Juan Martin Del Potro publicou um vídeo de doze minutos contando todo o drama do final de sua carreira e trazendo revelações antes de sua exibição contra Novak Djokovic que acontece neste domingo em Buenos Aires.
Delpo comentou que chegou a passar ao todo por oito cirurgias, algumas delas que não tornou públicas. Ele havia se retirado do circuito em fevereiro de 2022 em Buenos Aires.
"Quando joguei o último jogo com o Delbonis as pessoas não sabiam disso, mas no dia seguinte peguei um avião para a Suíça e fiz novamente uma cirurgia no joelho, foi a minha quinta cirurgia. A partir daí nunca mais tornei minhas cirurgias públicas. Quando na conferência de imprensa anterior ao jogo com o Federico eu disse que provavelmente este seria o meu último jogo, aí encontrei um pouco de paz e rompi com algo que me acontecia constantemente, que era: 'Delpo, quando é que voltas a jogar? Quando vou ver você em um torneio?' Mas eu não aguentava mais a dor nas pernas. Lá eu preferi continuar discreto, em segredo, e se der certo eu voltarei mesmo.
O relato emocionante e dramático de Del Potropic.twitter.com/eTco1AbWoR
— Site Tenis News (@tenisnewsbrasil) November 26, 2024
Fui automaticamente para a Suíça, fiquei lá cerca de dois meses trancado numa cidade perto de Basileia. Eles me operaram, fizeram reabilitações, mas não deu certo. Depois de dois meses e meio me disseram que faltava mais alguma coisa, que tínhamos que operar novamente. Sexta operação. Depois fui para os Estados Unidos e continuei a reabilitação, entre cirurgias tentei tratamentos, devo ter tomado mais de 100 injeções na perna, quadril e costas. Eles me infiltraram, me tiraram, me analisaram, queimaram meus nervos, bloquearam meus tendões... um sofrimento diário que eu tenho aí. Foi assim que venho daquele dia com Federico até hoje. Aquela partida foi para me despedir do tênis, não é mais assim, realmente não tenho mais esperança de voltar a jogar porque meu corpo não permite.
Quando fiz a primeira operação, o médico me disse que em três meses eu poderia voltar a jogar, em junho de 2019. Fui notado nos torneios de Estocolmo, Basileia e Paris porque o médico me disse que eu estava bem com os horários para jogar.. Depois daquela primeira cirurgia, até hoje nunca consegui subir uma escada sem dor. Muitas vezes me dói dormir, quando viro de lado, ou quando acordo porque tenho perfurações que são muito feias. Tem sido como um pesadelo sem fim que todos os dias continuo a insistir em procurar soluções e alternativas, mas não consigo encontrá-las. Tudo começou naquela primeira cirurgia... toda vez que penso nisso gera muita emoção ruim, me deixa com muita raiva, muito desamparado, mas não consigo mudar.
Sinto que tenho que contar como estou porque me faz bem, sempre tive ligação com o público e talvez essa mensagem possa inspirar ou ajudar outras pessoas. Como conto meu dia a dia, não é isso que eu quero. Eu era um cara muito ativo que gostava muito de praticar esportes, não só de jogar tênis. De repente me convidam para jogar futebol e sou eu que carrego o companheiro e sento lá fora, ou eles vão jogar paddle e eu sou o cara. Além disso, do ponto de vista esportivo, tiraram minha esperança de fazer o que sempre gostei de fazer, que foi jogar tênis.
É muito difícil ter que se preocupar com tudo 24 horas por dia, é muito complicado. Tem hora que não tenho mais vontade, não sou indestrutível, sou como qualquer pessoa que tem coisas boas e coisas ruins, mas tenho aquele plus que muitas vezes tenho que fazer uma cara boa em certos situações. Às vezes não tenho mais energia, a coisa da perna me consome muito, tudo me consome emocionalmente porque não só estou naquela busca de melhorar, mas também sofro a cada dia. Levanto e tomo entre 6 e 8 comprimidos, entre um protetor gástrico, um antiinflamatório, um analgésico e outro para ansiedade. Perder peso? Mas a medicação me faz ganhar peso. Agora não coma açúcar e não coma farinha, mas o que isso tem a ver com meu joelho? Sim, pensei que pesasse 95kg e doía subir as escadas. Todas essas coisas que te incomodam com médicos e pessoas que te atrapalham e te falam: 'Vem, eu tenho a máquina que resolve tudo.'
Uma coisa são as pedras que podem aparecer pelo caminho, como lesões, que para um atleta é a coisa mais complicada, mas outra coisa é a dor emocional. Me senti muito poderoso e muito forte ao enfrentar aquelas pedras que me apareciam e que sempre bati nelas dentro do razoável... Achei que era forte mas, no final das contas, percebo que não sei se consegui sou tão forte. Com a questão do joelho sinto que ganhei… e fiz 8 cirurgias. Fui com médicos de todo o mundo, gastando uma fortuna. Cada vez que me davam anestesia eu sentia que a operação estava indo bem, que não ia doer mais, que iria mudar tudo em Tandil. Depois de três meses tive que ligar para o médico para avisar que não deu certo, que estava como sempre. Só colocaram uma agulha de 30-40 cm no meio do meu fêmur, tentando bloquear meus nervos sem anestesia, porque o médico tinha que saber se ele tinha me dado um bloqueio bom ou não, não pelo que eu sentia, então ele não tinha como me ajudar a anestesiar [...] E eu ficava gritando, pulando na maca, sofrendo aquela dor para que tudo desse certo. Mas ainda me dói, um após o outro.
Dizem-me que o problema é psicológico, mas não pode ser. Não sei porque estou envolvido nisso, às vezes não aguento mais. É terrível e não sei quando vai acabar, porque agora tenho outra grande briga com o médico que me diz: 'Coloca uma prótese e para de jogar'. Costumo dizer, tudo bem, o que a prótese me garante? Dizem que terei qualidade de vida. Ok, perfeito, é isso que procuro, não procuro mais correr ou jogar tênis com meus amigos, mas aí chega outro médico e te fala: 'Não preste atenção nele, você é muito jovem para uma prótese, espere até os 50'.
Desde os 31 anos não corro, não subo escada, não consigo chutar bola, nunca mais joguei tênis. Devo ficar mais 15 anos da minha vida assim para aos 50 poder ganhar uma prótese e viver mais ou menos bem aos 60 ? Então agora entro nessa discussão e também é péssimo, porque esses são os cenários e tenho que defini-los. Por que tenho que tomar essa decisão se você é o médico ? Agora estou envolvido nisso e espero que um dia acabe, porque quero viver sem dor.
Recomecei a dieta, venho perdendo peso, comecei a treinar porque quero estar o melhor possível para essa partida contra o Novak. É um acontecimento para dizer adeus, não há como voltar atrás. O toque final fica por conta de Djokovic, que foi muito generoso em aceitar e vir. Além do meu momento pessoal, quero que nós, junto com o povo, lhe demos muito amor, para que ele leve embora as melhores lembranças da Argentina. Se eu pudesse pelo menos ter um pouco de sossego na perna por algumas horas, retribuir alguma coisa numa quadra de tênis, seria muito bom. Poder retribuir a eles de dentro e junto com Novak todo aquele amor e carinho, para que levem embora boas lembranças daquela noite.”