Por Fabrizio Gallas - Uma das figuras mais queridas é o mineiro André Sá, de 43 anos. Aposentado desde 2018 e com uma carreira longeva de 21 anos, o mineiro trabalha desde o ano passado para a Tennis Australia, a federação australiana, e uma de suas principais tarefas é o relacionamento com os atletas e demais membros do circuito para a ATP Cup.
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André como jogador ganhou 11 títulos de ATP nas duplas, foi top 20 na modalidade, e em simples ainda fez quartas de final de Wimbledon e foi 55 do ranking. Na iminência da aposentadoria trabalhou um período como treinador de Thomaz Bellucci e logo a seguir ficou como part-time na Federação Internacional de Tênis até fevereiro de 2019. Foi chamado para a Federação Australiana pelo CEO local e do Aberto da Austrália, Craig Tiley.
"Ele me chamou dizendo que pode ser que tenha uma oportunidade estavam procurando alguém para comunicação e relacionamento com os jogadores mas também com diretores de torneios, donos de eventos, todos os stakeholders do tênis, da ATP, ter maior canal de comunicação. É o que precisava para a ATP Cup, evento totalmente novo, tudo isso precisava de comunicação nova para o vestiário".
Foi crucial para o cargo o trabalho que André sempre prestou ao tênis com seis anos no Conselho dos Jogadores por três períodos e bom relacionamento com os atletas.
"Tenho um relacionamento muito bom com os jogadores dentro e fora das quadras, joguei 21 anos e era exatamente o que eles precisavam e eu falei com o Craig, 'olha, meu contrato termina em fevereiro de 2019 e procuro algo full-time, o que tinha com a ITF era part-time'. Ele me disse que a Tennis Australia tinha essa vaga para mim. É uma federação extremamente séria, os profissionais que trabalham lá são muito bons, é uma federação forte, meu trabalho principal é a ATP Cup, eles têm o Australian Open e a Laver Cup, são os três eventos principais que a entidade está envolvida. E tirar um evento do chão e com o objetivo se tornar o maior evento por equipes do circuito."
"Eu recruto os capitães dos times que são escolhidos pelo número 1 de cada país, mas converso com os jogadores pois é um papel diferente da Copa Davis onde o capitão trabalha o ano inteiro para a federação e na ATP Cup é mais direcionado para aquela semana , você vai, é capitão do time, organiza o time, mas não escala pois vale pontos, número 1 e número dois do país, o capitão gerencia várias coisas. Eu converso com todos os jogadores, é super importante o capitão estar lá pois traz um conteúdo maior de mídia e entretenimento. E minha ideia foi trazer grandes estrelas pois esses caras às vezes não querem estar numa Copa Davis que precisa trabalhar o ano todo, mas querem passar 15 dias conosco, daí eu preciso conversar com o Alexander Zverev ,'que que você acha do Boris Becker ?' Ele diz: 'Excelente'. Daí converso com o Daniil Medvedev. Que que você acha do Safin ? para o Dominic Thiem pergunto sobre o Tomas Muster. Eu uso toda essa comunicação e influência é importante para a competição, tanto com os capitães e o jogador número 1. E também falo com os jogadores em como melhorar o evento. Falamos com todos os jogadores e o jogador fala de igual pra igual comigo como jogador para ir adaptando, conversando e mantendo canais de comunicação".
A competição é nova no calendário e estreou em janeiro deste ano com sucesso de público por três cidades australianas (Brisbane, Sydney e Perth), quase todos os top 10 com excessão de Roger Federer e o time da Suíça e partilhando mais de US$ 17 milhões em premiação e 750 pontos no ranking da ATP. A Sérvia de Novak Djokovic foi a campeã derrotando a Espanha de Rafael Nadal em final que contou com um dos grandes clássicos do tênis.
André fez um balanço positivo da competição e afirmou que para 2021 a meta é trazer justo os suíço e a presença de Roger Federer, que já encerrou o ano por conta de uma nova artroscopia no joelho.
