Por Ariane Ferreira - Cabeça de chave 2 do Brasil Open, Fabio Fognini segue dividindo opiniões mundo afora diante de um público, a favor ou contra, nunca indiferente. Em um dia de folga, mas com trabalho duro nos treinamentos, falou com exclusividade do Tênis News.
Fognini conversou conosco após seu treino em São Paulo nesta quarta-feira, realizado no fim da manhã.De bom humor, mas pouco interessado em falar, o italiano acabou revelando um lado amoroso e consciente pouco conhecido.
Ao chegar ao local da entrevista, utilizou de sua irreverência: "Nossa, quanto tempo!" em referência ao ter visto e falado com nossa reportagem menos de 18 horas antes em uma zona mista (entrevista pós-jogo)."Faz bastante tempo", retruquei para entrar no clima. "Que bom que estamos aqui", seguiu ele.
Apesar da casca e da vontade de mostrar que não está preocupado com o que vão pensar de si, Fabio Fognini baixa a guarda e se emociona ao falar do filho e da esposa. Mais de uma vez, justifica sua indiferença com "As pessoas não sabem como tudo acontece, avaliam só o externo" em salvo conduto às criticas e elogios que recebe.
Confira o papo de cerca de dez minutos com uma das principais estrelas do Brasil Open:
Tênis News: Sem falar em projeto de aposentadoria. Você já chegou aos 30, a cabeça mudou?
Fábio Fognini: Estou bem, se sigo com bom físico e a cabeça segue assim, vou jogar muito tempo. Obviamente, tem a ver com evitar lesões, de não as tê-las e mais um monte de coisas. E claro que preciso manter bem minha mente e seguir o trabalho.
TN: A maioria dos jogadores que constituem família mudam seu projeto de carreira. Neste momento, você está longe da Flavia [Penneta] e do Federico [Fognini - seu filho de 9 meses] e isso é difícil...
FF: Sim, é muito difícil. As coisas mudaram, mas mudaram para melhor. Flavia sempre vai a alguns torneios. Ela virá me encontrar na gira americana - caso contrário [eu] não poderia jogar Indian Wells e Miami. Por sorte, estamos na Europa [o casal vive entre Barcelona, na Espanha, e Brindisi, na Itália], Flavia ainda não quer viajar para a Austrália e esses lugares [distantes como o Brasil]. Entretanto, estamos administrando muito bem.
TN: E como você tá lidando com a vida de pai?
FF: Quando estamos em torneios, a rotina [preparação] é sempre a mesma, há muito que fazer, mas quando tenho um tempo corro para a internet e lhe chamo para ver o menino, falar com ele. Em casa, me dedico muito a ele.
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TN: No último Australian Open você e [Andreas] Seppi alcançaram um feito histórico para o tênis italiano que foi colocar dois tenistas na segunda semana de um Grand Slam pela primeira vez desde 1976. Como você vê esses feitos históricos?
FF: (Expressão de surpresa) Para mim tanto faz! (expressão de indiferença) Tanto faz mesmo. Como te disse outro dia, tento seguir meu caminho, dando o melhor de mim a cada dia. Obviamente, as pessoas não sabem como tudo acontece. Isso [o trabalho que demanda ser tenista] quem sabe somos nós mesmos e as pessoas que estão conosco nisso diariamente. Os resultados e os números... as pessoas falam porque são números.
TN: Essa forma de pensar tem a ver com o que você disse no fim do ano passado à Gazzetta Dello Sport: 'Se eu for número 1, os italianos vão me pedir para que eu seja o número zero'?
FF: (risos) Sim, claro que sim. Eu sempre estive com esse pensamento. Ao fim da minha carreira, não vão negar que eu fui 'Fabio Fognini' para todos os efeitos. Não me escondo atrás de uma placa de tênis [um recorde]. Muitas vezes me equivoquei e quando a gente se equivoca, pede perdão. E quando não se equivoca e tem coração, não pode morrer por causa da razão. Isso é algo que não poderei lamentar ao final da minha carreira.
Fui eu mesmo, com altos e baixos. Estive por um momento como 13 do mundo. Estive no top 10 das duplas. Obviamente, busco melhorar o que estou fazendo. Todo mundo pode melhorar, mas as pessoas não sabem o que acontece com um jogador de tênis. Que um dia você levanta em uma noite que não conseguiu dormir, que tem febre, que pode ter um monte de coisas...
TN: Que as vezes joga e tem fome, que há muita espera, que se inverte jogos e atrapalha a alimentação...
