, as adversidades que abalavam o emocional, o físico e mesmo as questões morais, através das críticas que chegam até ele.
Djokovic absorve, se recupera, faz seu trabalho junto de sua a equipe, se prepara para o próximo torneio, vai lá e faz uma apresentação espetacular. Isto é genuíno do tenista. Você nunca será perfeito, de estar sempre no topo, sempre vencendo, de estar sempre jogando bem. Vão acontecer problemas, críticas e todas essas experiências têm consequências aversivas e ruins. Portanto, cabe ao tenista e sua equipe gerenciar essas consequências e redirecionar o trabalho para o foco principal. E a equipe do Djokovic e o próprio têm essa habilidade bem desenvolvida. Seja qual for a adversidade que ele sobrepassar, Novak se alimenta da adversidade/problema, de forma que na próxima oportunidade que ele tem que fazer melhor, ele se supera, joga um excelente tênis.
Novak Djokovic tem uma frieza mental muito grande, é por isso que ele está aparecendo aí, pela sétima vez, fechando o ano como número 1 do mundo. De fato, para você conseguir essa façanha, é preciso aprender a cair e levantar. Aprender a sofrer as consequências das barreiras, dificuldades, problemas e enfrentá-las da forma que você aprendeu na sua história de vida.
Djokovic enfrenta os problemas com uma personalidade única, de uma maneira muito confiante no que ele é capaz de fazer.
Se formos ao seu primeiro título do Grand Slam em 2008 [Australian Open], Djokovic já vinha se mostrando como alguém que vinha para brigar com [Roger] Federer e [Rafael] Nadal. Fazíamos a observação da alegria que Djokovic já naquela época trazia para o esporte. Esse perfil descontraído com certeza o ajudou a chegar onde chegou, porque ele faz parte de uma geração muito forte. Ele não começou disparando, ele corria atrás, e sabia disso.
Destaco a alegria, porque Djokovic é uma pessoa polêmica, mas que trabalha muito. Conhecemos várias histórias dele, uma delas na Itália. O tenista Wilson Leite me contou o quanto ele é apegado aos detalhes, trabalhando com o preparador físico, sobre o que come, quanto dorme e o que precisa fazer.
Vale aqui recordar que recentemente Goran Ivanisevic disse que é muito difícil trabalhar com Nole porque ele exige muito, que são 24 horas ligado e querendo melhorar, fazer as coisas. Goran disse que isso faz com que ele seja um profissional melhor por trabalhar com Nole. Destas coisas é possível ver o quanto Novak é obstinado.
Novak Djokovic é exemplo para os tenistas brasileiros, de como precisam aprender a ser profissional, de como exigir de um treinador, mas para que haja essa exigência, você precisa ter responsabilidades, precisa apresentar um grande volume de trabalho.
Falando de brasileiros, Rogerinho Dutra Silva é um que chegava nesse patamar de nível de trabalho, o tempo todo intenso, fora de quadra e dentro de quadra, te exigindo e não foi por acaso que chegou entre os 70 do mundo.
Djokovic é um grande exemplo para todo mundo, forte mentalmente, que tem treinado muito a parte mental. Tem buscado outras coisas, trabalhar a respiração, meditação, banhos gelados, etc. Muito se deve também a sua origem, a Sérvia é um país marcado pela guerra e isso com certeza constrói esse mental forte e vencedor.
Sobre o Projeto Único
O Projeto Único é a união da PE Sports, do psicólogo Aparício Meneses e Tênis & Psicologia de Marcelo Abuchacra. Os dois são especialistas de Psicologia Comportamental e atendem atletas de tênis e outras modalidades em um consultório diferenciado em São Paulo e também de forma online.