Ex-top 70 do mundo, João Olavo Souza, o Feijão, abriu o jogo pela primeira vez, quatro anos e meio após ser banido do tênis por corrupção em 2019 em entrevista ao canal Loucuragem comandado por Thiago Milan.
O tenista foi suspenso no começo de 2019 em março, conseguiu por advogado uma liminar para seguir jogando e semanas depois acabou suspenso novamente e banido oficialmente em janeiro de 2020.
O jogador não entrou em detalhes dos motivos pelos quais foi levado ao banimento, mas admitiu a corrupção e se mostrou arrependido.
"Hoje em dia até pode soar que eu não tenha sentido o que tenha acontecido naquele momento, já são quatro anos e meio . Minha vida é baseada...fecha um capítulo e abre outro. Quem nunca errou, que atire a primeira pedra. Se você deixou de pagar um imposto, você errou também. São poucas as pessoas que podem me julgar. Ninguém é perfeito, começamos deste princípio. O que eu fiz, a atitude que eu tomei naquele momento . Primeiro veio a suspensão, depois veio o banimento...não me orgulho do que aconteceu, foi um momento que eu me sentia um pouquinho mais vulnerável , não vinha ao caso eu contar o porquê de eu ter feito aposta e tal, isso é papo para outro momento. Não justifica o que fiz porém eu sofri ali depois...talvez soe arrogante de minha parte ...eu fiquei dez dias, duas semanas em Mogi quieto com meu pai, minha mãe . Fiquei lambendo a ferida e entendendo o que tinha acontecido , a dimensão da parada. Fiquei 10 dias mal , pensando o que ia fazer, precisava levantar a poeira, tenho uma filha. Voltei pro RJ , tive acesso ao advogado ele chegou a derrubar a liminar, eu cheguei a ir para San Luis Potosí para jogar, eu estava treinando, antes das oitavas contra o Barrios Veras me ligaram dizendo que tava banido novamente. Peguei o avião, voltei pro RJ, meu advogado me disse que eu deveria ser banido...daí fui perdendo a motivação e fiquei oito, dez meses sabáticos", conta Feijão que detalhou que nos últimos anos o esporte estava lhe saturando mentalmente.
"No momento da suspensão achei que as pessoas iriam reagir de forma muito mais negativa do que realmente é. Eu posso ter feito o que eu fiz . Não foi o jeito que planejei sair do tênis. Eu já vinha muito cansado nos últimos três anos do tênis, comecei a jogar o circuito com 16 . Eram 13 ou 14 anos de dedicação total , viajando e jogando não só os torneios, mas uma exibição, interclubes, jogos abertos, é muito mais que só os torneios. Eu estava saturado. Não estou justificando...mas minha mãe via que eu não aguentava. Eu não gosto de viajar. Se tiver que ir pra SP, eu não vou, hoje em dia eu cobro mais caro. É desprazeroso pegar um voo, fazer a mala. Aí o universo me penalizou me tirando do circuito daquela forma que foi , foi meio que isso, não justificando o que eu fi tenha sido certo ou não . O que eu fiz tá feito. Eu não aguentava mais. A loucura é, quando eu não podia sair eu saía, enchia a cara, fumava cigarro , tomava whisky, vodka, era essa minha válvula de escape. Era esse cara de gostar da noite. Hoje sou uma pessoa normal e isso não é o que me apetece, não me dá prazer. Acordo hoje 4h50 da manha, durmo 21h30, estou em outro momento da minha vida, estou com minha filha pequena, estou muito mais maduro, com negócio crescendo. Sou muito agradecido pelo que fiz, não me arrependo de nenhuma vírgula do que falei, nenhuma bola que bati, sou super agradecido pelas coisas que tenho, pessoas que tiveram ao meu redor, Tenho muito a trilhar como empresário no meio do tênis. Estou aprendendo a ser empresário. Estou feliz de verdade com essa nova empreitada nesse novo desafio que é prazeroso", apontou o ex-atleta que hoje tem sua academia e aponta que vem buscando sua reconstrução na carreira.
"A suspensão eu tomo como uma derrota de um jogo , só que esse jogo me custou mais e outros me custaram menos, os outros me custaram dinheiro, menos pontos e a suspensão custou minha carreira . E tá tudo certo irmão, eu errei mesmo agora é pau na bola, estou me reconstruindo , lutando para isso. Basicamente não sei se um banimento caberia."
Feijão contou episódios onde foi retirado de torneios estaduais no Rio de Janeiro pelo árbitro e está esperançoso que a ITIA, o órgão que regula o esporte limpo, possa reverter a decisão e que ele possa frequentar torneios pelo mundo.
