Por Marden Diller e Marcello Neves – Pela primeira vez no Brasil, um torneio recebeu o desafio eletrônico da ATP – o famoso Hawk-Eye – e conseguimos ir até a torre de transmissão para saber mais sobre esse recurso que mudou a cara do tênis na última década.
Desenvolvido ainda em 2001 pela empresa britânica Roke Manor Research Limited, o Hawk-Eye foi testado pela primeira vez no tênis durante o Nasdaq-100 Open de 2005, em Miami – torneio que hoje recebe os Masters 1000 e WTA Premier de Miami – e aprovado ainda no mesmo ano.
Seu uso foi amplamente adotado no circuito mundial a partir de 2007, quando todos os torneios de Grand Slam implementaram o recurso – sendo que o US Open de 2006 foi o primeiro dos quatro Majors a abraçar a inovação. Desde 2011, a Hawk-Eye Innovations Ltd. pertence à Sony Europe.
Durante as partidas, o desafio eletrônico pode ser chamado para contestar uma marcação do juíz de linha ou de cadeira. Cada jogador tem direito a três desafios errados por set e a tecnologia é utilizada apenas em torneios de quadras duras e grama, já que no saibro a marca da bola na quadra permite a visualização.
No Brasil, a tecnologia do desafio eletrônico faz sua primeira aparição na edição 2018 do Rio Open, está sendo usada apenas para as transmissões televisivas, fornecendo estatísticas e outros dados das partidas.
George Hughes, vice-chefe da companhia e um dos operadores do desafio eletrônico no circuito profissional de tênis, conversou com o Tênis News sobre o sistema do recurso eletrônico.
Tênis News: Você pode nos explicar um pouco como é o funcionamento do Hawk-Eye?
George Hughes: “São 10 câmeras ao redor da quadra, todas elas repassam para um computador que faz o traçado da bola. São linhas verdes que mostram precisamente onde a bola está e o trajeto que ela faz em tempo real. Toda essa informação é reunida e repassada para outro computador, que não os traçados em tempo real, mas mostra toda a distância percorrida pela bola, velocidade e outras estatísticas. Um terceiro computador separa toda essa informação e repassa para os diretores de TV, comentaristas, para repassar a melhor informação possível para quem está assistindo em casa”.
TN: Neste torneio vocês estão utilizando o Hawk-Eye apenas para as transmissões pela TV, correto?
GH: “Estamos usando principal para a transmissão de TV, ajudamos os comentaristas a contar melhor, para quem está em casa, a história de quem está vencendo ou perdendo. Nós também reunimos estatísticas das partidas e cedemos ao torneio, que repassa para os jogadores, de modo que isso pode ajudá-los a entender onde eles erraram e porque perderam ou o que fizeram de certo que os levou à vitória. Nós fizemos isso já em alguns torneios, todos Masters 1000 e alguns 500 também que requisitaram o serviço. É como se fosse um sumário completo da partida, pois você tem todos os golpes, velocidades, estatísticas. Nós também temos uma câmera que faz filmagens em câmera lenta. Ela também nos permite colocar um layout com estatísticas sobre a filmagem, então podemos mostrar de onde o tenista está batendo seus golpes e comparar com seu adversário.
TN: E vocês conseguem inserir altura, velocidade e outros dados também nesse layout?
GH: “Correto, podemos calibrar essa câmera de acordo com nossa vontade e demonstrar todas as estatísticas que desejarmos. Para fins de transmissão é algo realmente muito interessante”.
TN: Você poderia me falar um pouco sobre o custo de implementação deste tipo de tecnologia no torneio?
GH: “Infelizmente não creio que possa falar com você sobre isso, não é da minha alçada”.
TN: Nem o custo de operação do sistema?
GH: “Nós oferecemos o serviço por semana e o torneio paga esse preço, infelizmente também não posso revelar os valores dos contratos”.
TN: Existe algum plano de utilizar esse sistema em outros torneios de quadras de saibro? Pois é algo que vemos mais comumente em torneios disputados na quadra rápida ou na grama.
GH: “Na verdade não é muito comum o Hawk-Eye no saibro, não é uma superfície que use esse recurso. Mas estamos presentes já em alguns torneios da gira de saibro, temos duas quadras em Monte Carlo, três quadras em Madri e três em Roma, todos torneios Masters 1000, e todas para geração de estatísticas e para marcação de bolas duvidosas, mas nenhuma para o desafio em quadra. Também estivemos no WTA de Stuttgart ano passado também, que é no saibro e em Roland Garros. Estamos começando a aparecer mais nos torneios de saibro pela amplitude de estatísticas que conseguimos gerar para as transmissões. As pessoas acham que o hawk-eye serve apenas para marcação de bolas duvidosas, mas existe muita coisa mais interessante que podemos fazer com esse recurso”.
TN: No NextGen Finals, no ano passado, a ATP testou o hawk-eye como substituto para os juízes de linha. Existe alguma diferença entre esse equipamento que está sendo usado aqui e o que foi usado em Milão?
GH: “A maior diferença é que nós também usamos a tecnologia de foot fault. Então temos mais seis câmeras ao redor da quadra, focando apenas nas linhas de fundo e um oficial que fica monitorando um computador que mostra as seis câmeras e ele pressiona um botão que informa ao juiz de cadeira de que houve um foot fault. Esta é, sem dúvidas, a única grande diferença, o resto é basicamente o mesmo, até onde eu sei, eu não estive em Milão no último ano. Mas as chamadas de linha são muito parecidas, tudo é instantâneo, mas nesse caso você tem um bipe alto e as informações são enviadas em tempo real para um telão na quadra e assim podemos mostrar a chamada de acordo com o pedido do atleta ou se for uma bola de fim de ponto”.
TN: Lembro que no último ano a ATP divulgou uma nota falando sobre inovações tecnológicas que eles planejavam implementar à partir da temporada 2018 para melhorar a interação do espectador com a transmissão dos jogos. Essa implementação do Hawk-Eye em torneios no saibro faz parte deste pacote?
GH: “Não sei o que dizer por parte da ATP, mas a nossa mentalidade no hawk-eye é justamente essa de ceder a melhor experiência possível ao espectador, aos fãs e aos jogadores, cedendo chamadas de bolas precisas e rápidas”.
TN: Nós já vimos em alguns torneios que o desafio eletrônico parou completamente de funcionar. O que causa esse tipo de problema?
GH: ”Depende do problema. Pode ser uma queda de energia, que foge ao nosso controle, e reseta todo o sistema; prefiro não especificar, mas é claro que estamos sempre realizando testes em todos os torneios, sempre buscando inovar e dificilmente temos problemas. Somos uma empresa bastante pró-ativa e se vemos algum problema, não o ignoramos, fazemos sempre o melhor para garantir que isso não ocorra novamente”.
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