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Federer em The Last Dance

Sábado, 24 de setembro 2022 às 09:58:21 AMT

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Tênis Profissional

Por Carlos Omaki - E enfim, o dia de ontem, passou, se acabou e realmente o grande bailarino do tênis se despediu…



Não poderia haver sido melhor.
Como parceiro, seu maior rival: Rafael Nadal.
Mais uma lição do grande Roger Federer. Transformar em seu melhor amigo o seu maior algoz de toda a sua história.
Um Nadal que sentia em quadra que um pedaço dele estava partindo ali também. Sua inspiração, sua meta, seus objetivos, se acabariam ou ao menos perderiam grande parte do seu combustível após aquele jogo. Um Touro Miúra diferente, sentindo o peso da responsabilidade de jogar ao lado de Roger Federer.
Do outro lado, dois americanos que não poderiam ter sido melhor escolhidos pelo destino.
Destemidos, brilhantemente desrespeitosos e com um poder de “fogo” perfeito para tirar o melhor da dupla Federer e Nadal.
Um jogo incrível, para mostrar para o mundo a genialidade e as características que transformaram a batalha entre esses dois em alguns dos eventos esportivos mais assistidos do mundo!
Quem amava Roger, odiava Nadal e quem amava Nadal, odiava Federer. Mas, no fim, tudo era apenas mais ingredientes para tornar cada ponto eterno.
No final, deu Tiafoe e Sock, mas quem ganhou foi o mundo, ao ver que Federer e Nadal não teriam uma dança ensaiada e muito menos contra coadjuvantes preparados para perder.
A espantosa força física dos americanos tirou risos, tensão, esforço físico e o melhor do técnico dos dois.
Para quem acompanha o circuito, já era muito esperado que os dois americanos, principalmente por se tratar Jack Sock de um especialista em duplas em plena ativa, seriam favoritos, mas contra dois dos maiores da história sempre se espera alguma magia.
A noite londrina não poderia ser mais perfeita para os fãs do Big Four.
Federer, Nadal, Djokovic e Murray juntos no Time Europa, com uma belíssima apresentação do “quarto elemento” Andy Murray, também já demonstrando dificuldades em suportar a força da juventude do australiano Alex de Minaur, que precisou de um super tiebreak, ou Match tiebreak, para vencer o ex-numero 1 do mundo.
Uma “preliminar” para já preparar o coração dos torcedores para o que tinha por vir.
Murray a cada jogo demonstra todo o seu amor pelo tênis e o quanto é difícil para eles pensarem em aposentadoria.
Se o mundo não torceu por Murray, ao menos se rendeu a seu esforço, sua garra e sua luta, tão característicos de sua carreira. Sim, a noite foi planejada, arquitetada minuciosamente para mexer com o coração dos fã presentes na O2 Arena e todos os outros atrás das telas de televisão. Planejada pelo destino, e mesmo que nem tanto, se houve alguma escolha foi perfeita.
A arena que não se compara a um Arthur Ashe de Nova Iorque em tamanho, foi realmente uma “La Bombonera”, deixando o público perto o suficiente para sentir e passar tudo o que estava sentido fora da quadra para os atletas.
Algo diferente, como se a plateia emocionasse e comovesse as estrelas.
Federer, mais uma vez, demonstrou profissionalismo e esbanjou carisma. Para quem o conhece, sabia que ele não chegaria despreparado e chegaria com seu tênis muito bem afinado. Sacando muito bem, com voleios que o mundo demorará a voltar a ver, deu mais uma aula de técnica.
Uma partida para ser filmada e usada por professores e técnicos como exemplo e modelo, especialmente dos voleios, para seus discípulos.
Seu parceiro, Nadal, escolhido pelo rival, para a última contradança, caprichosamente. Um tenista que nunca se dedicou as duplas, que obstinadamente focou sua vida em ser o maior da história e estará entre eles.
Até então o maior vencedor de Grand Slams da história e o tenista mais soberano em uma de suas quatro etapas, com 14 títulos em Roland Garros.
Mesmo suas 22 conquistas não puderam eliminar a tensão do momento e lindamente, brilhantemente, emocionantemente o espanhol pesou.
