Por Gustavo Loio - Qual brasileiro imaginaria que um(a) tenista do país ganharia 12 partidas seguidas (e na grama!!), em 2022? Provavelmente, poucos. Ou nenhum, sendo ainda mais realista. Mas este sonho se tornou realidade graças ao fenômeno chamado Bia Maia.
Essa campanha irretocável, com dois títulos (Nothingham e Birmingham), levou (com todo merecimento, claro) a brasileira ao até então inimaginável top 30 do ranking mundial. A partir de segunda-feira, Bia (hoje a 29ª) será a 27ª ou 28ª, posição jamais alcançada por uma brazuca desde a criação do ranking, em 1975. Num país onde se investe tão pouco (ou praticamente nada) no tênis feminino, pode soar surreal ter uma representante em um grupo tão seleto. Fica aqui a torcida para que o tênis feminino, enfim, seja valorizado no Brasil.
Primeira brasileira a ganhar um torneio em 54 anos na grama (a última foi a incomparável Maria Esther Bueno), Bia teve sua incrível sequência de triunfos interrompida apenas nesta sexta, nas semifinais de Eastbourne, diante da tcheca Petra Kvitova, bicampeã de Wimbledon. Aliás, a algoz da brasileira foi uma de suas vítimas na sequência de vitórias em Birmingham. Ex-número 1 do mundo e também multicampeã de Grand Slam, a romena Simona Halep também atravessou o caminho de Bia na grama semana passada. E perdeu.
Que incrível será acompanhar pela TV Wimbledon, na semana que vem, com Bia entre as favoritas. Será sua estreia em Slams nesta posição. A primeira rodada será contra a eslovena Kaja Juvan, 60ª do planeta, de quem venceu nos dois primeiros encontros. Depois, a paulista encara a qualifier australiana Maddison Inglis, 129ª, ou a húngara Dalma Galfi (81ª). Chegando até lá, Bia poderá duelar com a suíça Belinda Bencic (14ª e campeã olímpica), na terceira rodada. Numa eventual oitavas de final, a 29ª do mundo poderá duelar com a estoniana Anett Kontaveit, cabeça de chave número 2.
A primeira vez que vi Bia jogando in loco foi na Semana Guga Kuerten de 2011, em Floripa. Então com 15 anos e uma das integrantes do projeto Rio 2016, essa canhota já impressionava pelo estilo agressivo e ganhou o torneio na categoria 18 anos. Desde então, a brasileira superou algumas lesões e até uma suspensão por dopig, em julho de 2019: após 10 meses fora das quadras, provou que seu caso foi por uma contaminação cruzada na manipulação de vitaminas em farmácia.
Desde sempre, a campeã de Nothingham e Birmingham tem mostrado que segue com os pés no chão, sem se deslumbrar com a excelente fase, assim como sempre mostrou confiança quando se deparava com as lesões. E ela não se cansa de dar a volta por cima.
A trajetória da melhor brasileira desde a Rainha Maria Esther é, certamente, a realização de um sonho de todas as que jogaram e brilharam de lá pra cá. Bia representa várias gerações de brasileiras que lutaram por esse esporte tão difícil e, ao mesmo tempo, encantador.
Parece um sonho que temos uma representante entre as gigantes do tênis mundial. Que a nossa número 1 siga por muito tempo entre as melhores do planeta.
Obrigado, Bia!
Sobre Gustavo Loio
Jornalista formado em 1999 e pós-graduado em Assessoria de Comunicação, já trabalhou com Gustavo Kuerten. E, também, nas redações da Infoglobo (O Globo, Extra e Época), do Diário Lance! e do Jornal O Dia, além do site oficial do Pan de 2007, no Rio.