Por Ariane Ferreira - Juan Carlos Ferrero, está a todo vapor em sua academia de tênis, mas dedicou um tempo para falar com o Tênis News e compartilhar seus conhecimentos na formação de jogadores, analisar o circuito atual e falar de Alexander Zverev.
Ex-número 1 do mundo, Ferrero foi um dos maiores rivais de Gustavo Kuerten no saibro, com quem tem retrospecto positivo em 3x2, e hoje comanda uma das mais bem sucedidas academias de tênis na formação de atletas e profissionais, a Equelite, que tem como sede principal a cidade de Villena, nas cercanias de Valência na Espanha. Além de contar com parceiros de metodologia técnica em unidades na Polônia, Alemanha e China.
A dedicação do espanhol à própria academia é tamanha, que ali mora com a esposa, Eva, e os filhos pequenos Vega e Juan Carlos Jr. Deste modo, o 'Mosquito' se mantém muito próximo aos seus profissionais e a também aos inúmeros jovens de todo o mundo que lá buscam melhorias em seu esporte.
A Equelite foi a casa de diversos tenistas brasileiros. Atualmente recebe Jordan Correia, que está na Equelite há três anos e Guilherme Diniz, que chegou em 2017, aos 17 anos para o processo de profissionalização.
Ferrero, que já fez de um tudo no tênis e até diretor e proprietário de torneio do circuito já foi, conversou conosco após uma troca de e-mails e nela fala, dentre muitas coisas, que Rafael Nadal é a prova de que o "esforço tem sua recompensa" e vê como possível a volta de Garbiñe Muguruza ao número 1 da WTA.
O campeão de Roland Garros em 2003 destacou os objetivos e o trabalho forte ao lado de Zverev, a quem decreta: "Ele tem que ter como objetivo real ser número 1".
Tênis News: Muitos jogadores brasileiros passaram ou estão em sua academia. Sabendo disso e de sua proximidade com os atletas e seu histórico com Guga. Você vê um 'estilo brasileiro de jogar'? Há algum legado de Guga neles?
Juan Carlos Ferrero: Eu acredito que cada jogador tem seu estilo de jogo. Às vezes coincidem com seus ídolos e outros não. Não existe nenhum 'modo' de jogar.
TN: Jordan Correia chegou à sua academia em um momento extremamente complicado da carreira de um atleta [Aos 17 anos no meio da transição do juvenil para o profissional]. Como você analisa a evolução dele e como foi, se foi, projetado esse caminho?
JCF: A mudança é sempre muito difícil, mas Jordan* trabalhou bem e tem progredido a cada ano. Neste, de fato subiu muito seu nível e estou o vendo mais confiante em si mesmo. Está tendo um grande fim de ano e já de cara no próximo ano esperamos que possa subir muito mais no ranking. Este ano já deu um grande salto do top 1000 para o 700 e foi chegando às rodadas finais em vários Futures.
*Jordan Correia é o atual 740º da ATP e no ano acumula três semifinais de Futures e tem um título nas duplas. O brasileiro é treinado por Oscar Soria, um dos mais antigos professores da academia.
TN: Em 2013 esteve no Brasil Open acompanhando Nicolas Almagro, e á época nos comentou que não desejava deixar sua academia por mais de cinco semanas. Agora com seus filhos pequenos, como foi a decisão de voltar ao circuito como treinador? Isso era algo que já pensava antes de receber o convite de Zverev?
JCF: Moro na academia há anos. Agora com a minha família. Estou muito mais no dia a dia dela. Quando Sascha me propôs a parceria, foi algo que eu tinha vontade de fazer. Então, viajarei com ele por várias semanas e de resto ficarei em casa, ou seja, na academia.
TN: No mundo de hoje tudo muda muito rápido e no tênis não é muito diferente. Sua retirada foi há apenas cinco anos, mas de lá pra cá o que foi que mudou?
JCF: O tênis, o jogo em si, é muito mais rápido e isso faz com que o saque e o resto sejam determinantes. Não se vê trocas de bolas longas constantemente, mesmo que sigam existindo é claro!
