Por Carlos Omaki - Ouvi falar em 2017 sobre a Francesca Jones, ela chegou à 31ª do mundo juvenil, foi bem no ranking da ITF. Sem dúvidas um grande caso de força de vontade, grande vitória, determinação e superação principalmente sobre o preconceito.
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Depois voltei a ter notícia dela em 2018, lembro que ela enfrentou tenistas brasileiras no profissional gosto até de lembrar que perdeu no terceiro set para Carol Meligeni, acabamos acompanhando a sequência dela do juvenil para a profissional trilhando o caminho todo. Ano passado ela jogou em Olímpia no torneio que foi cancelado na metade pelo início da pandemia. Venceu a primeira rodada, perdeu a segunda foi quando ouvi falar que a moça dos quatro dedos em cada mão estava jogando no Brasil. Em função dos resultados no juvenil e no profissional somando cinco títulos ITF, é o suficiente para estar entre as 240 do mundo e vi a classificação para a chave principal de um Grand Slam como ótimo resultado, ascenção muito boa, mas nada fenomenal.
É uma menina que vem trilhando todos os passos e escadas sem pular nenhum degrau, tem feito tudo o que todas as pessoas normais fazem isso sem colocar ela como fora do normal, pelo contrário, e sim com uma pessoa que demonstra ser normal pelo resultado que tem construído.
Tecnicamente falando ela não apresenta grandes dificuldades em execução nos golpes. O grande cuidado com uma atleta com essas particularidades deveria ser o trabalho de força para o braço, antebraço e mão, muita atenção com sobrecarga dos tendões principalmente , mas a máquina humana é incrível e vai realizando os ajustes. A grande vantagem que ela tem é que não se trata de uma pessoa que tinha os cinco dedos e perdeu um, onde teria muito mais problemas para o tênis se perdesse o dedo indicador do que o dedo mindinho principalmente se não tivesse um polegar que praticamente a impossibilitaria de jogar tênis. No caso dela, tem uma espécie de adaptação pessoal com um dedo médio, um indicador e um dedo mindinho além do polegar.
Particularmente acredito que ela e a equipe dela podem encontrar mais problemas até na falta de dois dedos de um pé, que é o que ela apresenta do que o problema das mãos da forma que acontece com ela. Com dois dedos a menos em um dos pés ela precisa de uma compensação grande do equilíbrio para o contato com o solo para o emprego de força para aceleração sem contar que ela sofre muito mais as ações das paradas brutas e os impactos com o solo típicas do tênis . Tecnicamente falando, as particularidades dela não impediriam uma criança ou outra pessoa a jogar tênis e atingir o bom nível porém quando se fala em altíssimo nível é claro que precisa sim um algo mais para suprir a diferenças físicas.
No trabalho da técnica específica, execução dos golpes ela não tenha adaptação técnica. Se alguém assistir uma partida da Fran e não souber de sua anomalia, não vai reparar nenhuma execução não ortodóxa ou com diferencial visual nos golpes. Novamente creio que a ênfase está muito mais na movimentação para frente e pra trás e repetição dos golpes em forma de drills com movimentação específica. O que se pode ver evidentemente é uma garra pessoal diferenciada
Tive uma jogadora que treinei que podemos relacionar com a Fran Jones, um caso bem mais complexo de uma brasileira que se formou com uma bolsa integral para universidade americana através do tênis, ela é filha de professor de tênis. Mesmo tendo nascido sem o antebraço e a mão esquerda, ela jogou tênis e superou todas as expectativas. Talita Rodrigues a deficiência gerou a necessidade de golpes e gestos completamente fora do padrão, especialmente o saque. Ela não possuía a mão esquerda para lançar a bola , uma limitação que causava problemas no desempenho, força e precisão. Embora ela tenha atingido um nível incrível para quem conheceu, chegou a ser quinta do Brasil no juvenil, casos como os dela e da Fran Jones comprovam que tudo está na dedicação, força de vontade de se seguir sonhos, ser vencedor sem ser excepcional ou sendo excepcional em uma sociedade tão repleta de paradigmas de fracasso, são sempres iniciativas a serem aplaudidas de pé.
Nos resta torcer pela Fran e quem sabe tenhamos uma futura campeã de Slam que de força de vontade ela já é uma grande campeã.
Sobre Carlos Omaki
Carlos Omaki é treinador de tênis há 38 anos. Uma das referências do tênis nacional, dono de duas premiações como Melhor Técnico das categorias de base do Tênis brasileiro, é proprietário da COT (Carlos Omaki Treinamento) tendo equipes na Academia Paulistana de Tênis, Club Athletico Paulistano e Tênis Club Paulista e com seu staff de treinadores cuida de cerca de 500 atletas na cidade de São Paulo.
Como treinador, participou não só dos começos de carreira não só de Luisa Stefani, mas também de Bia Haddad Maia, ex-top 60 mundial, e muitos outros.