Reportagem veiculada ontem pelo canal de TV australiano ABC traz novas revelações sobre venda de resultados de jogos no tênis. Dentre as descobertas da ABC, há uma "lista negra" com nomes de mais de 350 jogadores supostamente envolvidos com corrupção.
A reportagem do programa Four Corners é assinada por três respeitados repórteres esportivos, com trabalhos também de linha investigativa - Linton Besser, Justin Stevens e Joel Tozer -, e aponta que mais de 40 jogadores (homens e mulheres), foram apontados como suspeitos de apostas viciadas, para partidas realizadas entre setembro e novembro de 2015. Estes jogos seriam de competições realizadas em países como Colômbia, Marrocos, Rússia e Alemanha.
Destes os 40 jogadores, ao menos 20 já tiveram seus nomes denunciados às autoridades do tênis por suposta prática de venda de jogos em outras oportunidades. 12 deles, apareceram na primeira grande investigação de integridade do tênis realizada em 2008. 10 deles disputaram alguma das chaves do Australian Open.
A lista negra de proteção de apostadores
A reportagem da ABC teve ainda acesso a uma "lista negra", que é mantida por um apostador europeu, com nome de mais de 350 tenistas 'não confiáveis' por não jogarem para vencer.
A lista impressa foi entregue pela equipe de reportagem ao presidente da Federação Internacional de Tênis (ITF), o norte-americano David Harggety, que disse: "Isso é algo que nossa equipe tem que investigar e seguir. Estou certo que estão fazendo isso".
Ainda de acordo com a reportagem, da lista se tira dois jogadores australianos de baixa classificação no ranking, mas a maioria os nomes são provenientes de economias em desenvolvimento da América do Sul, Ásia e Leste Europeu.
Esta lista também inclui o nome do espanhol David Marrero, que recentemente foi envolvido numa polêmica, após a casa de apostas Pinnacle Sports suspender as apostas a serem feitas na partida de duplas mistas que ele jogou ao lado da compatriota Lara Arruabarrena contra o polonês Lukasz Kubot e a tcheca Andrea Hlavackova pela chave de duplas mistas do Australian Open.
O argumento da casa de apostas para o cancelamento era o alto número de lances em grandes montantes de dinheiro, para uma partida que geralmente movimentaria bem menos apostadores.
O presidente da ITF ainda disse à reportagem do Four Corners: "Jogadores de todos os níveis estão vulneráveis a corrupção".
Há cinco dias, junto ao CEO da Associação dos Tenistas Profissionais, Chris Kermode, o CEO da Associação das Tenistas Profissionais, Steve Simon, Haggerty anunciou a revisão do 'regime de integridade do esporte' a ser feita pelo conceituado advogado londrino Adam Lewis QC.
A chamada para a revisão, a terceira em 11 anos, foi feita após a repercussão global da reportagem da BBC e BuzzFeed News Agency denunciando que tenistas top 50 estariam envolvidos em venda de resultados.
Decepção
A reportagem da ABC ouviu ainda Richard Ings, australiano, que hoje comanda a agência antidoping de seu país, mas que em 2005 atuava como executivo da ATP e emitiu um relatório em que argumentava que sucessivas performances abaixo no normal feitas de maneira deliberada era mecanismo de corrupção no esporte e exatamente por isso sugeriu o estabelecimento de um código anti-corrupção.
Ings ainda apontou 37 partidas com alta suspeita, mas viu sua proposta ser enterrada, pois apesar do estabelecimento do código de integridade do tênis, as punições não poderiam ser retroativa.
Além do australiano que viu seu trabalho ser ignorado, a seu modo de ver, Mark Phillips, analista de apostas da Global Sports Integrity - empresa particular de consultoria que visa a integridade do esporte e tem em seu trabalho 'proteger' as casas de apostas destas vendas casadas.
Phillips atuou como um dos investigadores de dados em 2007 e 2008, disse ao canal de TV que "se tivesse seguido com a investigação, à época, o tênis poderia ter erradicado esse problema".