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As histórias que apenas o Tênis Olímpico poderia contar

Quinta, 22 de julho 2021 às 17:30:50 AMT

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Tênis Profissional

Por Ariane Ferreira – Tóquio irá receber a partir desta sexta-feira, a 29ª edição dos Jogos Olímpicos e com eles os melhores atletas do mundo de 46 modalidades esportivas lutarão por medalhas. O tênis é destaque da 1ª semana.



Ao lado da natação, o tênis, é na programação atual dos Jogos Olímpicos, a segunda principal disputa individual por medalha da primeira semana dos Jogos Olímpicos. O tênis perde apenas das piscinas em termos de importância e brilhantismo olímpico. Vale pontuar que a natação é, ao lado do atletismo – disputado na segunda semana dos Jogos, a modalidade individual de maior importância Olímpica. Ambas, dão ao mundo os homens e mulheres “mais rápidos”. Da natação é sempre o campeão/campeã dos 50 metros livre e do atletismo o campeão/campeã dos 100 metros rasos.

A relevância do tênis para os Jogos Olímpicos é antiga, tanto que o esporte foi uma das 10 modalidades que estiveram presentes na primeira edição dos Jogos, realizados em 1896 em Atenas, na Grécia. Ali, o britânico John Plus Boland tornou-se o primeiro medalhista de ouro olímpico do tênis ao derrotar o grego Dionysios Kasdaglis.  Os dois jogadores derrotados nas semifinais, o grego Konstantinos Paspatis e o húngaro Momčilo Tapavica, receberam o bronze. Este formato de conceder a medalha de bronze para os dois derrotados de semifinais permaneceu até 1920, nos Jogos da Antuérpia (Bélgica) e depois foi repetido na retomada até 1992.

Já na primeira edição dos Jogos, os principais tenistas do momento decidiram não jogar. Em 1896, os campeões dos três torneios do Grand Slam existentes não jogaram em Atenas, foram eles: o britânico Harold Mahony (Wimbledon), o francês André Vacherot (Roland Garros) e o americano Robert Wrenn (US Open).

O tênis deixa os Jogos Olímpicos na edição dos primeiros jogos de Paris, 1924, após uma série de desentendimentos entre a cúpula da Federação Internacional de Tênis (ITF) e o Comitê Olímpico Internacional (COI).

As duas entidades chegam a um consenso na edição de 1968, na histórica Olimpíada do México, que foi marcada pelo protesto silencioso dos velocistas Tommie Smith (ouro) e John Carlos (bronze) nos 200 metros rasos, que fizeram a saudação de punho cerrado e luva negra durante a execução do hino dos Estados Unidos, em protesto contra a crescente onda de racismo no país. Os dois atletas negros protestaram em apoio ao movimento contra o racismo em seu país, liderados por Martin Luther King Jr, que havia sido assassinado em abril daquele ano.

O tênis foi disputado na cidade de Guadalajara, como “modalidade em demonstração” e por isso, apenas jogadores abaixo dos 21 anos poderiam disputar as chaves. Na chave principal, o ouro e a prata ficaram para os espanhóis Manolo Santana e Manuel Orantes, o bronze foi do americano Herbert Fitzgibbon. No feminino, pódio foi respectivamente, a alemã Helga Niessen e as americanas Jane Bartkowicz e Julie Heldman.

Ainda nos Jogos do México, o Brasil ganhou sua primeira medalha no tênis, pela chave do chamado ‘torneio exibição’. O bronze veio nas duplas femininas, conquistada por Suzana Petersen em parceria com a equatoriana  María Eugenia Guzmán. Petersen também foi bronze nas duplas mistas ao lado do soviético Teimuraz Kakulia.

Teste final e o retorno

Quase duas décadas após o primeiro flerte, ITF e COI voltaram a arriscar ter o tênis como uma “modalidade em demonstração” para a edição dos Jogos de 1984 em Los Angeles (Estados Unidos). Ali, as jovens promessas europeias do tênis, o sueco Stefan Edberg, então com 18 anos, e a alemã Steffi Graf, então com 15 anos, foram ouro nas chaves de simples, que novamente era ‘sub-21’, o que acabou excluindo da disputa os principais atletas das chaves com 32 jogadores cada.

