John Powless. Esse nome pode ser desconhecido para os brasileiros, mas não fosse ele não teríamos nomes que fizeram história para o tênis mundial como Arthur Ashe e Nick Bolletieri. Foto: Jogadores treinam na Leopoldina Juvenil
Esse simpático americano natural da pequena cidade de quatro mil habitantes, a pacata Flora, Illinois, nos Estados Unidos, é o número 1 do mundo na categoria 85 anos do 32º Banco Agiplan Seniors Internacional de Tênis de Porto Alegre – Copa Yone Borba Dias e vem buscar o bicampeonato na Associação Leopoldina Juvenil, na capital gaúcha, que larga nesta terça-feira com entrada gratuita ao público. O torneio é o maior da categoria mundial com Graduação A para o ranking da Federação Internacional de Tênis.
Powless começou a jogar tênis no final da década dos 40, com poucos anos de idade, onde na época em sua pacata cidade do campo só podia jogar tênis se fizesse basquete e futebol americano ao mesmo tempo. Seu primeiro torneio foi aos nove anos onde foi desclassificado porque não tinha dinheiro para comprar uma camisa e um tênis para disputar. No seguinte conseguiu emprestado uma camisa e um tênis maior que o tamanho do seu pé. Powless conta que demorou seis anos para vencer seu primeiro set, antes só levava 6/0 6/0 muito pela falta de recursos, não tinha instruções. Depois de prestar universidade onde tinha mais afinidade com a química, passou a tomar o tênis com mais afinco, ganhou destaque nos campeonatos nacionais e ganhou convites para disputar as principais competições do mundo.
Se tornou treinador através de Billy Taubert que o indicou para captar jovens valores do tênis americano formando um time juvenil nacional da Copa Davis júnior. Naquela equipe captou nomes como Charles Passarel, que mais tarde se tornou dono do Masters 1000 de Indian Wells, e Arthur Ashe que na ocasião era apenas o oitavo nome da equipe. A equipe coordenava com poucos recursos, mas muito trabalho e dela surgiu Arthur Ashe, uma lenda do esporte.
"Eu dizia ao Billy que ter um jogador como ele com 35 anos na Copa Davis era incrível, mas que precisavamos ter mais jovens valores e convesamos sobre o que fazer. Então comecei a escolher esse jogador, aquele outro das Universidades ou jovens valores e comecei a colcocá-los para os torneios de adulto no masculino e começamos jogando em uma parte quente dos EUA para condicioná-los e um ano depois Dennis Lawson se tornou campeão de Grand Slam. Depois veio o Arthur Ashe. Fazíamos tudo com pouco dinheiro. Nesse primeiro time o Arthur era apenas o oitavo do time, mas melhorou", apontou John que escolheu Ashe pelo porte físico e também por seu talento para compôr um time.
"Ele nunca questionava uma marcação, nunca reclamava com o juiz, nunca jogava uma raquete no chão, as pessoas tomavam vantagem dele com marcações erradas, mas ele não questionava pela honra do jogo. O critério para eu tê-lo escolhido para o time juvenil da Copa Davis foi o dos melhores atletas que poderiam se tornar melhores jogadores de tênis. Ele jogava basquete também e em dias de chuva íamos para a academia ou íamos jogar basquete. Arthur não questioanava, se dissesse para ir cortar uma grama, pintar um quadro, ele fazia, tinha espírito de equipe, não questionava. Ele era muito forte em suas crenças. Tênis é um esporte individual, mas era um time a Copa Davis e a partir daí nos tornamos amigos. Em seu livro, Arthur Ashe coloca que foi criado na UCLA e na Univerisdade de Winsconsin comigo, o que é uma honra, mas eu dizia a ele que precisava ficar na UCLA pelo tênis dele."
Ashe veio a se tornar campeão de três Grand Slams (Wimbledon, US Open e Australian Open), da Copa Davis, e um mártir do tênis pelo seu comportamento dentro e fora de quadra levando causas sociais e a causa negra. Ele dá nome à maior quadra do mundo, o Arthur Ashe Stadium, no Aberto dos EUA para 24 mil pessoas e ao prêmio Humanitário da ATP.
A relação de John com Arthur se tornou tão intensa que duas, três semanas antes de falecer em virtude de complicações por AIDS em 1993, Ashe pediu para que Powless lhe representasse em uma cerimônia em Ohio, nos EUA, o que fez John se emocionar ao saber que dias antes seu amigo havia falecido.
"Quando ele morreu semanas antes me ligou e disse que era ele para falar em um evento por ele e depois voltando de uma viagem no aeroporto me disseram sobre sua morte, eu não acreditei até ver pela televisão. E na palestra eu me emocionei que travei na hora de falar, foi a primeira vez que de fato me dei conta que ele tinha ido embora, ele foi um grande tenista, um embaixador, mas melhor ser-humano ainda. Se continuarmos a trabalhar no que Arthur Ashe fazia, ele viverá para sempre e se não, ele terá ido para sempre."
Powless, o responsável pelo 1º emprego de Nick Bolletieri, lembra emoções de histórica Copa Davis em Porto Alegre
Powless foi um dos responsáveis pelo primeiro emprego de Nick Bolletieri que hoje coordena a maior academia do mundo em Brandenton, na Flórida, que já revelou nomes como Maria Sharapova, Andre Agassi, Kei Nishikori, Tommy Haas entre outros onde treinnam milhares de talentos do esporte.
