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'Não me iludi com o glamour do tênis', revela Ivan Kley

Quarta, 13 de outubro 2021 às 14:58:15 AMT

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Tênis Profissional

Por Fabrizio Gallas e Ariane Ferreira - Apesar da fama recente graças ao sucesso da carreira musical do filho mais novo, Vitor, o empresário Ivan Kley foi, nos anos 1980, referência em termos de visão de carreira e planejamento no tênis sul-americano e com oito patrocinadores simultâneos em determinado período de sua carreira, calcula um ganho de cerca de meio milhão de dólares somados premiações e patrocínio



Crédito: Luiz Candido / Luz Press

 

Natural de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Ivan começou a jogar tênis aos 8 anos de idade ao acompanhar o pai no clube Sociedade Aliança. Entretanto, pela falta de condições financeiras, acabou “adotado” pelo professor Adanilo Muller,mais conhecido como Nilo. “Eu batia bastante paredão e quando dava uma folga ele (Muller) começou a me treinar. Eu gostava de todos os esportes, o que nunca gostei foi de estudar (risos)”, disse Kley recordando que por esta mesma razão sequer terminou o ‘segundo grau’ (Ensino Médio), feito do qual não exalta: “Não me orgulho disso em nenhum momento, mas acabei fazendo a universidade da vida”.


Kley se orgulha mesmo é da dedicação que sempre teve para com o tênis: “Passei a me dedicar aos 13, 14 anos, minha primeira viagem nacional foi para São Paulo quando tinha 15. Com 17 fui jogar torneio de premiação em Santa Cruz do Sul(RS) e ganhei dos melhores, do Marcos Hocevar, Lobato, os caras de ponta. Ali, fiz um contrato com a Mercur Metalplas. Eles estavam lançando uma raquete nacional e desde então nunca mais joguei com uma raquete que não fosse Mercur. Primeiro foi a de madeira, depois de metal, depois de grafite. E (assinei) uma empresa de Santa Cruz, que fazia bolinhas. Aquilo me alavancou na parte financeira e em agradecimento fiquei 20 anos com eles ajudando a desenvolver as raquetes”.


Atualmente trabalhando como diretor do Taroii Juniors Cup, torneio internacional juvenil realizado no Itamirim Clube de Campo, em Itajaí (SC), Kley conta que se fez tenista em quadra, jogando 8h por dia, servindo de sparing de treino de nomes como Marcelo Henemann, Larri Passos, Fernando Roese, entre outros. “Pode parecer utopia , mas era o que fazia e com isso fui ganhando muito físico. Era alemão, meio grosso, forte e fui ganhando, fui convocado para jogar pela Sogipa, comecei a jogar Interclubes, tinha carteira assinada do tênis”, recordou ele que foi atleta Sogipa no mesmo período de Renan Dalzotto, ex-jogador de vôlei e atual treinador da seleção brasileira masculina da modalidade.


Ivan, de 63 anos, foi bicampeão sul-americano de interclubes, campeão mundial. “Aí comecei a aparecer”, recorda o gaúcho que foi atleta em um período em que os tenistas também tinham “passe” aos modos dos clubes de futebol e formavam times para os interclubes regionais, nacionais e internacionais. 


A primeira ida à Europa foi nos anos 1980, para um confronto Brasil e Portugal. Na ocasião foi foi convocado para substituir Carlos Kirmayr. “Foi bem mais difícil do que esperava, não falava inglês , eu ganhava algumas coisas lá, trazia pra cá, vendia para poder ir de novo. Em Roland Garros e Wimbledon você ganhava 150 libras por dia para pagar hotel, ao invés de ficar em hotel bom, eu ia para casa dos brasileiros para economizar para ter uma gira mais longa na Europa e fazer todo o circuito e aí comecei a entrar no circuito, fiz uma semi de um torneio US$ 50 mil , joguei em Roma - Marcos Hocevar me convidou para jogar”, recordou.


Kley teve como melhor ranking 81º da ATP em 29 de dezembro de 1986 e até chegar ao ápice de sua carreira teve visão de negócio e fez o pouco que faturava render e servir também como reinvestimento na própria carreira: “O que eu fiz foi administrar minha carreira. Comprei um apartamento, um bom apartamento com quadra de tênis para me manter. Larri me convidou para treinar com ele em 1981, 1982, eu não quis. Me casei em 1983 , 70% da minha carreira foi casado e só fui ter filhos programado em 1989. Segui a carreira , joguei todos os Slams, menos a Austrália que era muito caro”, recordou ele que nunca teve um treinador, na base do conhecimento que adquiriu no circuito e dos ensinamentos de Muller.


