Por Ariane Ferreira e Marden Diller - Maior torneio do Brasil antes do lançamento do Rio Open, o Brasil Open viveu dias de glória em seus anos de Costa do Sauípe, com participações de Gustavo Kuerten e Rafael Nadal. Hoje, sediado em São Paulo, o evento sofre para se manter 'vivo'.
Troféu da série ATP 250, os problemas do Brasil Open hoje são muitos. Um dos principais, segundo reclamações do diretor durante a edição 2017, seria a data de sua realização — sempre na semana seguinte ao Rio Open, duas semanas após o torneio de Buenos Aires e simultâneo a dois ATP 500 (Acapulco e Dubai) — o que dificulta a vinda de maiores estrelas, o que também afasta o público e, consequentemente, os investidores.
Hoje o torneio é um dos que está nos planos da ATP de receber uma reestruturação para 2019, ano em que a organização efetivará uma série de mudanças que vem estudando há alguns anos. As ações especuladas vão desde uma mudança de data e/ou piso até uma exclusão do calendário.
Em fevereiro de 2017, a ATP se pronunciou uma única vez a respeito do assunto, alegando que ainda era muito prematuro falar sobre qualquer coisa, uma vez que as discussões ainda estavam no início e que nada seria concretizado, pelo menos, até o final do ano.
Essas mudanças que seguem em debate para a temporada de 2019 não são votadas e definidas apenas pela ATP. Atualmente as discussões tâm a representação da ITF, da ATP, Conselho dos Torneios — cada categoria de torneios (Grand Slams, Masters 1000, ATP 500 e ATP 250) possuem seu próprio conselho — e, obviamente, o Conselho dos Jogadores. Cada grupo representa seus próprios interesses, de modo que o resultado final a ser empregado no circuito beneficiará, de algum modo, cada parte interessada.
Diante da falta de respostas da ATP sobre o assunto, conversamos com Marcelo Melo, atual número 1 do mundo do ranking de duplas e membro do Conselho dos Tenistas, que revelou ao Tênis News os planos da organização para o Torneio de São Paulo.
“Quanto ao torneio de São Paulo a ATP está buscando alternativas para ajuda-lo, seja alguma mudança de data ou alguma mudança de local. Mas por enquanto não tem nada confirmado, pois as coisas estão sendo estudadas. Teremos sim muitas mudanças em 2019, mas sem dúvida o ano de 2018 servirá como termômetro para tais mudanças”, comentou o brasileiro.
“Os tenistas têm voz ativa em todas as mudanças que ocorrem nos torneios. Seja em caso de mudança de piso ou de locação do torneio, pois são muitas coisas que precisam ser analisadas, já que às vezes uma mudança de piso pode ameaçar uma gira inteira”.
Mediante as informações de Melo, procuramos a organização do torneio em busca de maiores esclarecimentos acerca de propostas aventadas, mas o diretor Roberto Marcher optou por não responder um a um nossos questionamentos e deu-nos uma posição central através de sua assessoria de imprensa: “Ano a ano, a ATP estuda estratégias para melhorar o calendário como um todo, visando beneficiar os torneios e os jogadores. Com certeza, eles estão buscando mudanças para 2019, que deverão ser boas não só para o Brasil Open, mas também para outros torneios”.
Falhas estratégicas e de marketing esportivo podem atrapalhar o Brasil Open.
Tendo em vista nenhum posicionamento da ATP e do Brasil Open e considerando as críticas feitas por fãs pela mudança de local, ausência de grandes estrelas no torneio, procuramos ouvir Amir Somoggi, especialista com 15 anos de experiência em marketing esportivo a respeito de alguns dos posicionamentos adotados pelo torneio nos últimos anos, dando sua opinião baseada em sua vivência.
Somoggi começou nossa conversa comentando a afirmação feita durante a edição 2017 do Brasil Open na qual Marcher diz que o maior vilão do torneio hoje seria a crise econômica e a alta do dólar
“Claro que há várias questões da economia e do câmbio, mas é a incapacidade gerencial das confederações e entidades que regulam e organizam os esportes brasileiros que faz com que haja tamanha discrepância em comparação à realidade lá de fora. Claro que o câmbio é pesado, mas isso é somado à deficiência gerencial”, comentou.
Para Amir, um dos principais problemas do torneio é a falta de interesse do público brasileiro pelos torneios de tênis sem a presença de grandes ídolos, o que vem acontecendo com o Brasil Open desde 2015.
“O que atrai patrocínio são ações de marketing, audiência, ações de ativação junto ao público. Claro que o número de público ali presente talvez atraia divisas, mas é uma lástima não termos a capacidade de atrair o público brasileiro para assistir uma modalidade tão interessante como é o tênis, com brasileiros ou sem brasileiros”, explicou Amir.
“Eu acho que falta realmente uma cultura esportiva, que é culpa de quem organiza o evento. Agora que vai começar o trabalho de comercialização do torneio? Isso é um trabalho de décadas. Desde a época do Guga que poderia ter sido feito esse trabalho, mas não foi. Você tem pontualmente a presença de um latino-americano que possa atrair o público para o evento, mas ainda assim é muito pouco. E é muito pouco inteligente por parte da Federação não conseguir cativar o público local. E como você cativa o público, além de trazer o ídolo? Com boas ações de marketing, com ações promocionais e atraindo patrocinadores de modo que eles ajudem a presença do público na arena”.
Adentrando mais a questão de um torneio sem grandes ídolos ou jogadores dentro do top 10 — algo que não acontecerá pela primeira vez desde 2013, já que Pablo Carreño Busta confirmou sua participação em 2018 — nosso especialista acredita que a visão do torneio de não pagar pela participação de uma estrela poderia estar a equivocada.
“O jogador que não tem mídia, que não é ídolo e que não produz resultado para o patrocinador não pode se sentir incomodado se o torneio vai pagar para trazer um ídolo para atrair público e atrair mídia. Claro que trazer o ídolo como única estratégia para atrair público não resolve, mas ajuda já que temos uma carência total de ídolos. Então, essa me parece uma estratégia bastante correta”.
Por fim, Amir condena um posicionamento do torneio a respeito do aumento no preço dos ingressos da edição 2016 para a edição 2017, posição essa defendida pelo diretor do torneio em entrevista ao Tênis News durante o evento neste ano.
“É mais um exemplo da incapacidade gerencial dos nossos cartolas. A pessoa achar que pode subir o preço assim porque é um esporte “elitista” é um dos motivos pelo qual está às moscas. Essa visão limitada é a cara do marketing esportivo no Brasil, mesma coisa que acontece nas outras modalidades. Tratam o torcedor como se a paixão fosse mover ele acima da razão. O tênis definha com colocações como essa”, concluiu Amir Somoggi, consultor em marketing esportivo.
A diretoria do torneio foi procurada para comentar as declarações acima, mas até o fechamento desta matéria não havia se pronunciado à respeito.