"Tem uns dois episódios que gostaria de contar de eu ter ido a torneios com minha garotada e o árbitro ter me tirado do torneio com meia dúzia de gatos pingados. Tudo ligado à Federação, CBT, eu não posso estar já que eles são ligados à ITF. Rio Open há quatro anos eu não posso ir. Estou tentando fazer alguns acordos aí...não sei se (banimento) foi o justo ou não , mas foi o que foi, tá dado, foi banido, tá tudo certo , já entubei, já vivo com isso, mas o mais chato foram essas duas situações de terem me tirado desses torneios . Isso que é constrangedor. Eu parei de ir para evitar isso. A mãe do garoto do outro lado. É um constrangimento, hoje em dia você abre a internet e tá lá, Feijão banido por corrupção e não dá destaque ao que eu conquistei, o jogo de seis horas. Alguns jogadores do top 100 já me chamaram pra viajar junto . Eu sei que posso ser um puta coach, mas foda-se, fui 69 do mundo, podem me achar um otário ou não . Mercado pra mim não vai faltar. Vou ter que conviver com essa mancha talvez pro resto da minha vida . Eu ponho os pais hoje, já pus em rodas e resumo minha história, jamais vou ensinar uma criança a fazer isso , isso e aquilo ou incentivar", disse.
"Tenho plena convicção que estou prestes a negociar com a ITIA de pelo menos ser treinador . Não acho justo eu tomar uma prisão perpétua eu trabalhando com o tênis. Difícil você seguir outra coisa depois que acaba com a carreira. Ainda mais pra mim que venho de família debaixo, sem um pai que me dê uma herança".
O ex-tenista comentou que nunca passou pela cabeça ser treinador até terminar seu ano sabático após a suspensão: "Infelizmente minha despedida do tênis não foi da maneira que queria ou que um atleta deseja terminar uma carreira, mas aconteceu daquele jeito que não foi esperado. Sinceramente não esperava trabalhar com tênis pois estava cansado e não me via trabalhando com o esporte seja como fosse e quando apareceu o clube sabia que seria a única coia segura, que eu era bom, como treinador. Depois de um ano que acabou minha carreira, pintou essa oportunidade e eu tava sem trabalhar. Tirei um ano sabático, fiz coisas que nunca tinha feito, coisas normais que uma pessoa faz.
(Estou) Reconstruindo meu nome do zero. Vocês sabem bem como foi minha saída do tênis, bem conturbada. Ninguém vive do passado...vida que segue, e está seguindo muito bem obviamente a gente não se orgulha de algumas coisas que fizemos na nossa vida, mas eu estou super feliz, meu negócio está crescendo cada vez mais. Cada dia que passa estou me reencontrando como ser-humano no mundo do tênis, hoje como empresário e quem sabe no futuro consiga fazer um grande jogador de tênis", disse.
"A competição nunca sai da gente, não vai sair nunca , quando vou nos torneios com a garotada, nos torneios que posso ir, pois na maioria não posso ir ...porque tem toda aquela papagaiada de estar banido, nos torneios que eu posso ir ...eu fico louco pois quero ganhar mais que a molecada . A gente incomoda pois somos pequeninos, temos duas quadras, galera fica meio ressabiada. Eu gosto muito da competição...De uma forma ainda quero limpar meu nome, não que esteja sujo, mas se estiver também, tô cagando pra isso, mas estou trabalhando do zero de novo. A gente aqui foca também não só em jogar bem tênis, mas também em ter valores legais, que os pais compartam dessa nossa ideia de não criar só grandes jogadores, mas seres-humanos".
Feijão ainda lembrou aquela Copa Davis contra a Argentina e sua vitória contra Carlos Berlocq em quase cinco horas e a dolorida derrota para Leonardo Mayer em jogo recorde de mais de seis horas. Ele conta o como afetou sua carreira e até que após aquele jogo foi para a balada em Buenos Aires.
O tenista contou ainda do episódio com Rafael Nadal em 2013 no Brasil Open onde questionou duas chamadas do tenista e foi até chamado de folgado por Toni Nadal. E também o quanto passou a admirar Novak Djokovic após o episódio da vacina. Ele enfrentou o sérvio no US Open;
"Tomei um cacete do Djokovic. Parecia um principiante contra um 1ª Classe. Eu não gostava muito dele, ele não era muito querido no circuito, dava pra saber porque, passei a gostar muito dele a partir da questão da vacina, da família, que não ia tomar, quer me tirar da Austrália, me tira, ele tem seus valores e dou parabéns a ele. Colocou tudo em cheque, pegou meu respeito. Passei a gostar demais dele por tudo que vem fazendo, sou muito feliz por ter compartilhado a quadra com ele".
Feijão ainda colocou Thiago Wild como um potencial top 20: "Thiago Wild joga pra mim nível top 20, tomara que ele consiga manter esse foco que ele vem mantendo, todo mundo sabe que é uma caixinha de surpresas. Falo isso na cara dele. Ele vai ter tempo pra sair depois, fazer as coisas que ele gosta de fazer quando tiver os 35, mas ele é moleque né . Gosto muito do Thiago, ainda mais agora com o Duda Matos , tem muito café no bule, porque o Duda ser um cara espetacular, é um cara muito disciplinado. Tem muito a ajudar o Thiago".