Por Ariane Ferreira - O Tênis News aproveitou a suspensão do circuito profissional para conversar com o preparador físico Alex Matoso, profissional da Tennis Route, no Rio de Janeiro, responsável por Thiago Seyboth Wild, Marcelo Demoliner e Gilberto Klier.
A conversa realizada remotamente via Whatsapp abordou algumas frentes importantes da atuação dos preparadores físicos neste momento que é de parada do circuito, mas não é nem férias e nem pré-temporada, na qual os profissionais devem cuidar-se para estarem aptos ao retorno.
Matoso contou em detalhes o processo de trabalho e evolução da jovem promessa brasileira, Thiago Seyboth Wild, que curiosamente venceu o último jogo oficial do circuito ATP até o momento, quando foi campeão do ATP 250 de Santiago, no Chile.
"O trabalho que a gente faz é sempre pautado no desenvolvimento da agilidade. E entender a agilidade é super importante. A agilidade ela não é só a mudança de direção, o quanto o tenista é rápido. Um exemplo: as vezes o tenista é muito rápido, mas faz uma leitura da bola tardia, o que faz com que ele chegue mal na bola. Então, entender o conceito de agilidade é super importante para compreender nosso trabalho, que sempre foi pautado em desenvolver a agilidade, sempre foi, desde que ele chegou lá com 14 anos e vai ser assim, entrando agora em nível mais alto de torneios, jogando com mais constância. A agilidade tem o componente de percepção e tomada de decisão", continua. "Isso tá mais na parte técnica, apesar de trabalhar na atividade física.", comentou Matoso que como todo o corpo técnico do paranaense enxerga um potencial físico grande a ser explorado.
Dentro da parte de agilidade, Matoso explica que para os objetivos traçados para Wild o trabalho de "movimentação" é de extrema importância e realizado dentro e fora de quadra. Dentro, o trabalho conta com o treinador João Zwetsch, que Alex Matoso aponta como "melhor do Brasil na atualidade" e resume: "Esse trabalho da movimentação é sempre discutido com ele"
Alex conta que para ter uma boa movimentação tecnicamente e que tenha explosão durante uma partida o trabalho realizado é o de "força". "Ele entra na parte de prevenção de lesão e entra na manifestação da potência. A gente faz um trabalho muito forte com o Thiago, porque ele tem que manifestar essa potência do inicio ao fim do jogo e do torneio. Não adianta ter um tenista, que como o Thiago, salta bem, num contra-movimento mais de 50 centímetro, que ele faça isso só no num primeiro set. É importante pra gente que ele manifeste isso o torneio inteiro".
O preparador dá o exemplo de o tenista iniciar uma partida sacando bem, mas não conseguindo terminá-la com a mesmo força de saque por "falta de perna" e considera este equilíbrio um dos maiores desafios de sua atividade: "Fazer com que o tenista esteja bem do início ao fim do jogo".
No caso de Wild, Alex Matoso ressalta que já aconteceu do paranaense terminar jogos mais cansado, porém o trabalho em equipe com treinador, nutricionista, fisioterapeuta, o próprio tenista, além de Alex Matoso, tem ajudado a "sanar este problema".
"A parte preventiva é super importante. A gente, com a experiência que temos e contato com grandes fisioterapeutas do Brasil e do mundo, desenvolveu protocolos de meio de treinamento, na qual a parte preventiva é bastante trabalhada. A parte de tronco, quadril, ombros e cotovelo são muito sobrecarregadas no corpo do tenista. Esse trabalho auxilia na longevidade do atleta", revela.
Para Matoso, Thiago Wild ainda tem muito a se desenvolver na parte física: "Ele pode desenvolver até mais tarde toda essa potência física e isso é muito interessante, pois do jeito que ele está já conquistou ótimos resultados. Temos um caminho longo pela frente, mas é difícil dizer quanto ele irá alcançar o pico físico".
Perguntamos ao preparador físico o que muda no trabalho desenvolvido com Wild, que deve ultrapassar a barreira dos 100 melhores do mundo em breve. "O que muda mais é a questão de volume de trabalho. Ele terá um número mais de bolas recebidas, de velocidade destas bolas, uma constância maior... o volume de pontos mais longos. Aumenta que ele tenha que jogar por mais tempo [jogos mais longos]. Ele terá de fazer mais bolas, com a mesma qualidade e do início ao fim de um torneio. A intensidade que ele tem que apresentar será maior e é nisso que temos que trabalhar, em paralelo com o trabalho técnico de quadra dado pelo João".
Para Alex Matoso, Wild vinha vivendo seu melhor momento físico e de resultados na carreira desde o segundo semestres de 2019 e mesmo com uma inflamação no tornozelo, em razão da demanda de jogos que teve, mas que conseguiu se recuperar para o Rio Open, onde no entendimento do profissional o paranaense fez grandes jogos não apenas do ponto de vista de resultados, mas físicos e que resultou na semana seguinte no título em Santiago.
"É muito difícil um atleta se manter nesse nível por muitas semanas, o normal é que se tenha uma retração para um ganho maior adiante", esclareceu afirmando que via este cenário para Wil após o confronto da Copa Davis do Brasil na Austrália, que foi anterior a paralisação total do circuito profissional.
"Ele estava pronto para performar ainda esse semestre e no próximo, sem dúvida nenhuma. Thiago é um atleta muito responsivo, ele consegue responder a todos os estímulos. Um diferencial muito grande também, consegue aplicar sua melhora técnica e física nos jogos. Ele estava bem, sem nenhuma complicação da parte física. Vamos monitorando esse contexto que o mundo vive para definir quais serão os próximos passos".
Alexander de Sousa Matoso, o Alex, é mineiro de Belo Horizonte, bacharel em educação física pela Universidade Estácio de Sá e coordenador da equipe de preparação física da Tennis Route.