Por Fabrizio Gallas - Se no tênis a situação não é boa para os jogadores principalmente abaixo do top 100 do ranking, a ausência de torneios e paralisação geral no Beach Tennis vem deixando os atletas da modalidade sem alternativas.
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O calendário da ITF de Beach Tennis vem seguindo o do tênis e cancelou todos os eventos desde o começo de março até pelo menos 13 de julho. Evento importante e dos maiores do esporte nas Ilhas Reunião foi o primeiro a ser cancelado praticamente em cima da hora em março e na última semana os dois Mundiais da Federação Internacional de Tênis seguiram o mesmo caminho, em Terracina, na Itália, que seria em junho, e o Mundial por Equipes, em Moscou, na Rússia, no começo de julho.
"Impacto gigantesco, nós que somos atletas e temos rotina bem intensa de treinos. Não sabemos quando vai voltar, como vai voltar, algo bem vago. Tenho me exercitado em casa, parte física. Todos os jogadores não sabem o que fazer. Estamos acostumados a viajar, jogar torneios,ficamos abafados com isso, mas isso afeta não só nós, como todos os atletas, empresários e comerciantes e toda a econômia do planeta", disse André Baran, melhor atleta brasileiro, sexto colocado no ranking mundial masculino, parceiro do ex-número 1 do mundo, Vinicius Font.
No Beach Tennis os maiores eventos giram na casa da premiação total de US$ 35 mil e US$ 50 mil (equivalente aos menores challengers no tênis) fazendo que os bachtenistas tenham que recorrer a dar aulas e clínicas como atividades complementares financeiras. Só que com praias e clubes fechados por todo o Brasil e em vários cantos do mundo vem atingindo em cheio as fontes de renda dos atletas que vem sobrevivendo com ajuda dos patrocinadores.
Baran está impactado em suas aulas que dá em seu clube em Brusque (SC) e vem sobrevivendo com o apoio de seus patrocinadores que permanecem juntos do atleta mesmo no período paralisado: "Tenho minha escola de Beach Tennis de onde vem minha principal renda, minha empresa que é a ABBeach Tennis, tenho meus professores, minha equipe, alunos profissionais, juvenis, amadores, então acaba que está tudo parado. Dependo do funcionamento para receber, tenho meus custos. Não tenho muito para onde correr, muita gente está no mesmo barco, empresários, autônomos, funcionários. Precisamos ser flexíveis, ser unidos, pois todo mundo vai perder. Tenho planos para remar contra essa maré, mas objetivo é sair dessa situação para voltar a trabalhar. Tenho meus patrocínios que me ajudam nas viagens, nos torneios, e Graças a Deus conto com ajuda deles ainda nesse momento difícil. Temos que empreender, repensar um pouco no que vamos fazer. Toda crise precisamos ter criatividade , buscar soluções para quando a poeira baixar um pouco ter pontos positivos quando tudo voltar ir da melor forma possível".
Cerca de um mês antes da pandemia pelo coronavírus paralisar o esporte, os principais jogadores de Beach Tennis criaram a ABTP, Associação de Jogadores de Beach Tennis, na busca por unificar uma voz diante da Federação Internacional de Tênis o qual Baran, vários brasileiros, italianos líderes do ranking entre outros fazem parte. A ABTP vem conversando com a ITF buscando ajuda diante do momento complicado.
Foto: Ralff Abreu / Crédito: Paulo Carneiro
Ralff Abreu, niteroiense, atual 31 do mundo e ex-top 10, é uma voz bem ativa na nova associação dos jogadores e detalha que os atletas vão buscar ajuda: "Nós temos conversado diariamente. Entendemos que é algo que não temos o que fazer, mas a gente está tentando entrar em contato com a ITF, estamos produzindo uma carta para saber o que a entidade pensa sobre os jogadores. No tênis os jogadores estão buscando um auxílio junto à ATP e queremos saber o que a ITF pensa sobre isso pois os jogadores somos semi-profissionais e ainda mais sem competições e sem poder fazer nada, não ganhamos dinheiro para ficar em casa por tanto tempo parados. Mas entendemos que é questão de saúde, não tem como fazer torneio, é complicado", disse o atleta que vem se mantendo graças aos patrocinadores, entre eles a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Niterói.
