Por Fabrizio Gallas - Marcelo Melo e Bruno Soares, os dois maiores duplistas masculinos na história do Brasil, já chegaram ao Rio, onde jogarão, juntos, o Rio Open, a partir desta segunda. Eles concederam entrevista coletiva no Jockey Club, local do torneio.
O atual campeão do Australian Open comentou como surgiu a ideia de os dois jogarem juntos neste Rio Open. “A ideia veio no final do ano passado, mas, obviamente, não é tão simples assim [fazê-la realidade]. Temos algumas variáveis: eu estava vindo de uma mudança [de parceiro], tinha que ver com o Jayme [Murray, seu novo parceiro, se podia jogar com Marcelo]. Ficou a ideia no ar e a gente ia tentar [concretizá-la]. A decisão foi em cima da hora, já que o Marcelo foi pra Roterdã e também dependia do Ivan [Dodig, parceiro de Melo]. Como ele [Dodig] não sabia se ia entrar na chave de simples, decidiu não vir. Depois da Austrália, ficou mais fácil interromper com o Jayme, deu pra dar uma aliviada, deixar de jogar junto em fevereiro. O Marcelo bateu um papo com o Ivan e nós ficamos liberados para o Rio Open”.
Sobre fazerem dupla também no Brasil Open, que começa na outra segunda feira, 22, Bruno relatou. “Para o Brasil Open, o Ivan tem a possibilidade de entrar na chave de Acapulco [ATP 500 que acontece simultaneamente ao 250 realizado em São Paulo, a partir do dia 22 de fevereiro], então estamos vendo isso ainda”.
Seguindo a entrevista, Marcelo Melo comentou o título do amigo no Australian Open, o segundo de um brasileiro em um Grand Slam, em menos de um ano. “Quanto mais títulos, melhor para todo mundo. Quando voltei da Austrália, vi a semi e a final [de Bruno e Jayme Murray] e eles vinham jogando muito bem, especialmente depois da semi. Até mandei uma mensagem pressionando o Bruno, falando que chegou a hora deles [vencerem um Slam]. Acho que o tênis é isso mesmo; o único momento que a gente compete um contra o outro é quando estamos em lados opostos da quadra. Fora, a gente sempre torce um pelo outro. Isso é bom para os meninos que estão começando. Foi realmente muito bom, para mim, pro tênis, pra todo mundo. Foi realmente muito gratificante. Eu fiquei muito feliz, foram dois títulos [de Grand Slam, para os brasileiros, já que Melo ganhou Roland Garros 2015 e Bruno o Australian Open 2016], no último ano”.
Falando do favoritismo no Rio Open, Bruno agiu com naturalidade. “A gente está acostumado a ser cabeça de chave. Nos torneios de saibro têm muito isso, têm vários jogadores de simples na chave. Fognini, Cuevas, Tsonga, todos são grandes duplistas. Os outros que não têm características de jogar com tanta frequência. Pegamos uma chave chata por pegar outra dupla brasileira. A gente sabia que ia ser favorito, essa pressão é normal, acompanha a gente. Sempre pegamos o lado da motivação, temos uma chance legal.
O próximo assunto, então, era um pouco desagradável: a doença Zika, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, cuja epidemia vem causando medo em todo o país. O Rio de Janeiro, local do ATP 500 desta semana, é um dos mais afetados pelo mosquito.
“Pra mim, até teve [perguntas de tenistas estrangeiros sobre a Zika], mas perguntaram mais sobre Olimpíadas. Às vezes eles não têm tantas informações. É mais perigoso para as mulheres grávidas”, disse Marcelo, querendo ‘tranquilizar’ os visitantes. Bruno, por sua vez, não se aprofundou no assunto.
“Até perguntaram, mas nada demais”.
Após passarem o assunto mosquito, o mais novo campeão de Grand Slam em duplas masculinas foi questionado sobre um dia ser número um do mundo, assim como o grande amigo Marcelo, e salientou quão difícil e trabalhoso é o caminho até o jogador alcançar o posto, mas disse “continuar correndo atrás”.
“Você vê o que o Marcelo teve que fazer para ser o número 1 do mundo. Ser número 1 vem acompanhado de uma série de vitórias e títulos importantes. Um título de Grand Slam significa 2000 pontos, eu preciso ganhar muita coisa ainda para alcançar o Marcelo. Continua sendo um sonho, um objetivo, continuo correndo atrás”.
Depois, Bruno explicou como os estrangeiros, não adaptados ao clima da cidade, podem se acostumar melhor às especificidades do Rio de Janeiro, visando os Jogos Olímpicos 2016, em agosto. “Com certeza dá [para um tenista se adaptar melhor à cidade, vindo jogar o Rio Open]. Em lugares como o Rio, a grande dificuldade é o clima, como seu corpo vai reagir a ele. O fator quadra é questão que se pega em dois, três dias. O clima é o que pesa no rio. De manhã, é muito calor; de noite, muito úmido. É um grande desafio. O pessoal que vem para esse torneio se prepara melhor para as Olimpíadas, com certeza, do que a turma que vai vir pela primeira vez”.
Ele explicou, ainda, que, se quiser jogar duplas mistas nos Jogos Rio 2016, tem que chegar em Marcelo, no ranking. “O critério para jogar mistas nas Olimpíadas é o ranking. O Marcelo está na frente, eu tenho que alcançá-lo [para disputar as mistas nos Jogos Olímpicos].”
Sobre o resultado neste Rio Open, especificamente, Melo ressaltou a boa fase dos dois brasileiros, mas manteve os pés no chão e afirmou que o passado não entra em quadra.
“A expectativa é muito boa. Individualmente, estamos jogando o melhor tênis das nossas carreiras. Nosso histórico é muito bom, mas, na dupla, pequenos detalhes decidem. Em Roterdã, a gente perdeu [ele e Ivan Dodig] tendo tido match point. Pé no chão, não é por que sou número 1 e o Bruno ganhou na Austrália que a gente vai ganhar [no Rio]. Se perdermos, será bom pra saber onde você estamos errando”.
Por fim, falando sobre os campeonatos que disputarão juntos antes das Olimpíadas, como forma de a dupla se preparar para a busca ao Ouro Olímpico, Marcelo despistou. “Não é tão fácil decidirmos quais torneios vamos jogar [juntos]. Antes de Wimbledon, devemos jogar um preparatório, outros ATPs 250, mas Grand Slam, não”.