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Treinador de Thiem fala de pupilos, nova geração e pede redução do calendário

Sábado, 24 de fevereiro 2018 às 08:30:00 AMT

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Tênis Profissional

Por Marden Diller – Conhecido como o ‘lapidador de diamantes’ do circuito da ATP, o espanhol Galo Blanco esteve no Rio de Janeiro acompanhando seu novo pupilo, Dominic Thiem, na disputa do torneio carioca. Simpático, o treinador conversou com exclusividade com o Tênis News.



Ex-tenista profissional, Galo Blanco é espanhol, tem 42 anos e  chegou a ser o 40º do ranking da ATP em 1998. Na carreira soma,  o título do extinto ATP de San Marino em 1999.

Após sua aposentadoria, em 2006, o espanhol se dedicou à carreira de treinador, trabalhando com nomes como Feliciano Lopez, Jurgen Melzer, Milos Raonic a quem tirou do top 200 e levou ao top 10 e, agora Dominic Thiem, a quem veio acompanhar no Rio Open, além de promessas do tênis russo. O trabalho com tais estrelas do circuito lhe rendeu o título de ‘lapidador de diamantes’.

Com exclusividade, Galo Blanco falou com o Tênis News em um bate papo pra lá de descontraído, iniciado em uma conversa sobre a partida em Barcelona e Chelsea, válido pela UEFA Champions League.

 

Tênis News: É sua primeira vez no Rio de Janeiro, você está gostando da nossa cidade?

Galo Blanco: Eu estou gostando muito da cidade, gosto muito do Brasil. Já estive em muitos lugares por aqui, mas nunca no Rio. É sempre muito agradável vir ao Brasil. Estou gostando bastante do clima, o prefiro assim quente e úmido que frio.

 

TN: Você está trabalhando com Thiem desde o início da temporada e que tipo de trabalhos você está fazendo junto com (Günther) Bresnik para elevar seu nível de jogo e quais os objetivos da equipe para a temporada?

GB: No final do dia estamos tentando trabalhar apenas. Eu, particularmente, não gosto de traçar objetivos à longo prazo. Gosto de viver um dia de cada de vez, um torneio de cada vez. Pensar no que vamos trabalhar hoje, no que vamos trabalhar amanhã, o que podemos melhorar hoje. Acho que no final das contas é assim que podemos seguir melhorando a cada dia.

O bom do Dominic é que ele ainda tem muito espaço para melhoras, mesmo sendo já um dos melhores jogadores do mundo; e é nisso em que estamos focando nosso trabalho, ele precisa ser mais sólido, mais consistente, manter seu nível mais alto por mais tempo em quadra.

 

TN: Ele claramente vem tendo melhores resultados no saibro, então me perguntei se o objetivo principal do trabalho de vocês não seria buscar melhores resultados na quadra dura ou na grama.

GB: Não, para ser honesto, ele é realmente mais bem-sucedido no saibro, mas acredito que ele possa jogar em qualquer piso. Hoje as quadras não são como no passado, quando as quadras duras eram rápidas, as cobertas eram muito rápidas e a grama a mais rápida, hoje é tudo mais lento e é muito fácil de jogar da linha de base. É verdade, é um fato que ele tem mais vitórias no saibro do que em qualquer outra superfície...

 

TN: E ele, inclusive, já comentou que é sua superfície favorita.

GB: Sim, com certeza. Mas essa é uma coisa, outra coisa é entender o porquê ele não está tendo os mesmos resultados em outros pisos. Como eu disse, é um fato que ele tem muito sucesso no saibro, mas uma vez que ele comece a acreditar mais que ele pode ir melhor em outras superfícies, os resultados virão.

 

TN: Sobre isso de acreditar mais, ele já é um jogador estabelecido entre os 10 melhores do mundo de forma bastante sólida. Você acredita que, em razão da pouca idade, o tempo poderá trazer essa confiança da qual ele necessita?

GB: Todo jogador, conforme envelhece ganha mais experiência, aprende com os erros. Ele entende mais a forma como deve jogar e competir contra diferentes jogadores.

 

TN: Ano passado ele fez sua primeira semifinal e final de Masters 1000, então as coisas ainda são novas para ele.

GB: Sim, em Madri, inclusive. Na próxima vez não será  uma novidade para ele. Não sei se ele vencerá, mas com certeza ele jogará melhor. Sempre que você faz algo pela segunda vez, é mais fácil de fazer. Você sabe como lidar melhor com as coisas. Ele é jovem, é um dos mais jovens do top 10 e com certeza ainda irá melhorar muito com o tempo.

 

TN: Agora eu gostaria de falar um pouco sobre sua academia, a 4slam Tennis. Fiz uma pesquisa e vi que vocês têm em seu cartel de jogadores nomes como (Karen) Khachanov e (Andrey) Rublev, ambos russos. Existe alguma diferença em treinar russos, que são famosos no circuito por ter um temperamento mais explosivo, como Kafelnikov, Youzhny e Safin?

GB: Cada jogador é diferente. Concordo que o país faz a diferença, pelo tipo de educação que recebem. Os dois jogadores que você mencionou, Karen e Andrey, ambos são russos e são completamente diferentes. No final das contas, todo treinador tem que tentar tirar o melhor do seu jogador. Você não vai dizer a mesma coisa para o Dominic, para Karen e para Andrey, pois cada um tem seu ritmo. Talvez você consiga forçar mais um que o outro, por estar mais amadurecido ou preparado. O fato é que todo jogador é diferente, não importa se ele vem da Rússia, do Brasil, da Argentina; o mais importante é tentar tirar o melhor deles, trabalhar muito duro, pois é preciso entender que no fim das contas você tem muitos jogadores batalhando todos os dias para serem melhores que você. Da minha parte, o trabalho duro sempre teve sua recompensa.