"Nick queria fazer tudo e ficava no meu pé, queria abrir uma academia, eu tinha os juvenis e ele queria começar, me perguntava porque os juvenis tavam indo tão bem, mas eu não tinha tempo de abrir uma academia. O encontrei em Springfield e lá tinha a facilidade de muitas quadras e lá fizemos uma clínica com alguns tops juvenis, delimitamos duas linhas onde fazíamos em cima de uma mesa fazendo exercícios sem bater na bola e de repente estava tudo cheio em volta. Depois em Madison, em Winsconsin, onde vivo, ele me ligou disse que era tinha um lugar para abrirmos a academia em Wayland, 45 minutos de onde vivia. Daí encontrei o Ray Petterson e ele me perguntou quem era aquele cara (Nick) no meu escritório e eu respondi que era um promotor, isso foi em 19767, 1968, daí conseguimos construir a quadra e chegou um momento que não consegui mais conduzir e deixei com o Nick e hoje eu cuido de uma clínica anual com 66 crianças. Hoje em dias nos encontramos às vezes e temos um bom relacionamento".
A relação do americano com o Brasil é extensa. Esteve pela primeira vez no país em 1966 justo em Porto Alegre na Associação Leopoldina Juvenil acompanhando o time juvenil que seguia o principal no duelo contra o Brasil pela Copa Davis. Na ocasião Thomaz Koch e Edison Mandarino venceram um duelo histórico por 3 a 2 levando a equipe pela primeira vez à semi da maior competição mundial por nações.
"Foi eletrizante, parecia uma praça de Touros e o Brasil o touro, a maneira como deveria ser, seria igual se fosse nos Estados Unidos e eu estava amando aquilo, algo para trazer pro resto da vida, o Brasil tinha o melhor time e ganhou".
Campeão ano passado na capital gaúcha, ela buscará a partir de quinta-feira a segunda conquista e mesmo com a idade avançada não pensa em parar, mas sim jogar se possível até os 100 anos, ou mais.
"Eu adoro o Brasil por causa das pessoas, o tênis é isso, relacionamentos, amizades. O mais divertido de tudo é jogar o Seniors. Tenho um amigo que joga no clube e tem 103 anos, joga três vezes na semana, enquanto você estiver saudável, você pode seguir jogando. Eu costumo falar em grupos, se você mantém seu corpo ativo, suas boas células crescem e as más diminuem, e o tênis dá isso e a amizade é tudo".
Torneio começa nesta terça com 24 partidas
O 32º Banco Agiplan Seniors Internacional de Tênis de Porto Alegre – Copa Yone Borba Dias começa nesta terça-feira às 9h com 24 partidas. O primeiro dia terá a realização dos jogos das categorias 45 anos até 75 anos. Os primeiros a entrar em quadra são os atletas das categorias 60, 65 e 75 anos.
Pelo segundo ano consecutivo o torneio é o maior do país no Seniors e conta com pontuação Grupo A, a mais alta graduação de pontos para o ranking mundial da Federação Internacional de Tênis.
Três duelos Brasil x Chile e um Brasil x Argentina marcam o dia inicial com Antonio Ribeiro duelando contra o chileno Primo Ocaranza nos 65 anos e nos 60, Sérgio Ocaranza encarando o brasileiro Cláudio de Queiroz. Luis Ocaranza enfrenta o brasuca Silviomar Bohm não antes das 13h nos 55 anos . Duelo Brasil x Argentina nos 60 anos com Alberto Kieling enfrentando o argentino Ricardo Zapata.
A última rodada de jogos na terça começa não antes das 16h.
A estreia dos favoritos acontece a partir de quarta-feira. As categorias 35 anos e 85 anos largam na quinta-feira.
A competição terá em torno dos 260 atletas de 17 países. Além do Brasil estarão representados a Alemanha, Áustria, Itália, França, Portugal, Grã-Bretanha, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Estados Unidos, México, Venezuela, Nova Zelândia e Canadá.
Além do americano John Powless, o evento conta com a brasileira Simone Vasconcellos na categoria dos 50 anos feminino, líder do ranking. Ao todo serão 21 jogadores entre os cinco melhores do mundo nas respecitvas categorias que vão do 35+ até o 85+. Destaque para a categoria acima dos 65 anos masculina que trará o vice-líder do ranking, o francês Bruno Renout e seu compatriota Alain Vaysset, quarto colocado e que participou da edição passada.
No feminino a categoria 40 anos terá a vice-líder, a argentina Silvina Delgado e a brasileira Gisele Bazin, quinta colocada.
Na categoria 70 anos masculino presença do número dois do mundo e ex-jogador da Copa Davis da Bolívia, Ramiro Benavides que jogou a competição por 32 anos e é o segundo mais velho na história a entrar em quadra no maior torneio de nações ao jogar em 2003 com 56 anos de idade em duelo contra El Salvador.
Na categoria 60 anos presença do colombiano Javier Restrepo, que jogou em quatro confrontos da Copa Davis entre os anos de 1973 e 1983.
Mais detalhes sobre as chaves e programação vocês pode conferir pelo site - http://seniorsbrasil.com.br/ etapa2017/portoalegre/
O 32º Banco Agiplan Seniors Internacional de Tênis de Porto Alegre tem o patrocínio do Banco Agiplan e o co-patrocínio da Nex Group - A certeza do melhor negóocio. O evento tem o apoio da NET Claro e Master Hotéis. A organização é da PROTENIS PROMOÇÕES ESPORTIVAS e o evento tem a chancela da Federação Internacional de Tênis, Connfederação Brasileira de Tênis, Federação Gaúcha de Tênis e é realizado na Associação Leopoldina Juvenil.