Por Marden Diller - O tênis é um esporte que tem em igualdade a mesma dose de beleza e crueldade. Assim como presenciamos grandes feitos, somos obrigados a testemunhar a dor de alguns.
É justamente com uma pegada de dor que chega ao fim a carreira de um dos principais nomes do circuito profissional dos últimos 15 anos, um homem que, apesar de ter um jogo limitado, demonstrou grande qualidade, espírito de luta e desafiou os maiores da história, muitas de vezes de igual para igual: o tcheco Tomas Berdych.
Nascido em 17 de setembro de 1985 na cidade de Valmez, na extinta Tchecoslováquia, o jovem Tomas Berdych teve seu primeiro contato com o tênis aos cinco anos de idade, tendo seu desenvolvimento totalmente voltado para quadras rápidas e cobertas, em razão do frio extremo de sua cidade. Apenas três anos depois conquistou seu primeiro título a nível nacional, seguido da conquista do campeonato tcheco sub-12 de tênis.
Sua rápida evolução o levou à 6ª posição no circuito juvenil da ATP — e segunda nas duplas — em 2003, aos 18 anos, quando já possuía um ano no circuito profissional, incluindo dois títulos de nível Future.
Em 2004, com apenas dois anos de circuito profissional, Berdych chamou a atenção do mundo durante as Olimpíadas de Atenas. Em sua jornada às quartas de final foi responsável pela eliminação do já número 1 do mundo, Roger Federer, ainda na segunda rodada, seguida da vitória sobre Tommy Robredo nas oitavas de final, antes de ser derrotado pelo forte norte-americano Taylor Dent nas quartas de final.
Ao final deste mesmo ano, passando por uma campanha de quartas de final no US Open, conquistou o primeiro título de sua carreira na ATP no saibro de Sicília, na Itália, superando o espanhol David Ferrer na semifinal e o italiano Filippo Volandri na decisão. Era o momento em que mostrava sua versatilidade.
Dotado de potentes golpes da linha de base e de um saque extremamente eficiente, Berdych tinha um jogo de rede fraco e uma movimentação não tão excelente em razão de seu 1,96 de altura e seus 91 quilos de peso.
Após um início fraco de temporada em 2005, deu sinais de recuperação ao ficar com o vice-campeonato no saibro do ATP 250 de Bastad, diante do espanhol Rafael Nadal, que havia despontado para a segunda posição do ranking poucos meses antes após o título em Roland Garros.
A redenção veio justamente no último grande torneio da temporada, no Masters 1000 de Paris, onde conquistou o torneio mais importante de sua carreira em uma campanha dos sonhos, derrotando em sequência: Jiri Novak, Guillermo Coria, Juan Carlos Ferrero, Gaston Gaudio, Radek Stepanek e, na decisão, o croata Ivan Ljubicic. No dia 7 de novembro de 2005, Berdych fazia sua entrada no top 30, de onde apenas saiu em 16 de julho de 2018, praticamente 13 anos depois.
Extremamente sólido nos rankings, foram poucas as ocasiões em que o tcheco caiu para fora do top 20, na verdade. Embora fosse extremamente promissor, a evolução de jogadores como Roger Federer, James Blake e o próprio Ivan Ljubicic, que exploravam todas as instâncias da quadra prejudicaram seu jogo.
O grande passo adiante de sua carreira foi dado em 2009, quando os chamados "baseliners" começavam a dominar o tênis, com a ascensão de Rafael Nadal e Novak Djokovic na briga pelos maiores títulos. Em outubro, ergueu seu quinto título na carteira, e primeiro de ATP 500, em Tóquio ao derrotar Juan Martin del Potro na decisão. Poucos meses depois, disputava sua primeira final de Copa Davis, sendo derrotado pela forte Espanha liderada por Rafael Nadal.
A boa fase se manteve em 2010, um dos anos mais importantes de sua carreira. Iniciando a temporada na 20ª posição, ficou com o vice campeonato no Masters 1000 de Miami, diante do ex-número 1 do mundo, Andy Roddick, passando por Roger Federer nas oitavas de final. Tendo uma gira fraca de saibro, brilhou ao atingir a semifinal em Roland Garros, sendo derrotado pelo eventual vice-campeão Robin Soderling, vindo de vitórias sobre John Isner, Andy Murray e Mikhail Youzhny.
Embalado pela campanha, teve a corrida dos sonhos em Wimbledon, superando Roger Federer pela segunda vez na temporada, nas quartas de final. Na ocasião, Federer defendia o título de 2009. Posteriormente, atingiu a decisão, onde foi superado, novamente, pelo espanhol Rafael Nadal. O vice-campeonato foi o maior resultado de sua carreira, sendo o quarto tenista de seu país a atingir a semifinal em Wimbledon.