 

TN: E o Thiem trabalha com os demais jogadores em Barcelona também? Pois seria bom repassar a experiência que ele tem para os mais jovens, como é o caso do Karen e Andrey, que têm 21 anos e estão subindo de nível agora.

GB: Dominic não, sua base é na Áustria e é lá onde ele trabalha com Günter (Bresnik). Nesta pré-temporada, por exemplo, nós trabalhamos todos juntos em Tenerife, na Espanha, e após a Austrália ele voltou para a casa e disputou a Copa Davis. Encontramos-nos novamente apenas na viagem para Buenos Aires. Na base, em Barcelona, temos Khachanov e Rublev que ficam por lá todo o tempo.

 

TN: Mas o Dominic tem algum contato com eles de modo que ele possa passar para os dois mais novos – que têm apenas 21 anos – um pouco de sua experiência no circuito?

GB: Essa experiência eles pegam sim uns com os outros, mas é algo que eles pegam também com outros atletas do circuito, como quando vão assistir aos jogos de Federer, Nadal e Djokovic, por exemplo. Eles aprendem muito assistindo esses outros caras jogando.

 

TN: Durante a minha pesquisa, eu apurei que Karen Khachanov é treinado por Vedran Martic e a internet também mostrou que você trabalhava com ele igualmente. Vedran é o novo treinador do russo ou apenas alguém viajando com ele enquanto você se divide entre os demais?

GB: Eu viajei com ele nos últimos três anos e meio, e em novembro decidimos encerrar nossa parceria. Vedran era quem treinava ele antes de mim e Karen me disse que gostaria de viajar com ele e pediu permissão para seguir treinando na academia. E como desenvolvemos uma ótima relação após três anos e meio de trabalho, eu permiti. Então hoje eles trabalham juntos e utilizam nossa estrutura. Hoje eu ajudo também o Andrey (Rublev) que é treinado pelo meu sócio na academia, Fernando Vicente, que viaja com ele por 18 semanas no ano e o restante viaja comigo. Em Acapulco, por exemplo, estaremos todos juntos: eu, Fernando (Vicente), Dominic e Andrey. É algo muito bom para o desenvolvimento deles, estão jogando muito bem, têm um bom relacionamento, respeitam um ao outro.

 

TN: Eu vi que vocês recebem na 4slam jogadores de diversos países assim como treinadores que não são apenas espanhóis. Em sua opinião, o que leva tantos jogadores a buscar a cidade de Barcelona como base para suas carreiras?

GB: A primeira coisa é que temos muitas quadras de tênis, o tempo também ajuda bastante, temos pouquíssimos dias de chuva, o que facilita a prática do esporte em quadras abertas, por quantas horas você quiser. Nos últimos 25 anos, tivemos jogadores buscando Barcelona para basear seus treinos, então é muito mais fácil de encontrar parceiros de treino em alto nível. E é como eu digo, trabalhamos muito duro e sem trabalho duro é impossível chegar a qualquer lugar.

 

TN: Você teve muitos pupilos em sua carreira como treinador: Feliciano Lopez, Milos Raonic, Jurgen Melzer e agora Dominic Thiem, todos jogadores com estilos bastante diferentes, como foi trabalhar com jogadores tão diferenciados?

GB: É o mesmo que falei anteriormente sobre mentalidade. Cada jogador é diferente e você precisa tirar o melhor de cada um deles. Não é como se eu fosse fazer todos jogarem como eu joguei, é preciso analisar e avaliar cada um deles e ver o que é melhor para cada um deles e escolher um ponto de onde partir com o trabalho.

 

TN: Sobre Raonic, não sei se vocês ainda tem contato.

GB: Sim, nós somos amigos, temos uma boa relação, sempre nos vemos. Foram três anos e meio juntos e quando você passa tanto tempo com alguém fica impossível não desenvolver uma relação de amizade.

 

TN: Precisamente, você o levou de fora do top 200 para dentro do top 10, foi um trabalho incrível. Atualmente ele está  lutando contra diversas lesões, você acredita que ele conseguirá retornar ao seu melhor nível?

GB: Claro que pode! Se ele estiver saudável, claro. O único problema que ele está tendo é a falta de consistência para jogar diversos torneios seguidos e isso tira um pouco de sua confiança física, este é o problema. Alias, é um dos principais problemas com os atletas em geral, se eles não conseguem manterem-se saudáveis não conseguem atingir seu maior nível.

 

TN: Em sua opinião, de treinador e ex-jogador, o circuito é tão pesado quanto Raonic, Nadal e muitos outros jogadores falaram?

GB: No fim todos são livres para escolher quantos e quais torneios disputar. Para mim estamos iniciando o ano muito cedo e acabando muito tarde, por exemplo, este ano iniciamos a temporada 2018 no dia 25 de dezembro, sendo que terminamos a temporada 2017 no dia 28 de novembro, então tivemos apenas um mês para descansar e trabalhar. Os jogadores querem e precisam descansar e acaba sobrando muito pouco tempo para eles descansarem.

 

TN: Milos inclusive reclamou disso em 2017, que todos os tenistas que encerraram o ano de 2016 no top 5 estavam lesionados ou foram obrigados a encerrar sua temporada mais cedo para ter algum descanso e tempo para se recuperar.

GB: É verdade, o calendário é muito apertado, mas também é  verdade que todo mundo pode jogar o quanto quiser ,ninguém é obrigado a jogar todos os torneios do circuito. O problema é que se você não jogar não ganha pontos e não sobe no ranking. Para mim, eles deveriam reduzir o calendário e tentar encerrar a temporada em outubro, para que os jogadores possam ter mais tempo para preparar suas temporadas.

 

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