Por Fabrizio Gallas - Diretor de relacionamento da Tennis Australia (Federação australiana) desde o ano passado, o mineiro André Sá, que foi top 20 de duplas e somou 11 títulos, concedeu uma entrevista ao Tênis News através de uma live no instagram.
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Entre vários assuntos abordados, a realização do US Open que o ex-tenista de 43 anos aprova com todos os protocolos sendo benéfico para o circuito não sofrer fortes impactos que já vem sofrendo por conta da pandemia.
Para o ex-tenista que também fez quartas de Wimbledon em simples e semi de duplas com Marcelo Melo, as últimas semanas foi um aprendizado para a realização do US Open previsto para 31 de agosto.
"Se tiverem todos os protocolos sim é adequado. Agora os jogadores vêem que é necessário seguir todos os protocolos, colocar todo mundo numa bolha, é necessário levar o mínimo de pessoas possível, ter o mínimo de contato possível com pessoas pois o negócio é perigoso. Se está controlado como se vê na cidade de Nova York, seguindo todo o protocolo, todos fazendo de tudo para não ter contato, vai adiante, tem que girar."
"O US Open está indo adiante pois tem os contratos com televisão e patrocinadores. Vão cortar público, vão deixar de ganhar dinheiro. Se eles estão empurrando para fazer o evento é porque terão receita para eles e isso que o jogador precisa entender. A organização teve que mandar 130 pessoas embora, se não tiver o torneio vai mandar mais e o cara fica achando ruim porque só pode levar uma pessoa. Não acho justo. Um monte de gente vai perder emprego. E é pra fazer isso uma vez, não estão pedindo para entrar nessa bolha de proteção nos próximos seis meses, um evento e tentar ajudar várias pessoas e jogadores. Vão colocar 3 milhões para a ATP e para a WTA para fazerem o que quiser que seria compensar jogadores que não puderam jogar o quali, os duplistas e fazerem challengers que eles achem certo. Eles estão fazendo de tudo. Agora se os casos de COVID-19 aumentarem muito como está acontecendo na Flórida e Geórgia...o único jeito de não ter o US Open é ter uma segunda onda forte, aí cancelam".
Possível corte de até 40% em prize money dos torneios
André, que parou de jogar em 2018 após 21 anos de carreira, e trabalhou na ITF até fevereiro do ano passado, reforça a importância da realização do US Open e da volta do circuito justamente para manter a saúde não só dos atletas, mas da própria turnê da ATP. Ele teme uma quebradeira geral em todo o circuito e projeta uma baixa em premiação de até 40% dos torneios menores.
"A economia tem que girar. É super difícil assim como no Brasil, a economia ou a saúde, tem argumentos para os dois lados ,agora é preciso tentar e dentro da situação atual. Se tivesse ainda o chapéu de jogador, nunca fui top, eu diria que iria para o US Open de qualquer jeito. Eu vou. Preciso. Tenho família em casa. Estou há quatro meses sem jogar, sem ganhar. É 50 mil dólares eu perdendo na primeira rodada, 90 ganhando uma, 170 mil ganhando duas e só tem mais dois Slams até o fim do ano e o resto ATP e pode ter certeza que a ATP vai cortar o prize money , tá todo mundo perdendo dinheiro esse ano, vai sim existir uma redução de prize money em ATPs agora Grand Slam tem que fazer de tudo. Acredito que o corte em premiação pode ser de 30 a 40%"
"O tour, o circuito não pode parar até chegar a vacina. Se não vai quebrar todo mundo , quebrar torneio, mesmo a USTA, os Slams. Quatro meses sem receita...quem é que sobrevive ? Vai dar certo. Tem que tentar. USTA tem que tirar o chapéu, fizeram um plano dentro de um cenário dificílimo, cenário muda a cada semana, caras trabalhando mil horas por dia, os caras estão trabalhando bem. Os tenistas tem que entender. Situação mundial não é a ideal. Se não explodir de novo a COVID, vai todo mundo. Acho que o único que não vai ao US Open é o Nadal, ele vai escolher Roland Garros, ficar no saibro e jogar os torneios da Europa."
Para o mineiro, talvez o único ato questionado do torneio em Nova York seja permitir aos jogadores ficarem em casas: "Talvez seja um erro do US Open é abrir para ficar em casas, em Long Island aí tira um pouco da bolha, é mais difícil controlar. Mas faltam dois meses,de repente até lá melhorou, torço para voltar o mais rápido possível."
Se este ano a Tennis Australia com a ATP Cup e Australian Open não foi afetada por conta da pandemia, a projeção, segundo André, para 2021, não é animadora. O mineiro tem um papel mais fixo na competição que estreou esse ano com sucesso levando praticamente todos os top 10 com exceto Roger Federer.
"Todos os nossos eventos rodamos direitinho esse ano, mas a projeção para 2021 é de queda de receita, já se sabe que teremos queda de receita na ATP Cup e no Australian Open , a galera não vai querer viajar, os patrocinadores, parceiros da China, a projeção para 2021 é menor então temos que segurar. Os gastos vão aumentar porque tem todos os protocolos de COVID-19, tem limpeza, alcool gel, mascara. Menos receita e mais gastos".
Pontuação dos torneios e ranking
André revelou que a ATP vem conversando com os jogadores e pode tomar uma decisão nas próximas semanas sobre a questão do ranking que no momento está congelado. Segundo ele os tenistas podem perder pontos gradualmente e a atual posição congelada ser usada para entrada nos torneios até o fim de 2020.
"A ATP vai decidir nas próximas semanas. Jogador não vai perder todos os pontos de cara, será gradual estão pensando em duas opções de ranking seria o de inscrição em eventos mantendo esse ranking congelado até o fim do ano e outro com perda gradual, matemática forte e muita dor de cabeça. Pode ter certeza que não vai agradar todo mundo. Você precisa ver qual o propósito. Na minha visão é apoiar todo mundo financeiramente e só fazendo eventos."
Importância de Federer para o Conselho de Jogadores
André foi por seis anos membro do Conselho de Jogadores da ATP e em um período conviveu diretamente com Roger Federer como presidente o qual destacou papel fundamental do suíço para o aumento da premiação na turnê.
"O bom é que dentro do Conselho, Federer tinha sempre uma visão geral. Quais os principais assuntos discutidos no Conselho ? Distribuição de prêmios e calendário . De Slam, Masters 1000, challengers, discussão eterna. Federer foi o cara que pegou bem lá atrás e disse que não estava justo, foi quando teve o salto na distribuição. Para ele pessoalmente não era interessante ter que dividir com outros jogadores pois ele ganhava tudo. Sentava com a USTA, Tennis Australia, todo mundo, para chegarem em um número e se não chegasse os jogadores fariam alguma coisa, até não jogar. Isso ele fez muito bem. Lá dentro no Conselho era um cara muito aberto, era muito curioso, perguntava, cara dos challengers, futures, treinadores, pessoa interessada. Dentro da situação dele, um caráter enorme e as pessoas respeitam muito ele. Virar e contribuir para todas as classes, um privilégio. Ainda bem que ele e Nadal voltaram para o Conselho. Ele deixou esse legado aos tops algo que não acontecia com Sampras e Agassi que ficavam na deles. Liderou o Conselho nessas mudanças."