Por Ariane Ferreira - O público brasileiro de esportes é conhecido por seu apoio efusivo e barulhento e no tênis chegou a ganhar fama de mal educado, mas nesta Billie Jean King Cup surpreendeu e fez duelo com a Alemanha inesquecível.
Pela primeira vez na história, o tênis feminino do Brasil foi recebido em um dos maiores palcos esportivos do país, o lendário Ginásio do Ibirapuera em São Paulo, para a disputa do qualificatório do Grupo Mundial da Billie Jean King Cup diante da Alemanha, que trouxe ninguém menos que a ex-número 1 do mundo e dona de três títulos do Grand Slam, Angelique Kerber.
Entre 2012 e 2019, anualmente o Ginásio do Ibirapuera recebeu o Brasil Open de Tênis, torneio ATP 250. Neste meio tempo, o local foi palco da disputa de três edições do Challenger Tour Finals e a disputa da Copa Davis entre Brasil e Espanha em 2014. Todos estes eventos parte do calendário masculino de tênis.
Por todos estes anos, o público paulistano e brasileiro foi criando sua própria maneira de torcer, que em muitos casos extrapolava as regras de silêncio que o esporte requer. Quando o público 'adotava' um atleta para torcer, mesmo que não fosse brasileiro, o rival sofria as mais sonoras pressões, de vaias após erros com primeiro serviço a gritos de "vamos quebrar, vamos quebrar" sem nenhum breakpoint a vista.
Entretanto, 5 anos longe de grandes eventos de tênis e campanhas educativas nas redes sociais parecem ter feito bem ao público paulistano. Para além da saudade do contato com o tênis em alto nível, o público do Ibirapuera levou um amor carinhoso para 'as meninas do Brasil' e isso também refletiu com o tratamento a equipe alemã, que foi recebida com muitos aplausos e carinho do público.
Nos dois dias de competição, ao ser apresentada, Kerber foi muito aplaudida pelo público presente. Durante a execução do Hino Nacional da Alemanha, o Ibirapuera manteve-se de pé e em silêncio para na sequência cantar o hino brasileiro.
Relembrando a entrada das equipes da Billie Jean King Cup no Ibirapuera. Acho que vou ter saudade desse apoio, pq vários de vcs decidiram que só criticam essas mulheres brilhantes de uns tempos pra cá. #VamosBrasil pic.twitter.com/ZAGrC5qDZR
— Ariane Ferreira ☁️ (@euarianef) April 14, 2024
Mesmo com "batucadas" nas arquibancadas respeitou todos os limites de tempo e silêncio que o tênis pede, para explodir em cantos e apoios nos intervalos de games em um "ambiente incrível" resumiu Laura Siegmund.
Do lado do Brasil, o capitão Luiz Peniza afirmou que viveu "uma emoção muito forte" ao sentir o apoio do público daquela maneira. Laura Pigossi, destacou na sexta-feira que "era um momento para jamais esquecer".
"Foi a minha estreia, então eu fiquei muito feliz com a torcida. Espero que outras vezes aconteça desta mesma forma", comentou ao fim do confronto no sábado o capitão brasileiro.
Parte do novo comportamento do público pode ter se dado pelo fato de que antes mesmo do início do confronto, na sexta-feira e também no sábado, a organização fez questão de explicar a 'regra de interferência da torcida', que começa com a perda de um ponto em game para a equipe local e pode gerar a perda de um game inteiro em caso de recorrência. A regra foi criada para tentar barrar interferência entre saques nas competições entre países da ITF.
Ainda assim, as atletas brasileiras contaram com o apoio do público para desestabilizar as adversárias e se motivarem: "Jogando em casa, a gente tem que usar todos os recursos a nosso favor. Tinha que usar a torcida, tinha que vibrar e deixar as adversárias o mais desconfortáveis possível. Tudo isso conta. Eu tenho perfil de jogar muito com a torcida, chamar o apoio para mim. Acho que a Bia ontem, vendo que a Laura jogou com vibração e funcionava, então trouxe isso para quadra", apontou Carol Meligeni na entrevista deste sábado.
Bia Haddad então explicou que não tem o perfil de ser uma atleta que jogue com a torcida, de pedir e buscar apoio: "Não é o meu perfil, a primeira vez que eu chamei a torcida eu até fiquei constrangida", disse sorrindo. "Fiquei sem graça porque não é algo natural a mim, mas conforme o jogo foi acontecendo e o público foi vindo, eu fui ficando mais confortável com isso e me ajudou muito durante o jogo".