Por Ariane Ferreira - Neste 6 de fevereiro de 2018 registra-se 25 anos da morte de uma das figuras mais emblemáticas da história do tênis, o norte-americano Arthus Ashe, ex-número 2 do mundo e dono 33 títulos profissionais, três deles em Grand Slam.
Primeiro negro a ser convocado para defender as cores dos Estados Unidos na Copa Davis, Ashe era portador de Aids e faleceu em decorrência das complicações de uma pneumonia em 06 de fevereiro de 1993, aos 49 anos de idade.
Ativista primeiramente da causa negra em um Estados Unidos recém saído da total segregação racial, Ashe viveu seus dois últimos anos de vida atuando em busca de orientar as pessoas sobre o vírus HIV, suas formas de prevenção e fomentando pesquisas em busca da cura.
O tenista foi contaminado durante uma cirurgia cardíaca, na qual precisou de transfusão de sangue e alguma das bolsas utilizadas estava contaminada. Seu caso emblemático, mas não único na medicina norte-americana e mundial, ajudou a aumentar a precaução com as bolsas de sangue doadas e gerou um protocolo de 'controle de qualidade das bolsas de sangues doadas' para evitar contagio de outras pessoas.
Nos dias de hoje, esse 'protocolo' auxilia inclusive a detecção da presença do vírus em pessoas que não se conheciam doentes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A história de Ashe:
Arthur Ashe foi criado pelo pai, pois perdeu a mãe de complicações no parto de seu irmão mais novo, aos cinco anos de idade. Começou a jogar tênis aos sete, mesmo sendo motivado pelo pai a jogar o popular 'futebol americano'. Ainda no começo do aprendizado, o norte-americano chamou a atenção da Universidade de Virginia, estado onde nasceu e se criou, e passou a ser treinado pela equipe da universidade.
Robert Walter Johnson foi o mentor responsável pela formação de Ashe dos 10 aos 17 anos, e colocou na cabeça do jovem a necessidade de lutar por uma 'integração racial através do esporte'. Aos 15 anos, Ashe tornou-se o primeiro afro-americano a disputar o tradicional campeonato juvenil de Maryland. Dali em diante, Arthur Ashe quebrou diversas barreiras para afro-americanos, sendo o primeiro negro campeão nacional juvenil e o primeiro negro bolsista pelo tênis em uma universidade pública, a do estado da Califórnia. Ali, formou-se em Business em 1966.
Neste mesmo ano passou a fazer parte da equipe norte-americana na Copa Davis e entrou de cabeça no circuito.
Em 1966 e 1967 foi vice-campeão do Australian Open, sendo derrotado pelo local Roy Emerson nas duas vezes. Em 1968, na primeira edição do US Open na Era Aberta (profissional), Ashe sagrou-se campeão e tornou-se o primeiro negro a alcançar o título do Slam nova-iorquino.
O curioso é que Ashe queria seguir defendendo os Estados Unidos na Copa Davis e para isso, deveria seguir como tenista amador. Ao mesmo tempo, ele servia no exército. Por causa de tudo isso, ele declinou de receber o prêmio de campeão do US Open, à época US$ 14 mil, que foi dado ao vice, Tom Okker. Ashe ganhou US$ 20 diários para suprir suas despesas no torneio.
Mesmo assim, Arthru Ashe foi agente importante e decisivo na criação da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e na luta pela monetização e respeito aos atletas do tênis.
No ano seguinte, Ashe liderou os Estados Unidos em duelo contra a forte Romênia, de Illie Nastase e Ion Tiriac, mas na rodada seguinte teve sua entrada na África do Sul negada e não pode defender seu país. A política de segregação racial na do país africano, conhecido como Apartheid, gerou a negação de visto de trabalho para Ashe nos anos seguintes, o que fez com que ele se tornasse um dos nomes mais fortes em favor de sanções dos Estados Unidos contra a nação africana. Àquela época, o circuito contia um forte torneio realizado na nação de Nelson Mandela.
Encarando um dos primeiros problemas da era profissional, Ashe viu muitos favoritos desistirem do Australian Open por falta de garantias financeiras e venceu a edição 1970. No ano seguinte, ele foi vice-campeão na Austrália e faturou Roland Garros nas duplas ao lado de Marty Riessen.
Em 1972, por ser profissional, Ashe e outros 32 jogadores foram proibidos de jogar o circuito entre janeiro e julho, pela entidade que hoje é a ITF. Eles perderam Roland Garros e Wimbledon. Mas aí Arthur Ashe fez nova final no US Open e foi derrotado por Illie Nastase, em jogo polêmico graças as provocações do romeno, não esquecidas pro Ashe na cerimônia de entrega dos troféus.
Em 1973, Ashe liderou um boicote de jogadores da ATP a Wimbledon, que não aceitou a participação do iugoslavo Niki Pilić, porque esse se negou a jogar a Copa Davis. No ano seguinte, Ashe foi eleito presidente da ATP.
Ainda em 1973 Ashe finalmente foi autorizado a jogar torneios na África do Sul. Mesmo sabendo que a ideia do país era deixar de ser proibido de competir os Jogos Olímpicos em virtude do Apartheid, Ashe ali competiu nos anos seguintes, chegou a fazer final do torneio em 1974, mas nunca foi campeão. Seu intuito era mostrar que negros e brancos poderiam frequentar os mesmos espaços, mas ao ser proibido de comprar ingressos para "africanos", como pontuou a organização os negros do país, verem seus jogos, o norte-americano percebeu que estava errado.
Arthur Ashe assumiu em discurso público realizado no US Open 1977 que cometeu erro ao ir ao país sul-africano e reiterou apoio ao boicote do torneio a inscrição de jogadores do país. Através da imprensa, Ashe discursava pela expulsão da África do Sul da ITF e da Copa Davis.
Em 1975, dias antes de completar 32 anos, Ashe finalmente superou Jimmy Connors na carreira e de quebra venceu Wimbledon [foto destaque]. Em 1977 foi campeão de duplas do US Open ao lado de Tony Roche.
O último título profissional de Ashe foi em Los Angeles, em 1978, na sequência sofreu uma lesão no pé, passou por cirurgia, tentou retornar aos 35 anos, mas se aposentou.
Ao se retirar tornou-se comentarista e foi colunista, não apenas em assuntos ligados ao tênis, da revista Time e do jornal The Washington Post. Ashe dedicou sua vida à luta dos direitos humanos, chegou a ser preso em 1985 em um protesto contra o Apartheid e novamente em 1992 em protesto na porta da Casa Branca em favor de refugiados haitianos.
Arthur Ashe tornou pública sua luta contra a Aids em 1992. Foi introduzido no Hall da fama do Tênis em 1985 e postumamente recebeu uma das maiores honrarias dos Estados Unidos, a Medalha da Liberdade, que lhe concedida pelo presidente Bill Clinton em 20 de junho de 1993.
Sua viúva segue empunhando suas lutas através da Fundação Arthur Ashe, que foca nas lutas de prevenção e pesquisas sobre AIDS, além de trabalhar na integração social de jovens afro-americanos.