Por Marden Diller - O brasileiro Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros e um dos maiores expoentes do esporte nacional de todos os tempos esteve em coletiva na tarde desta quarta-feira no Rio Open, onde abordou temas como a mudança da superfície do torneio e a mudança para o Centro Olímpico de Tênis, vista como inviável a curto prazo pelo ex-número 1 do mundo.
“Esse piso sempre foi o mais habitual pra formação dos jogadores no Brasil, nos últimos 20 e 30 anos. E depois veio Roland Garros, o que gerou essa identidade com o saibro. Faz todo sentido que os brasileiros ainda tenham melhores resultados no saibro, a nossa essa escola de tênis é dentro das quadras de saibro. Esse ano realmente uma dúvida foi a mudança ou não do saibro para quadra duro. Eu acredito que tenha seu valor de se manter nesse piso, pois a própria vitória do Bellucci mostra que o saibro dá essa condição aos nossos tenistas, temos essa crença de que no saibro dá certo e de que teremos um vencedor assim”.
A onda de mudanças do Rio Open não fica apenas no piso. Existe o plano real da organização de mover o torneio para o Centro Olímpico de Tênis na Barra da Tijuca. Esse plano, segundo o tricampeão de Roland Garros, esbarra na ausência de estabilidade e segurança, uma vez que ainda não existe a certeza de que o Centro Olímpico será utilizável para um torneio deste porte.
“Esse torneio ainda se comporta melhor aqui. Seria impossível pensar em Centro Olimpico pela insegurança e incerteza do que vai acontecer por lá. Um torneio desses é muito grande, depende de uma série de decisões, gera uma conta grande pra pagar, precisa de certeza e convicção de que as coisas funcionariam. Então o Centro Olímpico demandaria uma segurança maior para ser pleiteado. A realização do torneio neste ano, nas condições que a cidade se encontra, está sendo uma experiência fenomenal para todos. Um dia acho que podemos sim ir para o Centro Olimpico, precisaremos de tempo para amadurecer e para que o local seja praticável”.
“A curto prazo creio que o torneio precisa seguir com sua ascensão gradativa de moto que torne-se independente e não precise mais depender do governo ou do Centro Olímpico, ele precisa se destacar e andar com as próprias pernas. Hoje vemos que mesmo sem a presença de Rafael Nadal, que praticamente levava o torneio sozinho, temos bons números e público, e os bons resultados dos brasileiros apenas confirmam que podemos sim crescer”.
Apesar dos pontos expostos anteriormente, Guga também acredita que a mudança tem um outro lado da moeda, que é justamente o desejo de crescimento do torneio e até mesmo uma evolução de classe, para um Masters 1000, algo que, segundo o mesmo, seria inviável no saibro pela disparidade geográfica em relação à temporada europeia de saibro.
“Existe um contraponto muito forte, pois mesmo sem grandes certezas, temos um Parque Olímpico pronto aqui do nosso lado. Isso é muito provocativo e acaba ficando acima da identidade ou do que seja melhor para os brasileiros. Se pararmos para pensar, o que é bom para nossos tenistas hoje pode não ser daqui a 10 anos. Mas essa mudança, se e quando acontecer, eu vejo como um primeiro grande passo em direção ao Masters 1000 do Brasil, que é um sonho nosso e é algo legal de se cultivar e encorajar”.
“Ao mesmo tempo vejo que o beneficio para os jogadores e a identidade atual do torneio como coisas provisórias, uma vez que podemos sim criar uma nova identidade mesmo na quadra dura, pois o Rio de Janeiro por si só já dá a identidade ao torneio. Além do mais, hoje qualquer garoto jovem já sabe que precisa jogar na quadra dura. É claro que, como eu disse, o saibro facilita nossos jogadores já em atividade, mas não sabemos o futuro como será”.