"Na ATP Cup que é meu principal projeto no Tennis Australia, foi um grande sucesso no primeiro ano mesmo com desafios enormes, muita coisa sem referência nenhuma, evento em cidades diferentes, formato diferente, tivemos que aprender muito. Foi um sucesso,recebemos feedback positivo dos tenistas, faz muito sentido eles jogarem a competição você estar defendendo seu país, estar na Austrália, como está colocado no calendário é muito importante. Premiação, pontos e preparação com mínimo de três jogos, fase de grupos, tudo isso vai somando e fazendo que a competição seja fenomenal e nosso objetivo na Tennis Australia que seja das maiores competições por equipes do circuito profissional. Primeiro ano deu super certo, obviamente temos muita coisa pra melhorar. Tomara que em 2021 contemos com a Suíça que foi a única coisinha que faltou (em 2020) ", disse André, que durante a pandemia do coronavírus voltou ao Brasil e vem trabalhando em home office do Rio de Janeiro conciliando com o fuso-horário australiano de 13 horas. Sá começa Às 20h30 e termina em torno das 0h, 1 da madrugada.
Busca para trazer Roger Federer
A questão das exibições pela América do Sul e México pesou para a ausência de Federer em 2020, mas a expectativa é maior para o novo ano: "Ele teve o circuito de exibições na América do Sul que não ajudou muito (para vir para a ATP), ele jogou bastante e depois sentiu que não era a escolha certa para ele, Wawrinka também não tinha se comprometido a jogar e decidiu que iria direto para o Australian Open. Espero que para 2021 eu possa convencer os dois, tanto o Roger Federer quanto o Stan Wawrinka para se comprometerem com o evento".
André contou que a pandemia vem acelerando o trabalho para a realização do evento em 2021 e que dependendo das circunstâncias tudo pode estar pronto para receber os jogadores já no começo de dezembro.
"Com esse lance de COVID-19 são desafios novos que teremos que enfrentar também para a ATP Cup, esperamos que até lá estejam um pouco melhores. Acho difícil as coisas voltarem ao normal até que se tenha uma vacina. Até se ter uma vacina não tem como voltar ao normal como era antes, vai dar pra voltar, mas com restrições, mas bola pra frente, vamos buscar melhores soluções", pontuou.
"A pandemia acelerou nosso trabalho . Com homeoffice parece que estamos trabalhando 3x mais. Estamos trabalhando com cenários diferentes como 'vai dar pra ter público ?' sem público ? Trabalho agora é ver se os jogadores precisarão fazer quarentena se o governo vai colocar quarentena de 14 ou 7 dias, tudo isso temos que ir nos preparando. Se tiver que ter 14 dias, teremos que deixar tudo preparado para os jogadores chegarem aqui 1º de dezembro , se vocês querem fazer uma boa pré-temporada para começar jogando bem o ano, começo de dezembro vocês precisam estar aqui e precisamos ver tudo questão de viagem, detalhes de hotel, acomodação, experiência . Teremos que criar eventos, temos que preparar tudo isso. Negócio está passando muito rápido".
Match tie-break em simples para o futuro ?
Para André Sá o único ponto não favorável para a ATP Cup em 2020 foi a demora na programação com confrontos terminando além de 1 da madrugada. Para o futuro a organização vem pensando em colocar nas simples jogos com o terceiro set em match tie-break de dez pontos.
"A única coisa que acho que escorregamos um pouquinho foi que demorou demais, muitos dias terminando 1, 1h30 da manhã. Não dá para controlar o placar, score, passamos pra frente de repente colocar um match tie-break para simples também no terceiro set , encurtar esses jogos. São três jogos em casa sessão, para o público também não dá para ficar oito horas sentado na cadeira, são soluções para o futuro. Vai saber se é uma solução para o futuro do tênis. Na Laver Cup funcionou muito bem você tem dois sets e depois um terceiro com dez pontos. A torcida fica mais engajada no negócio, quando começa o terceiro set (normal) o pessoal sai, dá uma baixada na adrenalina e um tiebreakão de 10 pontos é emoção total, até nesses jogos com 800 do mundo contra um Zverev, o cara tá sentindo e a galera fica na expectativa de ter uma zebra. No momento o circuito está conservador demais, mas quem sabe isso mude em alguns anos".