Por Ariane Ferreira - Desta quarta-feira, 08 de maior de 2018, o espanhol David Ferrer jogou tênis profissional pela última vez. Chamado de "Número 1 entre os Mortais", Ferrer deixa escrita uma das mais vitoriosas trajetórias do tênis.
Espanhol natural de Javea, também denominada Xábia, na província de Alicante, David Ferrer começou a jogar tênis para imitar o irmão mais velho, Javier, aos 8 anos de idade e aos 15 passou a fazer parte do programa de excelência da Federação Catalã de Tênis, onde se profissionalizou sob comando de Javier Piles, com quem trabalhou por 15 anos, separando-se em dezembro de 2013.
Ao lado de Piles, conquistou 20 dos seus 27 títulos profissionais, inclusive seu maior título no Masters de Paris-Bercy em 2012 e sua maior final da carreira em Roland Garros em 2013.
Foi ao lado de Javier Piles que Ferrer chegou em 07 de agosto de 2013 ao posto de número três do ranking da ATP.
Um Roland Garros histórico
Na campanha em Paris em 2013, Ferrer chegou à final sem perder nenhum set. Na estreia passou pelo australiano Marinko Matosevic (6/4 6/3 6/4), na segunda rodada pelo compatriota Albert Montañes (6/2 6/1 6/3), na terceira pelo também compatriota Feliciano López (6/1 7/5 6/4), nas oitavas de final pelo sul-africano Kevin Anderson (6/3 6/1 6/1), nas quartas pelo compatriota Tommy Robredo (6/2 6/1 6/1), na semi pelo francês Jo-Wilfried Tsonga (6/1 7/6 1(3) 6/2) e acabou derrotado na final pelo compatriota Rafael Nadal (6/3 6/2 6/3).
No saibro francês, Ferrer fez ainda semifinal em 2012, quando também perdeu de Nadal e outras quatro quartas de final.
Números brutos
Jogar finais foi algo que Ferrer fez muito, foram outras 25, além dos 27 títulos que tem, dentre estes vice-campeonatos sete são em Masters 1000 . A mais dolorosa em Miami, em 2013, quando após uma campanha com vitórias sobre o italiano Fabio Fognini, o japonês Kei Nishikori e o alemão Tommy Haas, encarou o escocês Andy Murray na final, chegou a ter match-point no décimo game do terceiro set, para o qual chamou um desafio, que foi equivocado e acabou perdendo o jogo no tiebreak.
Relembre os melhores momentos deste jogo:
Profissional desde 2000, chegou a seu primeiro título nível ATP em Bucareste, na Romênia, após derrotar o argentino Jose Acasuso. Passou quatro anos sem conquistar nenhum título, tendo jogado as finais em Sopot, na Polônia, em 2003 e Valência, na Espanha, em 2005. De 2006 a 2015, David Ferrer conquistou ao menos um título por ano.
Foi 2015 sua melhor temporada em termos de rendimento, o espanhol abriu o ano com o título em Doha, no Qatar, foi campeão no Rio Open superando Fognini, e ainda levantou os títulos de Acapulco, no México, Kuala Lumpur, na Malásia, e Viena, na Áustria.
O espanhol tem o recorde de ter disputado 50 torneios do Grand Slam consecutivos na chave principal, tendo quebrado a escrita ao desistir de Wimbledon em 2015 com uma lesão no cotovelo.
Ao todo, foram 734 vitórias e 377 derrotas na carreira, sendo 451 vitórias e 204 derrotas, apenas no saibro. Neste piso, Ferrer conquistou 13 títulos e foi nele que travou uma das maiores rivalidades de sua carreira, com o amigo e compatriota Rafael Nadal.
Foram 20 anos como profissional, 18 deles vividos entre os 150 melhores, 16 consecutivos no top 100, 13 consecutivos no top 50. Ferrer esteve entre os 10 melhores do mundo em 358 semanas, o que seria equivalente a seis anos e meio.
Ferrer foi tri-campeão em Bastad, na Suécia (2007, 2012 e 2017), tendo sido inclusive seu último título profissional. Além de tricampeão em Acapulco, no México (2010, 2011 e 2015), Buenos Aires, na Argentina (2012, 2013 e 2014) e em Auckland, na Nova Zelândia (2011, 2012 e 2013).
Além dos 13 títulos no saibro já citados, Ferrer conquistou 12 títulos no piso rápido e dois na grama de 's-Hertogenbosch, na Holanda.
Rivalidades
A rivalidade Ferrer x Nadal teve 32 capítulos, sendo seis vitórias de David Ferrer, duas delas no saibro em Stuttgart, na Alemanha, de 2004 e em Monte Carlo, em Mônaco, em 2014. Os dois decidiram oito títulos, todos no saibro e vencidos por Nadal, metade destas finais em Barcelona, que foi também palco do último encontro entre os dois, há três semanas, pelas oitavas de final.