Já os torneios se esforçam cada vez mais para se destacar independente do nível (250, 500 e afins) Acredito que tentam oferecer coisas novas e boas tanto para o público como para os jogadores. Sempre têm surpresas.
Hoje em dia as equipes são muito mais completas e pessoais [exclusivas] que antes. Isso também tem a ver com a importância do tênis. Agora, o tênis é um esporte de visibilidade enorme e os jogadores têm mais capacidade de buscar o melhor para eles. Já não é mais apenas viajar com o treinador, agora muitas vezes são acompanhados de preparador físico, fisioterapeuta, psicólogo. Pessoas importantes da equipe, mas que antes era mais raros que acompanhassem os jogadores durante os torneios.
TN: Vamos falar um pouco de tênis espanhol. Vamos começar por Carreño, que desde que começou a treinar em sua academia e com Samuel López [novembro de 2015] é outro jogador, mais confiante. Em fevereiro deste ano nos confirmou esta constatação. O que faltava a ele quando aí chegou? Onde você vê que ele pode chegar?
JCF: Acredito que Pablo tinha muitas coisas que melhorar quando chegou. Foi polindo as coisas, mas sem dúvida, o que mais melhorou foi sua confiança. Ele tem qualidade para seguir no top 10 e melhorar os resultados deste ano, que já foram muito bons. Acredito que ele pode lutar por tudo. A medida que a pré-temporada avance, ele e seus treinadores colocarão as metas que considerarem apropriadas. O que ele precisa é confiar em si mesmo e fará grandes coisas como já demonstrou.
TN: Como você vê Garbiñe Muguruza? Acreditas que ela pode voltar ao número 1 mesmo em um circuito que terá Serena Williams de volta?
JCF: Este ano houve muita igualdade. Sim, ela pode voltar ao número 1 e para isso ela tem que seguir trabalhando na regularidade. Ela já demonstrou que é capaz de ganhar das melhores, inclusive de Serena.
TN: Que palavras você teria para falar de Rafael Nadal?
JCF: Rafa fez outro ano incrível. É muito difícil voltar ao número 1, mas conseguiu isso mostrando um grande nível. Ele é um exemplo de que o esforço tem a sua recompensa. Temos que parabenizá-los e desejar a ele outro grande ano.
TN: Voltemos a falar de Zverev. A mídia avalia seu inicio de trabalho ao lado Zverev muito bom, vencedor, mesmo com a derrota cedo no US Open. Mas e como vocês avaliam esses mesmos resultados?
JCF: Sascha obteve resultados melhores do que o esperado. De maneira rápida já está na parte mais acima. Isto requer um trabalho mental que ainda não tinha que ter feito e que está o melhorando. Foi um ano com muitos bons momentos e colocaram nele expectativas muito altas com as quais lidar. Este ano é um antes de depois para Sascha. Vamos dar tudo por este ano de 2018.
TN: É sempre bom ter calmas com grandes e jovens talentos, mas o mundo do tênis tem Zverev como próximo número 1. Você, o treinador, como o vê? Acreditas que os retornos de nomes como [Novak] Djokovic e [Andy] Murray podem atrasar o caminho dele?
JCF: Como já disse, ele é jovem e temos que trabalhar muito pois ser o número 1 não é nada fácil. Este ano terá muita concorrência. Não apenas pelo Big 4 [Roger Federe, Nadal, Djokovic e Murray], mas por todos os jogadores jovens que começam a lhe fazer frente. Sascha já demonstrou que pode ganhar dos melhores e tem que ter como objetivo real ser número 1.
TN: Agora Zverev tem muitos pontos a defender e tem a personalidade muito competitiva. Você o vê preparado para um possível revés no ano? Como se trabalha isso com ele?
JCF: É necessário trabalhar tudo. Acredito que Sacha não sairá defendendo pontos e sim os vencendo. Ele tem uma mentalidade muito competitiva sim, e isso o ajudará a melhorar os resultados. Como comentei, haverá muita concorrência e desta forma haverá momentos bons e ruins. Nós vamos lutar para estar ali em cima ao fim do ano.