Por Ariane Ferreira – Wimbledon 2022 promete ser histórica, não apenas por ser a 134ªedição, mas pelo momento histórico e inédito vivido por Beatriz Haddad Maia e o tênis brasileiro, como também pelo banimento de russos e bielorrussos e o retorno de Serena Williams
Vivendo uma grande temporada na grama em 2022, a paulistana Beatriz Haddad Maia, número 1 do Brasil e 29ª do mundo, fará uma participação histórica em Wimbledon. Campeã dos WTAs de Nottigham e Birmingham, ambos na Inglaterra, Bia segue firme em Eastbourne, onde chegou à semifinal, e será, pela primeira vez na carreira, cabeça de chave em um torneio do Grand Slam.
Muito além de ser a primeira vez que a paulistana é favorita em um Slam, ela é a segunda brasileira cabeça de chave em Slam desde Maria Esther Bueno, o que registra um momento mais que histórico para a carreira de Bia Haddad Maia, bem como da história do tênis brasileiro. Disposta no sorteio como 23ª favorita, Bia só poderá enfrentar uma das oito melhores do mundo apenas das oitavas de final em diante. Se chegar nesta fase, Bia Haddad Maia já terá alcançado sua melhor campanha em um Grand Slam em simples, já que ela nunca passou da segunda rodada deste tipo de torneio.
O banimento de russos e bielorrussos e a extinção de pontos
Após sofrer forte pressão do governo britânico, a federação britânica (LTA) e o conselho diretivo de All England Club (AELTC) decidiram que iriam banir tenistas da Rússia e Belarus de todas as chaves de sua edição 2022. A decisão está em acordo com a posição do governo do Reino Unidos de proibir a entrada de cidadãos desses países em seu território como resposta à Guerra da Ucrânia – iniciada pela Rússia, com apoio de Belarus, no fim de fevereiro deste ano, e já fez mais de 8,3 milhões de refugiados segundo estimativa da Organização das Nações Unidas.
“Reconhecemos que isso é difícil para os indivíduos afetados e é com tristeza que eles sofrerão pelas ações dos líderes do regime russo", destacou o comunicado de Wimbledon em comunicado divulgado em 20 de abril. No mesmo texto, AELTC e LTA informaram que outras soluções foram pensadas, mas que pesou a “importância de não permitir que o esporte seja usado para promover o regime russo e nossas preocupações mais amplas com o público e segurança do jogador (incluindo a família)”. Aos todo 20 russos das chaves principal e qualificatório no masculino e feminino de simples e outros 5 bielorrussos ficaram de fora do torneio.
No mesmo dia, as associações profissionais, ATP e WTA, além da federação internacional (ITF), se posicionaram contra a decisão e ressaltaram que esta descumpria um princípio básico do tênis, que é de promover a participação de qualquer atleta, sem qualquer discriminação de cor, origem ou religiosidade, desde que alcancem o mérito (ranking) de participarem dos torneios e prometeram pensar em uma forma de reverter a decisão.
A polêmica decisão de Wimbledon não era inédita. Durante as edições do pós- Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1951, tenistas oriundos dos “países inimigos” – o grupo conhecido como ‘Eixo’ – estavam proibidos de participar de Wimbledon. Em 1948, a proibição caiu para nacionais Itália, Áustria, Hungria e Romênia. Porém o primeiro atleta oriundo de Alemanha ou Japão disputou Wimbledon apenas em 1951, foi o alemão Gottfried Von Cramm, que tinha sido vice-campeão de Wimbledon em 3 oportunidades (1935, 1936 e 1937).
A decisão dividiu os atletas que consideraram ‘injusta’. Andrey Rublev foi o primeiro russo a se posicionar e afirmou que o torneio inglês “rompeu um acordo” firmado com os principais atletas de Belarus e Rússia.
Em entrevista exclusiva ao Tênis News, o escocês Jamie Murray, membro do Conselho de Jogadores da ATP, afirmou: “As pessoas pensam que política e esportes devem se misturar, eu não sei. Realmente não sei. Mas sei que na Ucrânia a situação não é boa, me sinto péssimo pelos ucranianos. Talvez alguns jogadores terão de perder Wimbledon por um ano”.
As discussões entre os conselhos diretivos de ATP, WTA e ITF, seguiram por um mês e apenas em 20 de maio foi tornada pública a decisão de retirada de pontos da disputa de Wimbledon. Medvedev exaltou a decisão, que causou revolta entre os tenistas ucranianos, que compartilharam inúmeras publicações e compartilhamentos nas redes russas comemorando a decisão.
Ainda com a decisão de extinguir os pontos, o sérvio Novak Djokovic, campeão do torneio em 2021, estaria fadado a perder o número 1 do mundo após Wimbledon. A disputa pelo posto ficou nas mãos do russo Daniil Medvedev e do alemão Alexander Zverev. Medvedev se beneficiava em qualquer cenário, enquanto Zverev precisava vencer em Roland Garros, o que não aconteceu, pois o alemão sofreu uma queda em quadra na disputa de semifinal em Paris contra Rafael Nadal e fraturou gravemente o tornozelo, sendo obrigado a submeter-se a uma cirurgia.
Com a infelicidade de lesão para Zverev e o banimento de Medvedev junto de todos os seus compatriotas, esta será a primeira vez na história, desde a profissionalização em 1968, que Wimbledon não terá em sua chave os dois melhores tenistas do mundo no momento.
Premiação histórica
Sem pontos e com rumores negativos sobre sua premiação financeira, que causaram declarações como a de Fabio Fognini que disse que preferia férias a jogar na grama londrina, a LTA e AELTC precisaram agir e darão uma premiação histórica na edição 2022.
Os campeões das chaves feminina e masculina de simples, ganharão 2,2 milhões de libras cada um, cerca de R$ 12,22 milhões, um aumento de 17% em relação a edição anterior e de 14% se comparada a edição 2019, última antes da pandemia da COVID-19. Quem perder na estreia, por exemplo, faturará 50 mil libras, valor superior a R$ 300 mil.
O retorno de uma lenda
Apesar de todo o ambiente conturbado para o torneio, Wimbledon contará com o retorno às quadras de uma de suas maiores vencedoras, a norte-americana Serena Williams, que aos 40 anos voltou às quadras após 1 ano sem jogar e tentar fazer história na grama londrina.
Dona de 23 títulos do Grand Slam em simples, dos quais 7 são em Wimbledon, Serena Williams pode alcançar o feito da australiana Margaret Court, que venceu 24 torneios do Grand Slam em simples, porém na era amadora do esporte.
Sem jogar uma final desde janeiro de 2020 e tendo feito sua última final em Londres em 2019, quando foi derrotada pela romena Simona Halep, Serena Williams disputará o Slam londrino através de um convite, pois a ex-número 1 do mundo atualmente ocupa o posto de 1.204ª da WTA.