O Mid-Sunday, uma das principais tradições de Wimbledon, faz sua despedida nesta edição de 2021 após mudanças provocadas por Sally Burton, que assumiu a diretoria do All England Lawn Tennis Club, que organiza o evento.
Poucos sabem o motivo da tradição e do porque não se jogar no domingo do meio do torneio. O caso surgiu na década de 1980. Até 1981, o torneio sempre terminava no sábado. Por exemplo, a grande final de Bjorn Borg e John McEnroe que foi disputada em um sábado. Isso porque os moradores do bairro de Merton exigiram folga das autoridades depois de todo o alvoroço gerado pela comemoração do evento, conforme apontado pela BBC.
Porém, os organizadores do evento perceberam a oportunidade de negócios que tinham ao colocar a final feminina um dia e a masculina no outro, então apostaram em estender a finalização do torneio até o domingo, a partir de 1982. Isso gerou fúria em bairro, muito influente no dia-a-dia da área e do clube, algo que ainda hoje se verifica quando existe uma portaria municipal que proíbe a realização de jogos a partir das 23 horas locais. Na ocasião, os moradores aceitaram que o torneio fosse estendido por mais um dia, mas desde que ficassem sem atividade na área no domingo da primeira semana, para descanso e reflexão dominical.
A AELTC acabou aceitando a medida de bom grado, pois lhes permitia respirar um dia inteiro às sensíveis quadras de grama e buscar tratamentos que melhorassem suas condições para a última semana de competição. A consequência direta foi a criação de mais um dia mítico e único em Londres: a Manic Monday, ou seja, a concentração das 16 partidas das oitavas de final do masculino e feminino.
Por quase 30 anos, o Mid-Sunday tem sido um dia agitado para os jardineiros e cuidadores de quadra do clube, que se esforçam para fornecer horas de qualidade à grama. A calma se respira de fora, com os moradores desta área afluente podendo desfrutar de suas rotinas de domingo e os jogadores absorvendo a cultura britânica do bairro com um dia disponível para descanso. A AELTC também organiza ambiciosos programas sociais para aproximar o tênis dos mais desfavorecidos, sempre apresentando projetos de inclusão muito ambiciosos tendo o esporte da raquete como protagonista.
Esta não é uma tradição inviolável, já que até quatro ocasiões teve que ser disputada devido à chuva persistente dos dias anteriores que atrasou o desenvolvimento do torneio. Foram em 1991, 1997, 2004 e 2016. Naquela época, o clube aproveitou para colocar ingressos muito baratos e o atendimento do público foi massivo, criando um ambiente único que muitos protagonistas reivindicaram como o mais especial já vivido no torneio .
"Os jogos que joguei no Mid-Sunday foram os mais incríveis da minha carreira", declarou Tim Henman. No que diz respeito a 1991, Jimmy Connors ou Gabriela Sabatini são alguns dos que experimentaram na própria carne o clima especial que se respirava no clube, muito menos silencioso e imponente do que o habitual, visto que hoje em dia os lugares reservados às mulheres das classes altas britânicas sociedade são colocados à venda por uma pequena taxa, conforme indicado por tennis-buzz.com.
A nova diretriz que marca o futuro do torneio, liderada por Sally Bolton, quis dar ao torneio uma identidade renovadora e busca implementar novas medidas mais em linha com os tempos vividos. Condensar tantas partidas de qualidade em um mesmo dia e deixar um dia inteiro sem atividade é um óbvio fardo econômico para o torneio, que afirma ter tomado a decisão após consulta a muitos torcedores, e tendo em mente projetos que permitem o acesso ao tênis das pessoas com baixa renda e circunstâncias sociais adversas, embora não haja nada de concreto ainda.