Gilles Cervara, treinador do número 1 do mundo, Daniil Medvedev, explicou o destempero que teve e costuma ter com seu atleta. No último domingo, na final de Halle, na Alemanha, irritado ele abandonou a quadra após reclamações do russo.
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Não foi o primeiro episódio. Em 2021, no Australian Open contra o sérvio Filip Krajinovic, ele fez a mesma coisa. Na ocasião, Daniil conseguiu a virada em cinco sets. Desta vez contra Hubert Hurkacz não deu certo.
"Neste caso, é principalmente sobre os deslizes que tenho com Daniil. Simplesmente, ele perde a calma por causa de um detalhe ou porque o rival é melhor, ele não se acalma e aí a coisa pega fogo. Quando as coisas chegam tão longe não há nada a fazer, a única maneira de melhorar é ir embora. No meu caso, saio da pista porque não aceito essa situação”, disse Gilles que comemorou a autorização do coaching, ou seja, o atleta de comunicar com o técnico na arquibancada a partir do dia 11 de julho.
"Sou bastante a favor, sobretudo, de quebrar essa hipocrisia no ambiente e falta de coerência com as sanções aos treinadores. Às vezes o árbitro de cadeira não se atreve, de repente no dia seguinte ele se atreve a um treinamento menos chamativo. Depois, há treinadores que são multados por simplesmente dizer “vamos lá!” durante o jogo. Não era uma situação estável, não estava bem regulamentada.”
Cervara já esperava pelo anúncio da autorização: “Estávamos esperando o anúncio há algum tempo. Pelo que entendi, a decisão foi tomada após consultar vários treinadores. Fui consultado por Daniel Vallverdú, que há alguns anos tentava colocar essa iniciativa em prática. Apontei para ele que tínhamos que parar com essa hipocrisia agora, pois todos os treinadores fazem coaching em algum momento, seja com palavras ou gestos. A partir de agora, está finalmente autorizado como uma prática que existe”.
“Acho que não vai mudar muito, já que a regra não vai permitir um diálogo tranquilo, como pode haver nos treinos. No final das contas, a questão do coaching depende muito da relação pessoal entre o jogador e o treinador, o tênis é um esporte muito interno, alguns jogadores veem o treinador que fala demais como um parasita. Já me aconteceu nos jogos do Daniil, ver o treinador do rival a treinar e ter o efeito contrário, ou seja, às vezes tem sido até bom para mim”.
Ele explicou os dois tipos de coaching usados: "Existem os dois tipos de coaching, mas nem sempre eles podem ser realizados. Em quadras grandes, por exemplo, os boxes ficam distantes e os treinadores são inaudíveis, então a segunda opção é preparar outros tipos de códigos, como gestos ou outros movimentos simples. Trata-se de transmitir uma mensagem em um segundo, então você tem que tê-la muito bem estudada. Depois haverá outros momentos improvisados que ocorrerão com o desenvolvimento da partida”.
"Isso não combina muito comigo, todos os esportes individuais são esportes onde os atletas têm que encontrar soluções e onde os treinadores podem treinar, não vejo por que no tênis tem que ser diferente. Por que, sendo tênis, o técnico não pode enviar uma mensagem ao seu jogador quando ele está a quatro metros de distância na quadra ? Não entendo".
“Para mim, (a ordem do coaching) sempre vem do jogador, então nada no meu trabalho com Daniil vai mudar. Não farei mais do que antes, simplesmente continuarei fazendo as coisas para cumprir o que o rival propõe. Com essa regra, o treinador pode ter mais iniciativa, mas terá que medir se é bom para o seu jogador, se ele realmente precisa. O fato de o treinador falar não significa que o jogador será melhor, ele terá que dar a informação correta, na hora certa e da forma correta. É uma arte, às vezes é como andar na corda bamba."