Nos momentos mais importantes ele mostrou quem é o maior competidor que nosso esporte já viu. Mostrou-se a baixo dos outros três tecnicamente, “as usual” ( como de costume), mas mais uma vez mostrou que nos momentos decisivos não se podem esperar falhas do Touro.
Por fim, tivemos um Match point no saque de Federer.
Tudo parecia pintado pelos Deuses para mais uma vez o gênio se jogar ao chão, para os adversários, parceiros e o mundo se renderem ao que para a absoluta maioria dos fãs do tenis espalhados pelo mundo, se ajoelharem e reverenciarem o homem que mudou o nosso esporte.
Infelizmente parece que o flash que deve ter corrido na mente do suíço não foi do Match point dos seus 20 títulos de Grand Slam, mas muito possivelmente da última final perdida para Novac Djokovic em Wimbledon. Infelizmente para o mundo, o primeiro saque que veio tão afinado e preciso como sempre. Não entrou. Não passou a frente do adversário como tantos outros em forma de um Ace. E a partida se foi.
Se foi com um tiro do finalista do US Open de 2022, Francis Tiafoe, que forçou o espanhol a se atirar no chão para não ser acertado por uma das direitas mais potentes do circuito na atualidade.
Vitória dos americanos.
Fim de carreira para Roger Federer.
Uma cerimônia até pequena e simples para encerrar uma carreira como essa. Deixando brechas para se comparar com a festa de despedida de Serena Williams por exemplo.
Que desculpem, mas mostra a genialidade dos americanos em fazer espetáculos.
Mas a emoção de Roger comoveu o mundo. Tirou lágrimas dos seus mais severos críticos e torcedores adversários.
Mesmo já sem ter um vínculo lindo e emocionante com seu “time”, sua equipe técnica, com abraços discretos no canto da quadra com seus últimos membros como o próprio Ivan Ljubicic, o ponto forte foi a gratidão e a incontida emoção em mencionar sua grande companheira, sua esposa Mirka.
Mais uma vez, sem “misturar as bolas”, Federer manteve seus pais, e os quatro gêmeos fora da quadra mesmo entre abraços e beijos muito emocionados.
O mundo do tênis nunca chorou tanto uma aposentadoria.
Fica sem dúvidas o legado, o start de novas descobertas técnicas e aspectos técnicos que ainda são estudados como o “crossover” com o primeiro passo para trás para entender como Roger conseguia ser tão rápido e se desgastar tão pouco.
Tornando-se um dos mais longevos tenistas a conquistar grandes títulos e recordes.
Mas, se Federer não mudou o tênis dentro das quadras e mudou. Fora das quadras ele transformou o esporte, transformou os atletas e transformou os fans.
Foram 24 anos de brilhantismo.
Parabéns Roger Federer, parabéns por essa carreira brilhante e essa vida marcada por grandes feitos como a perfeição de sua última dança…
Mas, o tênis é maior que os ídolos e muitos outros irão passar.
Alguns com maior ou menor brilho que esse Bailarino.
E felizmente o Big four é a altura da régua para os mais jovens neste momento.
Régua que ainda não parou de subir com Nadal, Djokovic e mesmo Murray.
O novo já chegou e números já são derrubados mostrando que nenhuma luz se apaga.
Que o ato final foi de um mito, longe de ser do esporte.
O recorde de Lleyton Hewitt de mais jovem número um do mundo derrubado pelo jovem espanhol Carlos Alcaraz , nos mostra duas coisas:
ainda temos ídolos do tênis como Jimmy Connors a terem suas marcas quebradas, e temos jovens dispostos a isso.
Muito temos pela frente e para hoje, podemos dizer:
Obrigado Roger Federer!
Você será eterno para todos que viram suas mágicas ao longo destes anos. E daqueles que ainda serão muito contaminados e contagiados por seus adoradores como eu.

Sobre Carlos Omaki

Carlos Omaki é treinador de tênis há 39 anos. Uma das referências do tênis nacional, dono de duas premiações como Melhor Técnico das categorias de base do Tênis brasileiro, é proprietário da COT (Carlos Omaki Treinamento) tendo equipes na Academia Paulistana de Tênis, Club Athletico Paulistano e Tênis Club Paulista e com seu staff de treinadores cuida de cerca de 500 atletas na cidade de São Paulo.

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