O retorno oficial do tênis para as Olimpíadas se dá em 1988, em Seul (Coreia do Sul), novamente com chaves de 32 jogadores para simples feminino e masculino. Entre os homens, o ouro ficou com o eslovaco, então representante da Tchecoslováquia, Miloslav Mecir, então 12º da ATP, a prata com o americano Tim Mayotte, 10º, e as medalhas de bronze com o sueco Edberg, 3º, e o americano Brad Gilbert, 15º.

No feminino, Graf escrevia de vez seu nome na história do esporte mundial tornando-se a primeira e única atleta do tênis a vencer no mesmo ano os quatro torneios do Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open) e ser ouro nas Olimpíadas. Graf foi ainda a primeiro Nª1 do tênis ouro nos Jogos, ela venceu na final a argentina Gabriela Sabatini, que se tornou a primeira mulher argentina em 40 anos a conquistar uma medalha. A primeira tenista, entre homens e mulheres, do país, que teria apenas Juan Martin Del Potro, bronze em Londres (2012) e prata no Rio (2016) como medalhista.

Em 1992, Barcelona, o outro ficou com o alemão Boris Becker, 5º, a prata com o espanhol Jordi Arrese, 30º, e os bronzes com Edberg, 2º, e o russo Andrei Cherkasov, 26º. No feminino, ouro para a americana Jennifer Capriati, 6ª, prata para Graf, 1ª, e bronze para Mary Jo Fernandez, 5ª, e a espanhola Arantxa Sanchéz Vicario, 4ª, que também ficou com a prata nas duplas ao lado da compatriota Conchita Martinez. Elas perderam o ouro para Mary Joe e Gigi Fernandez.

 

Meligeni na trave

Os Jogos de Atlanta, nos Estados Unidos, marcaram o momento olímpico mais importante da história do tênis brasileiro. Fernando Meligeni, 93º naquela semana, chegou a disputa do bronze, justamente na primeira edição olímpica em que os derrotados das semifinais disputariam o bronze em uma partida pela primeira vez.

Para disputar os Jogos de Atlanta, Meligeni precisou comprar briga com o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na ocasião, Arthur Nuzman, que afirmou que não o levaria à disputa por ser argentino. “Eu estava conversando com meu treinador sobre isso e então o Braguinha (empresário e grande incentivador do esporte brasileiro), lá do [Ayrton] Senna e da Fórmula 1, ouviu toda a história e decidiu ligar pra ele [Nuzman] na minha frente”, relembrou a história recentemente no podcast Flow.

“Ali, na frente, ele falou com essas palavras: ‘Ele vai e não me obrigue a te foder’”, seguiu relatando Meligeni a ligação que Braguinha fez para o então presidente do COB. “Ele desligou o telefone e disse: ‘Daqui uma hora alguém do Comitê te liga’ e ligou”.

Classificado para os Jogos como 62º da ATP, Meligeni entrou solto na chave. Na estreia passou pelo italiano Stefano Pescosolido, 70º, na segunda rodada o espanhol Albert Costa, 17º, nas oitavas o australiano mark Philipoussis, 30º, e nas quartas o russo Andrei Olhovsky, convidado, e nas semis perdeu do espanhol Sergi Bruguera, 49º e bicampeão de Roland Garros (1993 e 1994) e foi para a disputa do bronze.

“No primeiro dia, não tinha ninguém me vendo, nenhum jornalista para a coletiva. Depois, quando ganhei as primeiras rodadas, começou a chegar gente. De repente, quando venci o Philipoussis parecia que estava jogando semifinal de Roland Garros. E quando ganhei nas quartas de final, e a partir daí iria disputar medalha, olhava para fora e tinha todo mundo: atleta, dirigente, pessoas bacanas”, recordou sua trajetória em 2016 em entrevista à Rádio Jovem Pan.

