Por Gustavo Loio - Thiago Wild, aos 19 anos, mostrou, nas últimas semanas, ser uma fera faminta que estava à espera de uma oportunidade para sair à caça. E soube aproveitar muito bem os convites para o Rio Open e do ATP 250 de Santiago para decolar.
Ou melhor, mostrou seu belo cartão de visitas ao circuito mundial.
No Jockey, Thiago já tinha deixado a torcida bastante orgulhosa com sua personalidade e um jogo ofensivo de encher os olhos. Tanto que só parou nas oitavas de final, no tiebreak do terceiro set, diante do top 20 croata Borna Coric. Saiu de quadra ovacionado e com a cabeça erguida.
E, na capital chilena, o atleta do Instituto Tennis Route, no Recreio dos Bandeirantes, quebrou marcas. A principal delas: se tornou o mais jovem brasileiro a vencer um ATP Tour. Se já é difícil para um compatriota ganhar um torneio nas simples, fazer isso com a idade do pupilo de João Zwetsch foi algo absolutamente inédito.
E justamente por não sermos uma potência no tênis é que dá pra afirmar com todas as letras que esse paranaense de Marechal Rondon não é mais uma promessa. Estamos diante de uma bela realidade. O filho do ótimo professor de tênis Claudio e da cirurgiã dentista Gisela ainda seria uma promessa se o país em que vivemos fosse, por exemplo, a Espanha, que produz grandes tenistas em sequência.
Somos um país carente de ídolos, especialmente no tênis. Mas, nem por isso, devemos comparar Wild a Guga. Não é raro vermos comparações com o tricampeão de Roland Garros, quando temos uma façanha nessa modalidade. Um grande erro. O que o ex-número 1 do mundo fez em quadra é absolutamente fora da curva para um país como o nosso. Muita calma nessa hora.
Em 2010, por exemplo, o alagoano Thiago Fernandes nos encheu de esperança ao vencer o Aberto da Austrália juvenil. Mas acabou encerrando a carreira aos 21 anos, mesmo porque a transição para o profissional está muito longe de ser fácil. Ainda mais para tenistas brasileiros.
Antes de se profissionalizar, Wild também conquistou um Grand Slam juvenil, em 2018, no US Open. Aliás, ele foi o primeiro do país a triunfar em Nova York.
Em tão pouco tempo desde a conquista nos EUA, o atleta da Tennis Route já deixou para trás as comparações com Fernandes. E a promessa virou realidade.
A conquista na capital chilena lhe rendeu um salto de 69 posições no ranking, onde hoje ele é o número 113 do planeta. O cobiçado (e merecido) top 100 está muito perto. Desde o início do ano, o pulo é de quase 100 posições (ele começou como o número 205). No começo de 2019 ele era o 447.
Tanto no Rio Open quanto em Santiago, o tênis cheio de confiança de Wild veio com um importante amadurecimento. Há pouco mais de um mês, Thiago se revoltou com uma derrota no Challenger de Punta Del Este e estraçalhou a própria raquete e a arremessou em outra quadra. A imagem viralizou.
E o domínio de Thiago sobre as frustrações em quadra (tão comuns no tênis) tem, claro, muito do trabalho de Zwetsch e do psicólogo Felipe Vardiero. O preparador físico Alex Matoso e o fisioterapeuta Roberto Bretas completam o timaço de Wild.
Mais maduro e agora campeão de ATP, Thiago tem ótimas condições de seguir fazendo história. E continuar enchendo um país de orgulho.
Sobre Gustavo Loio:
Jornalista formado em 1999 e pós-graduado em Assessoria de Comunicação, já trabalhou com Gustavo Kuerten. E, também, nas redações da Infoglobo (O Globo, Extra e Época), do Diário Lance! e do Jornal O Dia, além do site oficial do Pan de 2007, no Rio.