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A emocionante carta de despedida de Toni Nadal: 'Obrigado, Rafael'

Segunda, 20 de novembro 2017 às 13:20:51 AMT

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Tênis Profissional

 



Ao jornal espanhol El País, publicou a carta definitiva de despedida do tio e treinador de Rafael Nadal, Toni Nadal. Nela, o treinador agradece aos agente importante de seu sucesso e do sobrinho, reflete a respeito de fãs, adversários e celebra o aprendizado.

Juntos, Nadal por 27 anos, Toni e Rafa levantaram 75 títulos profissionais, 17 apenas em torneios do Grand Slam. 

Confira na íntegra a tradução da carta de Tio Toni:

"O ATP Finals nesta última semana foi o ponto final na minha trajetória como treinador do meu sobrinho Rafael. Dou por concluída uma feliz etapa de 27 anos que se iniciou no dia em que o filho do meu irmão Sebastián entrou em quadra de tênis com apenas três anos. Hoje saio de sua trajetória, mas não se acaba aqui meu caminho. Seguirei vinculado ao tênis porque meu amor e esperança no esporte, por sorte, seguem intactos.

Desde o inicio da trajetória tenística de meu sobrinho tentei desenvolver em um carácter forte e decisiva para encarar de frente as dificuldades do tênis em particular e na vida num geral, com a qual sempre considerei haver um denominador comum.

Eu fui mais irritante que gentil e mais exigente que afável. Procurei nele mais um ponto de insatisfação do que satisfação e sempre dei a ele toda a responsabilidade. Seguindo a frase de de Francisco de Quevedo [escritor e pensador espanhol do século XVI] —“Quem espera nesta vida que tudo esteja a seu gosto, terá muitos desgostos" - eu nunca facilitei a mais as coisas para Rafael.

Tive a sorte de conviver com uma grande geração de jogadores, mas sempre procurei que a defesa dos interesses do meu jogador não me impedisse de vê-los desde uma perspectiva mais ou menos igual. Nunca achei que a rivalidade devesse ultrapassar os limites das quadras e nem considerei nenhum rival como um inimigo. Isto me permitiu apreciá-los, respeitá-los e aprender com eles.

Vivemos em uma sociedade em que o fanatismo é dominante, na política sobretudo, mas em todos os outros âmbitos também, onde nos encaminha considerar bom apenas nosso ponto de vista e depreciar, não valorizar e até odiar, o que pensa ou sente de maneira diferente a nós. Meu ao FC Barcelona, para não sair do ambiente esportivo, não me leva a elogiar exageradamente todas as suas atitudes, como tão pouco a depreciar de maneira radical todas as atitudes do Real Madrid.

Acredito que nos faria bem começar a moderar nossas paixões no campo esportivo e estendê-la a todos os demais âmbitos.

Chegou o momento de olhar pra fora, reconhecer e agradecer tudo o que esta profissão me deu. Minha gratidão está direcionada a muitas pessoas mais ou menos desconhecidas que no decorrer de muitos anos me acompanharam nesta viagem.

Muito particularmente quero destacar os membros da equipe que começou a crescer com a entrada de Carlos Costa, em primeiro lugar, e com a incorporação de todos os demais, a quem sei que não preciso nomear um a um. A todos eles agradeço sua entrega, compromisso, disposição e não menos importante, sua amizade. A convivência com eles enriqueci-me grandemente como profissional, e claro, como pessoa. Quero expressar minha gratidão também a família Fluxà por ter querido unir meu nome ao de Iberostar, uma empresa familiar e balear (originária das Ilhas Baleares terra natal dos Nadal) exemplo de valores humanos e prestigioso no setor hoteleiro.

A todos os jornalistas estrangeiros e sobre tudo, espanhóis, que demonstraram tanto rigor e respeito pela figura de meu sobrinho e em extensão a minha. Não caíram na prática do desprestígio quando as coisas se complicaram para Rafael.

Sentimos muito mais alento e compreensão por parte dos meios de comunicação que a intensão de colocar fogo na situação quando atravessamos crise no jogo ou sofremos lesão. 

Aos torcedores que foram a diferentes torneios e compraram ingressos, que interromperam seu sono para ver jogos noturnos, que apoiaram, aplaudiram e se emocionaram com as vitórias e derrotas de Rafael. Seu apoio e carinho ajudaram a levantar muitos troféus e meu agradecimento, portanto, é imenso.

Por último e de maneira especial, devo reconhecer e agradecer muito o maior responsável por minha sorte: meu sobrinho Rafael. A relação com ele sempre foi atipicamente fácil dentro do mundo em que vivemos. Graças a sua educação, respeito e paixão pude desenvolver minha maneira de entender esta profissão. Graças a ele vivi experiência que superar todos os meus sonhos como treinador.  Viajei ao seu lado para lugares incríveis e conheci pessoas relevantes e interessantes em muitos âmbitos. Hoje em dia me sinto muito valorizado e querido porque sua figura engrandeceu muito a minha, mais do que mereço.

Disse a Antonio Muñoz Molina [escritor espanhol] em seu ensaio tudo o que era sólido e respeito a personagens que ocupavam altos cargos justamente antes da crise, algo parecido a seguinte: “Acreditamos que estavam ali acima porque são muito capazes e inteligentes, quando na verdade, muitas vezes, é o contrário. Como estão ali acima, chegamos a acreditar que são muito capazes e inteligentes".

Os deixo com esta colocação para evitar qualquer super valorização da minha pessoa e volto para meus queridos alunos em Manacor. Obrigado de coração e até sempre."

Para conferir na íntegra a carta original, clique aqui.

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