Por Fabrizio Gallas e Ariane Ferreira – Pelo terceiro ano consecutivo, São Paulo sedia a disputa do Roland Garros Juniors Series, torneio que dá vaga na chave juvenil do Aberto da França no final de maio. E para conhecer melhor o projeto, conversamos com o Chefe de Desenvolvimento Internacional da Federação Francesa de Tênis e diretor do evento, Aymeric Labaste. Crédito: Ale Carvalho/FFT
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O torneio faz parte do projeto da FFT de fomentar o tênis a nível global que começou em 2014, quando decidiu-se por realizar pequenos torneios em diferentes regiões do planeta, com uma final em Paris e aos campeões conceder convite para a disputa em Roland Garros.
“Eu não trabalhava na federação naquele período, mas eles organizavam etapas pelo mundo: China, Japão, EUA, Brasil, e claro, México. Cada país estava classificando um menino e uma menina para a chave principal”, conta Labaste.
“Todos os jogadores estavam jogando esta grande final e apenas os vencedores estavam recebendo o convite para jogar Roland Garros Junior. Então, quando eu fui nomeado chefe do Desenvolvimento Internacional de Roland Garros, eu queria mudar o formato e dar os convites diretamente aos vencedores aqui. Até agora, temos apenas dois torneios no mundo. Quero dizer, Roland Garros Junior Series pela Renault, este aqui e lançamos a primeira edição em Tóquio para a Ásia em outubro passado. Agora, são apenas dois torneios em vez de cinco ou seis como costumávamos ter antes”.
O formato implementado por Labaste surgiu após a pandemia, em 2022 e logo no ano em que João Fonseca foi o campeão e disputou o Slam parisiense.
“Ele é o nosso primeiro campeão em 2022, (o torneio) foi no Rio de Janeiro naquele ano e eram apenas jogadores brasileiros. Daí, abrimos o torneio para jogadores sul-americanos pela primeira vez em 2023. Ano passado convidamos jogadores mexicanos, dando convites para os melhores juvenis (uma menina e um menino) do México, por isto, agora (a competição) é com a América do Sul mais o México ", detalha.
"João (Fonseca), disse muitas vezes à imprensa que este torneio foi uma espécie de ponto de partida para ele. Como ele se classificou para Paris, jogou seu primeiro Grand Slam. Ele tinha 15 anos naquela época e conseguiu chegar à terceira rodada, sendo que na segunda derrotou o cabeça de chave número um, que era três anos mais velho que ele. Então, isso foi realmente impressionante e esse é o ponto principal desse conceito, dessa iniciativa”, recorda Labaste.
“Queremos dar aos jogadores aqui uma experiência de Grand Slam por uma semana. Então é como se fosse a primeira vez que eles estão vivendo essa experiência profissional”, segue o diretor contando que o trabalho de desenvolvimento dos jovens tenistas inclui muito além da experiência de se estar em Roland Garros.
Já em São Paulo, os jovens passam por uma série de treinamentos e oportunidades de desenvolvimento pessoal e técnico: “Eles tiveram treinamento de mídia, gerenciamento de mídia social, através de workshop. Daí uma conversa aberta com Gabi (Sabatini) e (Juan Martín) Del Porto para que eles pudessem fazer todas as suas perguntas. Esse é o nosso compromisso para este torneio”.
Os dois ídolos argentinos são embaixadores da competição. Delpo e Sabatini foram escolhidos, segundo Labaste, por serem os últimos tenistas da região a vencerem um Grand Slam. Sabatini venceu o US Open 1990 e Delpo o mesmo torneio em 2009.
Entretanto, a experiência e troca de conhecimento também se estende aos campeões que vão à Paris, conta do diretor: “Queremos proporcionar essa experiência de Grand Slam, essa experiência de Roland-Garros, para os dois vencedores que vão Paris, eles terão uma experiência única porque não é só jogar o torneio. Nós garantimos que eles possam treinar com os melhores juniores, que eles possam visitar os bastidores de Roland-Garros. Eles conhecerão Amélie Mauresmo (ex-número 1 e dona de dois Grand Slams), a diretora de Roland-Garros. Eles falarão com a imprensa, e então nós daremos a eles ingressos para irem à Quadra Central (Philippe Chatrier). Isso é na sexta-feira da primeira semana de Roland-Garros, dois dias antes de domingo (quando começa a disputa do juvenil)”.
O diretor conta como foi a experiência dos dois brasileiros campeões da última edição da competição: “Esta é uma tradição para nós. Guto (Luis Miguel) e Nana (Nauhany Silva), ano passado... Guto estava fazendo tantas perguntas. Ele queria visitar nosso escritório, então trouxemos Nana e Guto para nosso escritório. E ele disse: 'OK, o que você está fazendo? Marketing, comunicação. Então para eles, também é uma maneira de ver o todo”.
Para Aymeric Labaste, a edição paulistana do evento une o que há de melhor entre a cultura do tênis francês e a brasileira: “Você viu as quadras? Parece Roland-Garros, mas com o toque brasileiro. Esta é uma mistura entre as duas culturas, e isso é algo muito importante para nós”.
Labaste está muito satisfeito com a competição realizada no Harmonia Clube de Tênis e sobre o futuro da competição diz: “Meu plano é ficar em São Paulo. Então ano que vem voltaremos para Harmonia. E discutiremos para o futuro. Mas sinto que eles estão realmente felizes com o torneio. Estamos felizes em ter o torneio aqui no Harmonia. Acho que ficaremos aqui por um tempo, eu acho”.
O formato da competição deve seguir com 16 entradas da chave e recebendo atletas juvenis até 17 anos, depois de um acordo entre a FFT e a COSAT (Confederação Sul-Americana de Tênis), já que na chave do Slam a maioria dos adversários seriam mais velhos que os representantes sul-americano.
“Acho que foi a decisão certa. E o melhor exemplo é o ranking, nós temos e Candela Vazquez, da Argentina, no top 100 (ranking juvenil ITF) e o Pedro Chabalgoity, do Brasil, também no top 100. Esta é a primeira vez que temos jogadores aqui jogando este torneio que estão no top 100. Acho que o melhor (em ranking) foi João em 2022 e (na época) ele estava classificado em 110 ou 150”, conta Labaste.
A lista de entradas de Roland Garros no Juvenil fecha entre 45 e 50 no ranking da Federação Internacional (ITF) e por esta razão, a competição em São Paulo só pode ser disputada por tenistas fora do top 50.
Apesar de não competir, tanto Guto Miguel quanto Nana Silva participaram das atividades do torneio em São Paulo: “ Eles estiveram na festa de abertura ontem. Guto subiu no palco com Nana, eles fizeram um discurso para explicar quais eram seus sentimentos quando entraram na quadra no ano passado. Estava absolutamente lotado. A experiência que eles tiveram em Paris, eles compartilharam tudo com nossos convidados ontem”.
Os jovens brasileiros também tiveram oportunidades de participar dos workshops e das conversas com os embaixadores.
“É todo o ecossistema que estamos construindo juntos, não é só a Federação Francesa de Tênis, precisamos que todos façam parte disso. Quando digo todos, quero dizer COSAT, o clube, patrocinadores, ESPN (retransmissora do evento para a América do Sul), imprensa, jogadores, embaixadores. Todos juntos podemos criar esse tipo de plataforma de tênis”, declara o francês.