FF: Sim, sim. Mas as pessoas não sabem disso.
TN: Você citou ter estado como 13 do mundo, mas você está há 6 anos sem sair do top 50. Além de consistência, o que um cara precisa fazer para se manter?
FF: Obviamente, no meu caso, é que eu não me conformo. Hoje estou novamente no top 20 [local onde esteve pela última vez em janeiro de 2015] e quero seguir lutando. Não se sabe se termino [o ano] 12 do mundo ou 70. Por isso, no decorrer do ano vou tratar de ganhar jogos (risos) porque esse é o meu trabalho, e bom, 'lutar'.
Como já disse, os números são para as pessoas que observam o esporte. Me dizer que estou em 34 do mundo e não mais como 31, faz bastante tempo que não me preocupo mais com isso.
TN: Desde 2012 você tem jogado ao menos uma final em todos esses anos. De 2013 a 2017, apenas não conquistou títulos em 2015 [foi finalista no Rio de Janeiro e em Hamburgo]...
FF: (interrompendo) É que em 2015, eu estive lesionado por um bom tempo e fiquei fora das quadras.
Com o passar dos anos estou muito melhor. Com mais rendimento, mais firme porque desde que comecei o ano estive em uma semifinal de simples [Sidney], quarta rodada [oitavas de final] da Austrália, ganhei na Copa Davis novamente três pontos [confronto fora de casa pela primeira rodada do Grupo Mundial diante do Japão] e o único resultado ruim foi Buenos Aires [caiu na estreia para Leonardo Mayer], porque decidi ir de última hora. No Rio fiz semifinal, estou novamente aqui de volta nas quartas de final.
Os resultados são lineares. Há menos altos e baixos do que as pessoas veem. Obviamente, hoje em dia, todo mundo joga bem. Você tem que ganhar um jogo de um jogador que vem do quali ou um 450º do mundo [no sentido que não é fácil]. Mas isso é uma coisas que as pessoas não podem entender. Mas tudo bem, sei que a cada dia tenho que lutar com o que tenho.
TN: O que eu ia te perguntar é que no tênis se perde mais do que se ganha. Quando foi que você aprendeu isso?
FF: (suspiro) Isso, quando você não é o [Roger] Federer ... (risos). Isso sim é uma coisa desse esporte. Não vejo isso como uma coisa ruim. No esporte você ganha e perde. Neste esporte, há muito mais derrotas que em outros. Mas não me preocupa. É preciso aceitar.
TN: A gente sempre viu sua família, principalmente irmã e pai, por perto. Esse apoio te ajuda a não se preocupar com o que as pessoas te cobram?
FF: A família é muito importante na formação de qualquer jogador. E eu, nesse sentido, sou muito afortunado. Meu pai viaja menos para ficar em casa, minha irmã trabalha, mas sou muito feliz.
TN: Qual a coisa mais 'linda' de ser tenista?
FF: (pensando) Que a cada semana se tem uma chance para não perder (risos). É brincadeira.
[Tênis] É um esporte duro. Isso são coisas que não se vê, mas a cada semana estamos em um avião novo, mudamos de hotéis, sofremos com jetleg, superfície, bola... há um monte de coisas. É uma vida linda, mas muito dura.
TN: Agora que você está mais maduro consegues curtir mais das viagens?
FF: A verdade é que isso sempre me custou muito. Agora um pouco mais com o Federico. Isso sim, eu poderia desfrutar mais. Tem quem desfrute mais, outros menos. Cada um do seu jeito. Mas agora sim, me custa muito mais sair de casa.
TN: Não que seja seu objetivo, mas você gostaria de que Federico te visse jogar e quem sabe seguisse aí...?
FF: (risos) Não é um objetivo.
(pensativo) Ele vai escolher o que quiser fazer quando estiver grande. Espero que: a primeira coisa, que ele estude. A segunda, esporte sempre faz bem. Não o forçarei a jogar tênis. Isso com toda a certeza.
TN: Há influência em casa...
FF: Sim, sim. A mamãe e o papai jogaram tênis. Agora ele está começando a detectar [o esporte] um pouquinho, mas é bem pequeno. Mas isso é algo que todo mundo me fala. Da minha parte, eu não o forçarei. Que ele seja feliz com o que queira fazer.
TN: Por fim, qual a melhor coisa que o tênis te deu?
FF: Sou afortunado, porque obviamente faço do esporte meu trabalho e isso me dá dinheiro. Isso vale mais que qualquer coisa. Cada um tem seu trabalho, mas este é o bastante.