Por Gustavo Loio - Não dá pra falar na sensacional final masculina do Aberto da Austrália sem citar resiliência, luta e serenidade. Aos 22 anos e em sua primeira final de Grand Slam na carreira, Jannik Sinner, número 4 do mundo, mostrou muitas virtudes.
Uma delas, a serenidade, digna dos veteranos multicampeões para virar uma partida que parecia perdida. E se consagrar como o primeiro italiano campeão de simples em Melbourne, ao bater o guerreiro russo Daniil Medvedev, 3º do planeta, por 3/6, 3/6, 6/4, 6/4 e 6/3, em 3h44m de uma batalha épica.
Afinal, até o 1/5 do segundo set, com o russo sacando, o italiano não conseguia incomodar o adversário. Mas Sinner, o que também é muito incomum para sua pouca idade, também é resiliente, soube esperar seu momento, buscou variar, passou a tentar curtas, ir à rede.
Na Era Aberta, desde 1969, apenas um tenista havia saído de dois sets abaixo para erguer o troféu em Melbourne: o espanhol Rafael Nadal, há dois anos, justamente contra Medvedev. Foi apenas a oitava vez, na Era Aberta, que o campeão saiu de um placar tão adverso.
E Sinner não poderia enfrentar um adversário mais imprevisível e inteligente nesta final. Não conheço quem mude com mais facilidade a direção da bolinha, no circuito mundial masculino, do que Medvedev, que buscava título inédito e havia amargado o vice em Melbourne em 2021 e 2022. E essa característica fui crucial para ele dominar até o 5/1 e saque do segundo set, incomodando demais o oponente. O vice-campeão foi pra cima desde o início do jogo e surpreendeu, inclusive, indo à rede, fato pouco comum em seu jogo. O russo, aos 27 anos, que vinha de algumas batalhas de cinco sets no torneio, como de costume, lutou até o final, mas acumulou a quinta derrota em seis finais de Majors.
Vencer a primeira decisão de Slam, após perder os dois primeiros sets, é algo absolutamente raro no tênis mundial. Ainda mais para um tenista tão jovem.
Logo após a incontestável vitória sobre o recordista de títulos (10) em Melbourne, o sérvio Novak Djokovic, na semifinal, na sexta-feira, Sinner mostrou uma maturidade também incomum. Disse que daria tudo em quadra na final, mas que, se não fosse dessa vez, seguiria treinando forte para buscar uma nova oportunidade. Uma lição para a vida sobre resiliência, ainda mais num esporte que exige tanto da parte mental quanto o tênis.
Campeão fora das quadras
Mais jovem italiano a vencer um Slam, Sinner, com o troféu em Melbourne, repete o feito que, até hoje, apenas três compatriotas haviam alcançado nas simples, na Era Aberta (desde 1969): Adriano Panatta (Roland Garros, em 1976), Francesca Schiavone (Roland Garros, em 2010) e Flavia Pennetta (US Open, 2015). Antes deles, mais precisamente em 1959 e 1960, o também italiano Nicola Pietrangeli conquistou Roland Garros.
Profissional desde 2018, Sinner tem como maior ídolo no esporte o suíço Roger Federer. O deste domingo foi o 11º e mais importante troféu de sua promissora carreira. E o italiano também já mostrou ser um campeão fora das quadras. Na pandemia da COVID-19, por exemplo, em 2020, lançou a campanha #SinnerPizzaChallenge, para arrecadar fundos a entidades de saúde da Itália. Ele também doou 12,5 mil euros a uma organização humanitária para comprar suprimentos médicos em Bergamo, na Itália, durante a pandemia.
Com um estilo de jogo agressivo e preciso, um ótimo saque e alguma variação, o novo campeão do Aberto da Austrália tem tudo para enfileirar outros troféus deste nível.
Obviamente que podem surgir outros nomes e que um gigante como Medvedev sempre entre os melhores, mas, da nova e tão talentosa geração, vejo Sinner se revezando, num futuro bem próximo, a liderança do ranking e os grandes torneios com Carlos Alcaraz. Dois anos mais novo que Sinner, o espanhol tem dois Slams no currículo (US Open de 2022 e Wimbledon de 2023).
O futuro do tênis mundial está em ótimas mãos.
Sobre Gustavo Loio
Jornalista formado em 1999 e pós-graduado em Assessoria de Comunicação, já trabalhou com Gustavo Kuerten. E, também, nas redações da Infoglobo (O Globo, Extra e Época), do Diário Lance! e do Jornal O Dia, além do site oficial do Pan de 2007, no Rio.