Ex-número 1 do mundo nas duplas e ex-top 3 em simples, a americana Pam Shriver fez um relato detalhado e profundo ao podcast The Tennis Podcast em que relata o que classificou "inapropriada" relação que manteve com seu treinador 33 anos mais velho.
Aos 50 anos, Shriver conta que conseguiu enfrentar seus fantasmas e reconhecer os abusos que sofreu e como isso lhe afetou apenas no último ano, quando iniciou terapia psicológica em razão da pandemia da COVID-19 e voltou a feridas dolorosas de sua carreira.
"A versão curta desta história é que eu tive um relacionamento inadequado e prejudicial com meu treinador (Don Candy) muito mais velho, que começou quando eu tinha 17 anos e durou pouco mais de cinco anos", iniciou a ex-tenista que decidiu contar em detalhes a história para servir de alerta para jovens tenistas e suas famílias. "Não foi fácil descobrir o que aconteceu, mas acredito que essa é uma questão importante e que precisa ser trazida à tona", declarou.
Pam Shriver conta que conheceu Don Candy quando tinha apenas 9 anos e que passou a treinar com ele entre os 11 e 12 anos de idade. Ela destaca em seu relato o quanto era "divertido" estar com Candy e "seu peculiar humor australiano". O trabalho diário, a alegria trazida e a proximidade fez com que a menina Shriver "caísse de amores" pelo treinador.
Adiante no relato, Pam se recorda em detalhes quando se declarou para o treinador, que era casado. Ela ressalta que ele claramente "não sabia o que fazer" diante da situação e que tendo em suas mãos "um talento muito promissor", Candy optou por não afastar Shriver e seguir a treinando. Foi então que a relação dos dois passou a ser amorosa.
Shriver assume, com bastante dor, que era amante de seu treinador e que a presença, mesmo que rara, de Elaine (esposa de Candy) em torneios lhe custavam e lhe causavam muito ciúme.
"De fato, Elaine era adorável. Eu não acho que ele soubesse o que estava acontecendi. Se sabia, mantinha para si. Mas todas as vezes que ela aparecia, tínhamos que mudar completamente a maneira como estávamos coexistindo", destaca.
Shriver ainda pontua que jamais foi abusada sexualmente por Don Candy, destaca que o tipo de violência que ele exerceu foi 'psicológica', dada a condição de que ele a prendeu a si e também porque ele acabou moldando sua forma de enxergar relações pessoais e amorosas.
Pam destaca sua situação, no início dos anos 1980 durante o torneio de Montreal, em que a ex-tenista Virginia Wade lhe perguntou diretamente: "Você e Don estão tendo um caso?".
Segundo Pam Shriver, a informação de que ela e o treinador estava tendo uma relação se espalhou no circuito. "Você pode perguntar por que ninguém estendeu a mão para me ajudar. Naquela época, porém, havia muitos outros relacionamentos confusos no circuito. Os casos amorosos entre jogadoras e treinadores se normalizaram. Eu só tinha que lidar com essa situação confusa da melhor maneira possível".
Pam Shriver relata que teve dificuldades de encerrar a parceria com Candy, aos 22 anos, dado laço amoroso entre os dois, porém, conseguiu e ele não "resistiu" à mudança. Ela relata que com os treinadores posteriores a relação foi mais distante e que teve seus melhores anos da carreira.
"Na verdade, continuei usando Don como consultor de treinamento, porque ele era muito perspicaz sobre o meu jogo. Porém, nem ele nem, eu tentamos reacender nada - algo pelo qual darei crédito a nós dois", pondera.
Shriver compreendeu que mesmo sem ter sido sobre uma violência de assédio ou sexual, a violência emocional imposta por Don Candy moldou a forma como ela encarou homens a sua vida toda, afetando sua vida amorosa e profissional. Pam destaca que é desta relação que nasceu sua "predileção" por homens mais velhos. Shriver é viúva do ex- executivo da Disney, Joe Shapiro que era 16 anos mais velho e é divorciada do ator australiano George Lazenby, 23 anos mais velho.
A ex-tenista, dona de 21 títulos do Grand Slam nas duplas femininas, 18 deles ao lado de Martina Navratlova, ressalta a necessidade de contar sua história para que tenistas homens e mulheres, em especial os mais jovens, se atentem para os laços que constroem e com a forma em que aceitam "se tocados fisicamente" dentro do ambiente do tênis.