"Não toco na raquete desde 16 de março e isso atrapalha o lado profissional de jogador e subsistência. Renda como jogador e extra não é possível, todas as praias fechadas. É um drama para todo jogador. Não temos nenhum auxílio da ITF, da Confederação Brasileira de Tênis e do Governo Federal para que possamos nos manter."
Baran reforça as conversas que os joadores vêm tendo para ter ajuda da ITF e destaca o propósito pelo qual a ABTP foi criada: "Em princípio a ITF não tem plano de ajuda (diante do coronavírus), não tem nenhum norte do que possa ser feito pelos atletas. Era difícil a ITF ter um diálogo com os jogadores, uma aproximação. Nós atletas observamos o crescimento absurdo, o que está se tornando, e gostaríamos que eles olhassem com outros olhos, os eventos maiores, melhores, sendo transmitidos pela TV, um calendário melhor,a gente precisava da ITF nisso e não acontecia. Fizemos uma reunião, os principais jogadores, e decidimos montar a Associação, como é a ATP no tênis, e queríamos juntar homens e mulheres, não para desvincular da ITF, mas tornar o beachtennis mais forte".
Foto: Rafaella Miiller / Divulgação
Rafaella Miiler, atual campeã Mundial em Terracina, na Itália, e bicampeã Mundial pelo Brasil em Moscou, na Rússia, também vem se mantendo graças a manutenção dos apoiadores. Ela está pessimista quanto a eventos na temporada. Um grande evento na Rússia, em São Petersburgo, ainda está previstos para julho: "Acho que esse ano vai ser difícil ter torneios. Não tenho nenhuma outra fonte de renda fora torneios, aulas e clínicas. Estou com ajuda da Maniacs e SandEver que seguem me apoiando".
Foto: Michele Cappelletti / Crédito: Jorge Guzman
Número 2 do mundo, italiano que vive na 2ª região mais atingida do país está bem e espera que circuito volte em setembro
Número dois do mundo, o italiano Michelle Cappelletti, natural de Cesena, na Itália, em Emilia Romagna a segunda região com maior número de infectados pela pandemia. Ele relata o que tem passado e também que aposta que o Beach Tennis só voltará para setembro.
"Felizmente eu e minha família estamos bem, graças a Deus. Essa situação impactou muito em minha atividade. Para um jogador profissional como eu é muito difícil treinar, impossível treinar com a raquete, moro em condomínio. Estou fazendo treino físico muito bom, mas rotina muda, tenho saudade. Situação complicada, foi prolongado para 13 de julho, mas acho que será mais, para setembro porque na Europa e Resto do Mundo é complicado, o pior está chegando, Itália já passou o pior e chegará no restante. Temos que ter paciência e seguir mantendo o físico".
Assim como no Brasil, os italianos seguem em quarentena e não têm acesso aos clubes como alguns poucos tenistas estão tendo. Os beachtenistas também não estão inclusos no pacote que o governo local aprovou recentemente com ajuda de 600 Euros aos atletas e cada jogador vem dependendo dos apoiadores: "Tem jogador de tênis que a Federação dá possibilidade de treinar, mas só os do topo como o Fabio Fognini e poucos outros. Para nós do Beach e do Paddle, não podemos treinar, não temos ajuda. Não recebemos nenhuma ajuda (do governo). Essa situação fica aqui até pelo menos 18 de abril. Nós não vamos receber pois o Beach Tennis não é profissional e não vamos receber. Cada jogador se vira com cada patrocinador. Depende de quanto tempo será a situação e vamos encontrar a solução com cada um que nos apoia".
Cappelletti forma dupla com Alessandro Calbucci, número 1 do mundo, que era padrinho do Copacabana Open, que seria o primeiro evento Grand Slam de Beach Tennis, no fim de abril e começo de maio, evento com premiação de US$ 50 mil que também acabou cancelado pelo coronavírus. Para novembro é previsto o outro Grand Slam que será o tradicional evento de Aruba, por vários anos o maior do esporte.