Fazendo sua estreia no top 10 da ATP após o resultado, Berdych era um dos maiores nomes do esporte em 2011, quando conquistou o ATP 500 de Pequim. Mantendo-se entre os 8 melhores do ano, fez sua melhor campanha no ATP Finals, sendo derrotado pelo francês Jo-Wilfried Tonga na semifinal.
Completamente estabelecido entre os melhores, em 2012 Berdych mostrou que sua especialidade eram as competições por equipe. Abrindo o ano com o título na Hopman Cup, juntou-se a Radek Stepanek e liderou a República Tcheca até a decisão da Copa Davis, jogando todas as partidas de simples e duplas — dividindo a equipe com Stepanek.
Semifinalista no US Open e no Masters 1000 de Paris, Berdych também foi finalista da única edição do Masters 1000 de Madri disputado sobre o saibro azul. Posteriormente disputou a decisão da Copa Davis contra os espanhóis, conquistando seu primeiro título na competição, também o primeiro do seu país após a independência da Tchecoslováquia — o único título anterior havia sido conquistado em 1980.
A força da equipe tcheca de Stepanek e Berdych, liderados por Jaroslav Navratil se manteve em 2013. Fez novamente quartas de final no Australian Open, manteve uma temporada extremamente regular e qualificou-se para o ATP Finals pela quarta vez. Lado a lado, coordenou sua equipe novamente à decisão da Copa Davis, derrotando a Sérvia de Novak Djokovic e conquistando seu segundo título na competição.
A conquista deu gás ao tcheco, que abriu a temporada com uma semifinal no Australian Open, sendo superado pelo suíço Stan Wawrinka, campeão naquele ano. Com o título em Roterdã e fazendo semifinal em Miami, atingiu a quinta posição do ranking. Voltou a erguer um troféu apenas no fim do ano, no ATP 250 de Estocolmo.
No ano posterior, de 2015, já aos 31 anos de idade, disputou sua segunda semifinal no Australian Open, passando por Rafael Nadal nas quartas de final e sendo derrotado pelo eventual vice-campeão Andy Murray na semifinal. Poucos meses depois voltou a ser derrotado por Murray na semifinal do Masters 1000 de Miami.
Após duas semifinais, conseguiu atingir a decisão em Monte Carlo, onde foi superado pelo sérvio Novak Djokovic. No torneio de Madri, foi derrotado por Rafael Nadal na semifinal e atingiu o melhor ranking de sua carreira, o quarto posto. Com os títulos em Shenzhen e Estocolmo, Berdych classificou-se para o ATP Finals pelo sexto ano consecutivo, embora tenha sido derrotado em todas as partidas da fase de grupos.
Já com uma idade avançada para os padrões do esporte e de seu estilo de jogo, manteve uma boa regularidade nas quadras duras em 2016, atingindo seu pico da temporada em Wimbledon, com sua segunda semifinal. Encerrando uma temporada modesta na 10ª posição, não se qualificou para o Finals pela primeira vez desde 2010.
Em 2017, seu corpo começou a cobrar o preço dos 15 anos de carreira em altíssimo nível. Embora tenha feito novamente semifinal em Wimbledon, foi obrigado a encerrar sua temporada após a edição inaugural da Laver Cup, em seu país natal, com uma severa lesão nas costas, fechando o ano fora do top 10 pela primeira vez desde
Novamente em 2018, a lesão nas costas aterrorizou sua temporada, provocando altos e baixos até Wimbledon, quando foi novamente obrigado a encerrar seu ano com problemas nas costas e no quadril. O fim gritava no rosto do tcheco, que deixou o top 50 do ranking pela primeira vez desde outubro de 2004.
Forte e resiliente, o divertido e simpático tcheco que fez a alegria dos fãs em suas redes sociais durante sua recuperação, fez sua última tentativa na temporada 2019, abrindo o ano com o vice-campeonato em Doha, diante de Roberto Bautista Agut, que viria a ser a última decisão de sua carreira. Lutando contra suas lesões, perdeu diversos torneios na temporada e foi derrotado na estreia do US Open, admitindo pela primeira vez sua derrota na batalha contra seu físico, declarando que "seria impossível que conseguisse disputar mais uma temporada".
Com uma movimentação longe de ser a melhor e um jogo limitado a fortes batidas do fundo de quadra, Tomas Berdych se despede do tênis profissional aos 34 anos de idade, com 13 títulos profissionais, 640 vitórias e 342 derrotas, além de triunfos sobre Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Sem dúvidas, foi um dos mais brilhantes tenistas de sua geração, que ousou desafiar — algumas vezes com sucesso — os maiores da história.
Aproveite sua aposentadoria, campeão, e obrigado por tudo o que fez por nosso esporte.