Documentos da Guarda Civil espanhola [equivalente a Polícia Civil no Brasil] obtidos com exclusividade pelo jornal espanhol El Confidencial apontam que o duplista Marc López, ouro nos Jogos Olímpicos do Rio ao lado de Rafael Nadal, teria vendido resultados de partidas.
O documento faz parte de um inquérito tocado pelos investigadores de Madri e aportam um processo muito maior que a nível nacional na Espanha já prendeu tenistas com ranking baixo, ex-tenistas profissionais, profissionais ligados ao esporte e atuantes das máfias de apostas. Dentre os presos está Marc Fornell, que foi preso em uma ação realizada em outubro de 2018.
A página onde é citado Marc López, pode ser vista neste link, e explicita: "Neste jogo de duplas em Tarragona, Fornall comentou em ligação telefônica a Lucignoli, no dia 08 de abril de 2018, que Marc López e ele venderam a final. Disse Koellerer que os deu 2 mil euros, cerca de R$ 8.620,00 a cada um e que Marc López, no início, se recusou, mas cedeu a corrupção que se estima plenamente consumada pelos expostos".
O documento transcreve uma ligação feita por Marc-Fornell Mestres ao empresário italiano Miguel Lucignolli. Na época, os investigadores espanhóis tinham autorização do 5º Juizado de Processos Civis de Madri para realização escutas telefônicas sob Fornell e outros investigados no intuito de colher mais informações processuais e dados para novas investigações.
O esquema, era comandado pelo armênio Armen Melkumyan, que dentro de sue grupo criminoso realizava não apenas fraudes fiscais como combinação re resultados para apostas como atuação com narcotráfico, tráfico de armas e pessoas. Fornell era seu homem forte no tênis, que persuadia atletas com propinas de até mil euros, cerca de R$ 4.310,00 para quem se deixar ser quebrado por game em uma partida a combinação completa de placar em 5 mil euros, cerca de R$ 21.550,00.
Venda de uma final
Além de parceiro no crime, Lucignolli era um amigo, segundo o jornal, com quem Fornell tinha longas conversas. Na apontada pela reportagem, os dois comentam o sucesso de Marc López no tênis e Marc Fornell Mestres, intitulado 'chefe da corrupção espanhola do tênis', contou: "(…) no Challenger de Tarragona (2008), a única vez que joguei com ele [Marc López] em nível ATP, demos pau em todos, eu te mostro, e no final nos vendemos, vendemos a final", revelou.
“Nós vimos Kollerer e ele me cumprimentou. Te dou 2 mil euros, são dois 2 mil por cabeça, e ele não queria, o Marc López não queria e eu lhe disse: 'Por Deus!'. naquele momento ele [Marc López] já era 120º ou algo assim nas duplas e o cara tava jogando tanto que nem se importava com duplas. Não? Estava a 120, algo deste tipo... e eu lhe disse: 'Por Deus' eles nos dão a pasta e no fim... 'Ah! Beleza! erramos e jogamos a final", contou Fornell-Mestres. “Ao invés de ganhá-la, o que teria acontecido, porque era contra Kollerer e outro duplista preguiçoso. E seria bom ganhar um Challenger, mas como eu não estava ali pra isso... 'Los Mangos' [termo quase universal para se falar de apostas na informalidade] sempre primeiro", completou o espanhol que segue preso.
No seguir da conversa, Fornell ainda citou outras vezes que se recordou jogar ao lado de López e inclusive do fato de venderem sua participação em um torneio realizado em Peruggia, na Itália.
Mesmo sem saber que estava vendo monitorado pelas autoridades e em total clima de impunidade, o tenista em diversas ligações não apenas falou de situações vividas e deu exemplos de que a corrupção era feita e não punida, como também negociava com outros atletas.
Os investigadores espanhóis investigam Marc López, porque já concluíram que outras informações retiradas de escutas ao telefone de Marc Fornell Mestres eram verídicas e têm provas. Após sua prisão, Fornell tem atuado como delator.
As informações dadas por Fornell a Lucignolli são verdadeiras em relação inclusive a datas e resultados. Após dominar rivais, perderam a final em Tarragona, Espanha, em um duplo 6/2 para Koellerer e o tcheco Dusan Karol.
**Lucignoli é um jovem empresário italiano, dono de um bar, que foi utilizado, segundo investigações da Equipe de Fraude Econômica e Lavagem de Dinheiro da Guarda Civil de Madri, para 'lavar o dinheiro' recebido por Fornell e outros tenistas de grupos de diferentes máfias. Em novembro passado, os investigadores espanhóis já haviam informado que a máfia que mais atuou com tenistas espanhóis foi a armênia.
Já Koellerer trata-se do ex-tenista austríaco Daniel Köllerer, banido do tênis em 2011, no ano anterior foi acusado pelo brasileiro Julio Silva, o Julinho, de ofensas racistas durante uma partida em um torneio Challenger realizado no interior da Itália.