“É muito difícil saber lidar com todas essas diferenças, principalmente para o cara que não é de chegada. Não tenho vergonha nenhuma de dizer que quando cheguei na Olimpíada em 96, não era um cara de chegar toda semana em semifinal de campeonato. Tudo isso me custou… entender e me desvincular de tudo isso me custou muito”, seguiu falando à rádio.

Fininho entendeu que “o braço pesou” e acabou perdendo a disputa do perdeu de virada em 3/6 6/2 6/4 para o indiano Leander Paes.

O ouro daquela edição ficou com o tenista da casa, André Agassi, que bateu Bruguera em 6/2 6/3 6/1, no único jogo de cinco sets daquela olimpíada.

 

Tênis Olímpico no Novo Milênio: A Era Williams e Big 4

Os jogos de Sidney (2000) marcam início da era das irmãs Serena e Venus Williams também no tênis olímpico. As irmãs conquistaram ali seu primeiro de três outros nas duplas femininas, com vitórias em Pequim (2008) e Londres (2012). Naquele mesmo ano, Venus foi ouro em simples, feito que a irmã mais nova, Serena, alcançaria em 2012. Em Sidney, o ouro ficou com o russo Yevgeny Kafelnikov, ex-número 1 na ocasião tal como Agassi em 1996.

O novo século também registrou o maior feito olímpico da história do Chile. Foi no tênis, pelas raquetes de Nicolas Massú e Fernando González, que o país conquistou a primeira medalha de ouro da sua história. O feito ocorreu nos Jogos de Atenas (2004) quando derrotaram os alemães Nicolas Kiefer e Rainer Schüttler. No dia seguinte, Massú bateu o americano Mardy Fish e de quebra conquistou o segundo ouro pra si e de seu país. González voltaria a repetir medalha, desta vez prata em simples em Pequim. Ainda em Atenas, mais uma vez a número 1 da WTA ficaria com o ouro, desta vez foi a belga Justine Henin.

Pequim marca o início de uma troca de medalhas entre os tenistas do chamado ‘Big 4’ – o suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal, o sérvio Novak Djokovic e o escocês Andy Murray. Nadal foi ouro em simples derrotando González e Djokovic ficou com o bronze ao bater o americano James Blake. Federer, por sua vez, foi ouro nas duplas ao lado de Stan Wawrinka ao baterem os suecos Thomas Johansson e Simon Aspelin. No feminino em simples, pódio completamente russo: Elena Dementieva, Dinara Safina e vera Zvonareva.

 

Em Londres veio a redenção para Andy Murray, que diante de sua torcida, na mesma grama de Wimbledon que até então não lhe representava títulos, Murray bateu Federer na grande final e o bronze foi de Delpo, que derrotou Djokovic. Entre as mulheres, Serena desencantou vencendo a freguesa russa Maria Sharapova. A bielorrussa Victoria Azarenka foi destaque dos Jogos com ouro nas mistas ao lado de Max Mirnyi e bronze em simples. Também ali, os irmãos Bryan, que vinham do bronze em Pequim, levaram o ouro.

Os jogos do Rio foram marcados por inúmeras desistências de atletas em razão da crise sanitária do Zika vírus no país. Ainda assim, Murray conseguiu defender seu ouro e alcançar o bicampeonato vencendo Del Potro, que tinha frustrado Djokovic, então Nº1 na estreia. O bronze foi uma medalha inédita para o Japão de Kei Nishikori.

No feminino a porto-riquenha Monica Puig fez história e tornou-se a primeira mulher do seu país ouro em Olimpíada. Puig fez mais que história e levou um final de semana inteiro de paz para o seu país com sua vitória sobre a alemã Angelique Kerber. Durante o final de semana brilhante de Puig no Rio de Janeiro, nenhum assassinato foi registrado na pequena nação caribenha, que à época, registra a imprensa local, chegava a ter duas dezenas de assassinatos por final de semana.

Tóquio 2021 começa nesta sexta-feira, 23 de julho, e promete escrever ainda mais história no tênis mundial e na história das nações, mesmo sem valer pontos no circuito profissional (desde 2012) e sem premiação financeira.

 

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