David Ferrer teve o compatriota Nicolas Almagro como seu principal "freguês" no circuito. Em 16 encontros, David levou a melhor em 15, o mais emblemático deles válido pelas quartas de final do Australian Open, onde Almagro chegou a sacar para o jogo no terceiro set e levou a virada.
Outro freguês de Ferrer é o italiano Fabio Fognini, a quem enfrentou e venceu 11 vezes no circuito profissional. Nestes encontros, o italiano venceu apenas quatro sets, levou uma virada na semifinal em Acapulco, 2013. Os tenistas decidiram os títulos de Buenos Aires 2014 e Rio Open 2015.
O Nº 1 entre os Mortais
David Ferrer foi apelidado de "Número 1 entre os Mortais" na Argentina, em 2013, por ser o tenista mais sólido em resultados abaixo do chamado 'Big Four', o grupo que inclui Nadal, o suíço Roger Federer, o sérvio Novak Djokovic e Murray.
Além do retrospecto com Nadal, Ferrer enfrentou Federer em 17 oportunidades e nunca o venceu. Contra Djokovic foram 21 encontros, tendo o espanhol vencido cinco duelos, incluindo um jogo pela fase de grupos do ATP Finals de 2011. Contra Murray, incluindo a final em Miami, foram 20 confrontos, com seis vitórias de Ferrer, uma também na fase de grupos do Finals de 2011.
Dono de torneio
Em 2009, Ferrer aceitou o convite do amigo Juan Carlos Ferrero para entrar de sócio no empreendimento que modificaria o status do ATP 500 de Valência, na Espanha, região dos dois tenistas. O torneio tinha saído do saibro e entrado na categoria 500 precisava de nomes importantes do esporte para ter a confiança do governo local, que dava suporte financeiro em relação a estrutura e logística.
Os dois, ao lado da lenda do tênis espanhol Conchita Martinez, bancaram o torneio até 2015, quando a crise econômica retirou o aporte do governo local, o que desencorajou patrocinadores privados e forçou a empresa vender a data para Viena, na Áustria.
No piso rápido coberto de Valência, o brasileiro Thomaz Bellucci fez parte de um capítulo importante da carreira de Ferrer, que em 2014 chegou a sua 600ª vitória da carreira após bater o brasileiro pelas quartas de final em Valência com placar de 6/1 6/2. Em casa, Ferrer foi campeão em 2010 e 2015.
Criança de instituição mantida por Ferrer e Ferrero, celebram com bolo a 600ªvitória de David:
O último jogo
Vencido por uma lesão crônica no tendão de Aquiles, David Ferrer anunciou em agosto de 2018 que se aposentaria do tênis profissional. Ele escolheu o US Open para ser o último torneio do Grand Slam que disputaria. Ali, viu-se obrigado a abandonar a partida de estreia com lesão.
Duas semanas antes do inicio do US Open, Ferrer tinha saído do top 100 pela primeira vez em 16 anos. Um mês antes, o espanhol tinha saído do top 50 pela primeira vez em 13 anos.
Com todo este histórico, Ferrer entrou 2019 como 124º do mundo e a missão de se despedir do tênis nos palcos em que foi consagrado. Assim, se retirou contra o compatriota Pablo Carreño Busta na segunda rodada em Auckland. Em Buenos Aires recebeu uma linda homenagem e caiu diante do compatriota Albert Ramos num jogo apertado pela segunda rodada. Em Acapulco, Ferrer caiu para o alemão Alexander Zverev, também na segunda rodada.
Mesmo sem ter planejado jogar no Masters de Miami, Ferrer foi convencido pela organização a aceitar um convite por toda a sua trajetória no mais latino dos Masters 1000, ali conquistou uma vitória de virada sobre Zverev na segunda rodada e parou no local Frances Tiafoe.
Em casa, no saibro de Barcelona, enfrentou Nadal pela última vez no circuito profissional e caiu na terceira rodada. Sua aposentadoria definitiva veio na derrota para Zverev na segunda rodada do Masters de Madri.
De Auckland a Madri, os últimos derrotados por Ferrer no circuito profissional foram: o holandês Robin Haase, o tunisiano Malek Jaziri, os norte-americanos Tennys Sandgren e Sam Querrey, Zverev, o alemão Mischa Zverev, o francês Lucas Pouille e o espanhol Roberto Bautista Agut.
Dono de um forehand de dentro pra fora extremamente efetivo, o último ponto de Ferrer no circuito profissional foi um erro não-forçado: