O australiano ex-número 1 do mundo no Tênis em Cadeira de Rodas, Dylan Alcott, acusou a organização do US Open de "discriminação nojenta" por tomar unilateralmente a decisão de não realizar a disputa em cadeira de rodas este ano.
Alcott causou furor ao fazer uma série de tweets criticando a postura da federação norte-americana de tênis (USTA) organizadora do US Open, bem como seu corpo diretivo.
"Acabaram de anunciar que o US Open continuará SEM o tênis de cadeira de rodas. Os jogadores não foram consultados. Eu pensei que tinha feito o suficiente para me qualificar: bicampeão, número 1 do mundo. Mas, infelizmente, senti falta da única coisa que importava: poder andar. Discriminação nojenta!", escreveu no Twitter.
"E, por favor, não me diga que sou um 'maior risco' [grupo de risco] porque sou deficiente. Tenho com deficiência sim, mas isso não me deixa doente. Eu sou mais apto e saudável do que quase todo mundo lendo isso agora. Não há riscos adicionais", seguiu.
"E com certeza há coisas muito mais importantes acontecendo no mundo, mas essa escolha [de ir ou não aos Estados Unidos jogar] deveria ter dependido DE MIM. É uma discriminação flagrante para pessoas físicas capazes de decidir em meu nome o que eu faço com a minha VIDA E CARREIRA, apenas porque sou deficiente. Não esta bom o suficiente US Open", completou.
Mais tarde, em entrevista à TV australiana, Dylan revelou estar "tomado de fúria" quando escreveu os tweets, porém não retirou nada do que disse. O atleta voltou a afirmar que nenhum atleta do Tênis em Cadeira de Rodas foi consultado sobre o que pensava da realização ou não do US Open 2020 para a categoria, numa flagrante discriminação.
"É como se eles pensassem: 'Ok, temos de fazer o torneio e vamos aqui fazer a chave masculina de simples'. Não teria a chave feminina por quê? Isso é discriminação. Todos somos atletas. Estou com a mão toda ferida, pois tenho treinado muito duro nos últimos dias para não ter torneio', desabafou.
O tenista utilizou a audiência do The Project para explicar que sua luta pela realização do US Open para sua categoria vai além de si: 'Eu dediquei a minha vida a mostrar que pessoas com algum tipo de deficiência está apto a fazer o que desejar fazer, com alguma diferença, mas capaz. Eu luto para ser exemplo para as crianças, que hoje nas escolas se sentem menores por terem algum tipo de deficiência. Mas nós vamos lá, alcançamos nossos espaços e a sociedade é um espaço que para uma entrevista de emprego você preenche uma ficha e sendo deficiente tem que preencher várias outras, pra se mostrar capaz. Isso é discriminação. É travar oportunidades", comentou.
Dylan Alcott tem 29 anos e foi medalhista paralímpico nos Jogos de Pequim (2008) e Londres (2012) defendendo a seleção de basquete em cadeira de rodas da Austrália. Posteriormente dedicou-se ao tênis, onde em simples conquistou nove títulos do Grand Slam, dentre eles o bicampeonato do US Open (2015 e 2018). Nas duplas, conquistou outros seis títulos de Grand Slam e era o atual campeão do US Open ao lado do britânico Andy Lapthorne. Este ano, Alcott foi campeão do Australian Open em simples e duplas. Nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro (2016), o australiano foi ouro em simples e duplas.
Just got announced that the US Open will go ahead WITHOUT wheelchair tennis.. Players weren’t consulted. I thought I did enough to qualify - 2x champion, number 1 in the world. But unfortunately I missed the only thing that mattered, being able to walk. Disgusting discrimination
— Dylan Alcott (@DylanAlcott) June 17, 2020
And for sure there are far more important things going on in the world, but that choice should’ve been up TO ME. It is blatant discrimination for able bodied people to decide on my behalf what i do with my LIFE AND CAREER just because I am disabled. Not good enough @usopen
— Dylan Alcott (@DylanAlcott) June 17, 2020