“Fazia tudo na carreira, até os badges das camisas eu colocava. Meu hobbie nos torneios era pegar os recortes de reportagem dos jornais quando tinha os eventos, ia botando em pastas, as quais guardo desde 1977. Comprava o jornal, botava na pasta, e isso ajudava para arrumar os patrocínios . Não estudei marketing, meu marketing foi o popular que ‘atinja os caras’ . Comecei a gostar. Daí fui um dos primeiros a contratar assessor de imprensa, o Cláudio Amaral, que fazia centimetragem de reportagens e passei a ter mais contratos . Ele era assessor do (Rubens) Barrichello e gravava fitas minhas e o pessoal ficava impressionado pois ninguém tinha isso”, recorda ele que nunca gostou da ideia de renovar contrato “por amizade”. “Nunca gostei disso e sim pelo merecimento. Comecei com US$ 500/mês de patrocínio da Mercur e terminei com US$ 2000 e um período me pagando até eu dando somente aulas . Honrei a marca. Foi incrível”, se orgulha.


Ao todo, recorda, teve oito patrocinadores ao mesmo tempo, que foram primordiais. "Tinha raquete Metalplas, bola Mercur, tênis All Star com meu nome, passagem aérea SAS Scadinavian Arilines. Deles, eu tinha passagens e às vezes precisava ir lá pela Dinamarca para ir (para os torneios) e voltar tinha que ser por lá, Paulo Cleto que me arrumou esse. Tive ajuda da TAP também, tendo que ir via Portugal. Ajudava muito na época. Cada passagem era 2, 3 mil dólares, eu tinha seis, oito passagens por ano, economizava uns US$ 20 mil por temporada . Comecei a ficar mais tranquilo e me associei à ATP, tenho o plano de pensão da ATP você tem que estar entre os 150 do mundo jogar um certo número de torneios tu recebe uma verba de acordo com o ranking que tem . Foi muito bom pois vinha o cheque no começo do ano e aliava algumas despesas, recebe por 20 anos, você paga uma taxa e o dinheiro fica aplicado, tem o seguro de vida que é 50% pra mim, 25% pros meus filhos e os 25% restantes para minha esposa . Vou receber até completar 69 anos . Quando terminar, eu saco o que tiver disponível. Isso ajuda. Eu moldei minha vida bem certa dentro das regras do tênis. Não me iludi com o glamour do tênis”.


Kley recorda que no auge, em termos de patrocínio, chegou a receber entre US$ 60 e 70 mil ao ano, um valor alto para os anos 1980 e o mercado Brasil. Em termos de premiação recebeu exatos US$ 196.614 e descontando todos os impostos embolsou cerca de US$ 150 mil em 11 anos de circuito. Somando patrocínios e tudo, faturou, em suas contas, cerca de US$ 500 mil, que lhe valeria o bom apartamento e o conhecimento que desenvolveu, o Método Kley, que o tornou treinador. “Treinei o Fernando Roese. Ele era 340 do mundo, em seis meses foi a 92, jogou Indian Wells, Cincinnati, US Open ...”. O Método Kley foi aplicado na academia que foi investimento de um amigo que acreditava em seu trabalho e queria que Kley treinasse seus filhos, o Dr. Wallau. O método também foi transformado em palestras e em 2002, aos poucos, foi construindo o sonho da academia própria que culminou hoje em dia com a ADK Tennis.


“Vim pra Itajaí em 2002 , ficava ainda 20 dias na Wallau e 10 aqui. Não tinha sede, esse prédio era um depósito tinha só umas coisas velhas. Vivia no clube, chegava às 7h saía às 22h. Fui montando minha equipe, foi crescendo atletas de nível local, estadual, nacional e depois três ou quatro anos veio o Patrício Arnold . Até 2004, 2005 tinha o Método Ivan Kley, mas tinha o projeto de fazer isso aqui. Primeiro ano ainda viajava muito, fui para 34 torneios daí passou a vir atletas de fora, criei a casa do atleta uma masculina e outra feminina. É preciso ter referência, anos atrás era o Orlando Luz , hoje temos Carol Meligeni, João Menezes, pirâmide, tem a base. Mas se você pergunta, como Itajaí conseguiu fazer ? Planejamento. Tudo foi planejado. Sempre com o apoio da diretoria do Itamirim, da prefeitura municipal via lei de incentivo, buscava as coisas melhores”, finalizou.


O Taroii Juniors Cup chega na fase decisiva com semifinais nesta sexta-feira e as finais sendo jogadas no sábado . A competição dá pontos importantes no ranking mundial da Federação Internacional de Tênis até 18 anos e conta ainda com categorias 16 e 14 anos com pontos no ranking sul-americano Cosat, ranking nacional até 12 anos e Tennis Kids. São 600 atletas de sete países.


O Taroii Juniors Cup tem o patrocínio da Taroii Investment Group, e Promenac Veículos, os co-patrocínios CORE - Clínica de Ortopedia e Reabilitação Esportiva / Marcelo Pfitzer - Fisioterapia / Fort Atacadista e parcerias da FMEL - Fundação Municipal de Esporte e Lazer Itajai, Confederação Brasileira de Tênis e Federação Catarinense de Tênis. O torneio tem as chancelas também da Federação Internacional de Tênis e da Confederação Sul-Americana de Tênis, o Cosat.

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