Por Ariane Ferreira - O tenista número quatro do Brasil e 151 do mundo, Rogerio Dutra Silva conversou com o Tênis News e falou de diversos temas delicados ao circuito como sistema de venda de resultados e a falta de atenção aos jogadores fora top 60.
Nós conversamos na época do Brasil Open (leia a entrevista aqui) e você estava voltando de uma parada longa e sem muita expectativa para o ano. Então, como é que você vê seu ano agora em outubro?
O ano não acabou ainda, mas até agora foi muito bom. Espero fazer melhor ainda, quem sabe ficar perto dos 100 melhores ou entrar ali.
Quando você volta de uma parada, não sabe muito o que pode acontecer. É complicado ter um prognóstico. Quando se está jogando, dá. Mas tive uma passagem muito boa pela Europa. Vamos ver como segue.
Vendo sua projeção de calendário até o fim do ano, você acha que dá pra chegar entre os 100?
Com certeza. São torneios muito duros. Mas venho de uma sequência muito boa. Fiz final em Barranquilla (Colômbia - perdeu de Borna Coric), fiz semi em Porto Alegre. Espero continuar somando.
Vi você com a Luiza (sua filha que tem 1 ano) e o (Novak) Djokovic é quem vive dizendo que ser pai o mudou como tenista e pessoa. O que a Luiza mudou no Rogerinho?
Muita coisa! Você amadurece muito.
Amadurecer me ajudou bastante. Sempre fui um cara elétrico e, às vezes, passava um pouco. Hoje, se não tenho um bom dia, consigo segurar. Tenho tido uma constância que não tinha antes. Este amadurecimento foi a Luiza que me trouxe.
Viagens, você fica longe e certamente sente falta dela. Como é isso? Perdi, ok, vou pra casa...
(interrompendo) Pelo contrário! Simplesmente pelo fato de estar longe dela tenho que fazer valer a pena. É uma coisa que me motiva.
Isso me motiva em ser cada vez mais profissional, em melhorar meu jogo tecnicamente, fisicamente, mentalmente.
Você teve uma ascensão de ranking considerável do inicio do ano pra cá. Isso chamou patrocínio? Mudou alguma coisa?
Por enquanto nada (risos). Sigo com os patrocínios que tinha antes, Correios junto com a Confederação (CBT), que esteve comigo nesse momento difícil (a lesão em 2014). Também a Babolat, que sempre apoiou minha carreira. Infelizmente não tive nada além disso. Espero que sim, tenha mais patrocinadores, mas isso não é uma coisa que fico esperando.
Você já começou a pensar 2016?
Não. Vai depender do ranking. A única coisa definida é que vou fazer minha pré-temporada em Buenos Aires, ao menos três a quatro semanas lá. E ano que vem é o ranking que vai determinar o calendário.
Vocês treinam especificamente em algum clube ou equipe por lá?
Quando a gente está lá, treinamos no Haros, que é um clube que tem ao lado do Lawn (Tennis Club - onde é realizado anualmente o ATP 250 local). Lá, se a gente treina com o (Carlos) Berlocq e é em um clube, no outro dia é com o (Juan Martín) Del Potro em outro. Meio que não tem um clube fixo, depende de com quem vamos treinar.
Vocês pretendem começar no fim de novembro?
Vai depender de resultados. Mas deve ser isso mesmo, fim de novembro e ficarmos lá boa parte de dezembro.
O novo presidente da ITF, David Haggerty, comentou que em certos pontos os jogadores têm participado pouco ou não têm sido ouvidos. Você acha que o fato de ele ter opinado assim, vocês serão melhor ouvidos?
Acho que os jogadores tinham que ser o carro chefe do negócio, porque quem dá o espetáculo são os jogadores. Eu acho que há muito tempo os jogadores não são ouvidos. Não só em termos disso (escolhas do piso). Tem a questão do prize money, também. Acho um absurdo um jogador 120 do mundo não conseguir pagar um técnico pra viajar ou até um jogador 200 do mundo não ser respeitado como jogador profissional.
Eu já falei isso algumas vezes. O cara é 200, 250 do mundo e não tem onde comer. Não consegue pagar o almoço ou jantar. Esse cara é profissional igual. O cara 250 do mundo de golfe, qualquer outra profissão, consegue pelo menos pagar sua equipe e ter uma viagem decente. Faz muito tempo que os jogadores não são ouvidos - tirando os, digamos, tops, claro!
Os tops são sempre ouvidos, estão sempre colocando dinheiro a mais para eles. O que concordo. Mas acho que precisa se olhar o conjunto.
O que acontece? O cara joga 20 anos de tênis, acaba a carreira dele e aí? Ele não tem nada! O cara deixa a família dele em casa e não tem nada. Teria que se olhar com outros olhos para fechar essa lacuna. Se você olhar outros esportes não tem muito disso. No quesito de prize money, que o cara dedica tanto tempo da vida dele, o tem pago.
Não sei se vai acontecer (no tênis), mas tomara que aconteça.
Até quando você se vê jogando? O que te motiva além da Luisa?
O amadurecimento é uma coisa que faz com que você mude. Quando se é mais novo você não dá tanta importância ao corpo. Você joga 4h e recupera rápido. Quando você vai ficando mais velho, vai sentindo na pele.
Acaba se cuidando mais.
Eu nunca tinha levado um preparador físico para uma gira, esse ano o levei dois meses comigo e o técnico à Europa. Consegui jogar três meses sem ter nenhuma desistência e nenhum problema físico.
Você agrega com o tempo. Infelizmente, foi com 31 anos (risos). Mas foi também agora que tive condições para fazer.
Sobre jogar, estou muito fresco com relação a cabeça e vontade de jogar. Meu corpo aguentando, vou embora! Quero jogar mais uns 3, 4 anos de simples e depois quem sabe, ver se consigo continuar jogando.