Uma reportagem especial do jornal norte-americano The Washington Post, aponta que a estátua em tributo a Arthur Ashe, ex-número 1, dono de três títulos do Grand Slam, escritor e ativista humanitário, voltou a causar tensões em Richmond.
Primeiro tenista negro da história a vencer um título do Grand Slam e único negro a ser líder do ranking masculino, Arthur Ashe nasceu em Richmond, no estado da Virginia, nos Estados Unidos, que no passado foi a capital dos estados confederados - que unidos buscaram sua independência, já que o governo de Abraham Lincon recém eleito pregava o fim da escravidão no país e estes estados (Alabama, Arkansas. Carolina do Sul, Carolina do Norte,Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississippi, Texas e Virginia). A luta dos confederados gerou a Guerra Civil americana.
Dentro deste ambiente mais racista, Arthur Ashe cresceu e despontou como atleta, seguindo passos de sua predecessora, Althea Gibson, a primeira negra da história a vencer um Grand Slam.
Foto: Monumento a Arthur Ashe na Monument Avenue (Steve Helber / Associated Press)
Perto de sua morte, em 1993, o escultor Paul DiPasquale decidiu elaborar uma estátua em homenagem ao ex-tenista, que já padecia com AIDS. DiPasquale chegou a falar da estátua com Ashe, cuja viúva, Jeanne Moutoussamy-Ashe, declarou em 1996 no programa New Year’s Day, que a queria em um museu para contar a história dos atletas negros.
Quando ficou pronta, a estátua, que retrata Ashe com uma raquete na mão e um livro na outra mão ainda mais alta diante dos quatro filhos, foi levada à discussão no conselho da cidade, já que a prefeitura de Richmond queria dar o centro de uma rotatória na principal avenida da cidade, a Monument Avenue. Em sua reportagem, o Post recorda a tensão que a decisão da prefeitura causou, já que o espaço era dedicado aos cinco "heróis" confederados. No conselho municipal, apesar da tensão, Ashe venceu por unanimidade e passou a ocupar o posto central do monumento, dedicado ao mais "condecorado e reconhecido cidadão de Richamond". Um negro.
Com a crescente do movimento "Vidas Negras Importam" nos Estados Unidos, estátuas de pessoas que atuaram em prol do escravismo no país foram alvo de críticas e protestos e o prefeito da cidade, Levar Stoney, optou por retirar as estátuas dos confederados do local. Na sequência, o monumento inteiro amanheceu com pichações com dizeres "Vidas Brancas Importam", que foram limpos por cidadãos (vídeo abaixo).
A discussão na cidade de Richmond agora é sobre a remoção da estátua de Ashe. Muitos defensores da "honra dos confederados" e movimentos de supremacia branca questionam a permanência já que "outros heróis" foram retirados do monumento.
O sobrinho de Ashe, David Harris Jr, disse à agência de notícias Associated Press que não requererá a retirada da estátua, como fizeram parentes e herdeiros diretos de outros homenageados pelo país, incluindo confederados.
Diferentes grupos da cidade são favoráveis à remoção da estátua para algum dos parques da cidade, destino que tem sido pensado inclusive para as demais estátuas removidas da Monument Avenue, com descritivo maior da vida e obra dos retratados. Porém, no caso da estátua de Ashe, a família deve pedir por isso, ou o conselho da cidade se reunir para definir e este é no momento o grande impassa moral e social de Richmond, segundo o Post.
Foto principal: John McDonnell / The Washington Post