Pela primeira vez após 4 anos desde seu banimento do tênis profissional, o ex-tenista brasileiro João Souza, conhecido como Feijão, conta como foi passar pelo processo da Unidade de Integridade do Tênis e ver seu mundo desabando por ato de corrupção.
No início Rica e Feijão conversam sobe tênis e o ex-tenista dá sua visão do atual momento do esporte: "O tênis está ficando chato. Não dá pra ficar 3h na frente da TV, você tem que faze silêncio, o jogo ficou muito físico, sem jogadas. E essa nova geração, sorte que pintou o (Carlos) Alcaraz, o espanhol, porque esse moleque... eu acho que ele vai ganhar muitos Grand Slams e ele é carismático. Ele é príncipe e o (Rafael) Nadal é o rei. Por mais que o (Jannik) Sinner seja o número 1, ele não chega aos dedos dos pés de carisma do Alcaraz. O Sinner joga muito, mas não vende. A nova geração é assim, fora o Alcaraz, mas o tênis está perdendo espaço", opinou.
Pela primeira vez desde que foi suspenso provisoriamente em 2019 e no mesmo ano banido do esporte pela vida, João Souza falou sobre como foi a investigação que levou sua punição, bem como foi abordado para entrar no sistema de corrupção e manipulação de resultados.
Feijão inicia contando que a investigação da então Unidade de Integridade do Tênis (TIU) o abordou entre 2018 e 2019 durante uma disputa de Challenger na capital do Chile, Santiago. Em detalhes, o brasileiro conta que foi abordado por um auditor do TIU que era português. "Eu estava almoçando com o meu amigo Thiago Alves e ele nem viu isso, talvez eu nem tenha falado pra ele. O cara me abordou, se apresentou e pediu meu celular. Eu disse que precisava do celular porque ia jogar e precisava de música pra me concentrar. Ele me deixou com celular, mas disse que depois do jogo ia pegar e ia me entrevistar", conta.
De acordo com o ex-tenista, seu jogo durou 3h, acabou após as 21h pelo horário local e ele tinha jogo no dia seguinte às 11h. Por esta razão, o agente da TIU, que Souza identificou como "José" decidiu que lhe entrevistaria após a partida no dia seguinte, porém ficou com o telefone do brasileiro.
Feijão conta que se sentiu numa série de investigação criminal e que a entrevista feita pelo agente português, um inglês e uma produtora numa sala reservada durou 3h. "Eles perguntavam a mesma coisa sempre. Eles disseram que tinha denúncias e alertas e estavam entrevistando alguns jogadores. Eu estava falando com eles e negando, afinal, eles disseram que só tinham suspeita. Eu não tinha nada para assumir e aí ele me mostrou um áudio e nele eu dizia a um amigo que tinha dado errado, por um game. Era um jogo de duplas, meu parceiro obviamente não sabia, acabou que deu errado e o cara perdeu lá não se quantos mil", detalha.
Souza conta que o áudio estava no que ele chama de "celular sujo", que era o que ele usava para fazer essas negociações. Ainda segundo o ex-tenista, a pessoa que perdeu dinheiro porque o acerto acabou dando errado em quadra chegou a ameaçar de morte pela perda de muito dinheiro em euros.
Feijão conta que foi pressionado pela equipe do TIU a assumir que tinha cometido as irregularidades. "Eles tinham certeza que eu tinha vendido partida", ressalta. Segundo o brasileiro, ele nunca deixou de cooperar com a investigação: 'Celular eu dei quando pediram. senha de tudo, Facebook, Instagram... eles dizem que eu não cooperei, mas eu cooperei sim", dispara.
O brasileiro conta que saiu da entrevista automaticamente suspenso provisoriamente. "Acabou meu mundo, foi uma sensação que eu nunca tinha sentido na vida", resume.
O ex-tenista conta que deu uma desculpa para desistir da chave de duplas do torneio e voou para o Brasil. Mesmo sendo casado à época, Feijão estava em processo de separação e optou apenas por contar aos pais o que estava acontecendo. Feijão ainda revela que os pais já sabiam que ele tinha participado do esquema de manipulação de resultados por venda de derrotas.
O vínculo de Feijão com o esquema de corrupção foi com um cidadão da Rússia, que o ex-tenista acredita que não contactou mais por "dó".
A entrada no sistema de corrupção se deu, segundo Feijão, por uma conjuntura de fatores que incluem queda do ranking, queda de premiação problemas pessoais e propostas como 100 mil euros para perder um jogo, que no circuito valeria pouco mais de 500 dólares em caso de derrota.
"Todo mundo sabe quem faz e quem não faz", delata o brasileiro dizendo que não citaria nomes, mas que no circuito sabe-se quem pratica as manipulações, incluindo as unidades de investigação, que buscam provas.
Crédito: Marcelo Zambrana