Por Marden Diller – Em um momento em que o futuro do tênis brasileiro está envolto por um clima de dúvidas, uma luz se acende no fim do túnel com nome e sobrenome: João Menezes. Mas nem tudo na vida do jovem tenista foi fácil.
No dia 17 de dezembro de 1996, na cidade de Uberaba, se iniciava a história do menino João. Tendo seu primeiro contato com o tênis aos 8 anos de idade, rapidamente iniciou seu desenvolvimento na academia ADK Tennis, em Itajaí, no estado de Santa Catarina.
Apesar de ter uma boa relação com o esporte, Menezes acabava ofuscado na academia, já que dividia os holofotes com dois nomes que obtiveram maior sucesso que ele no circuito juvenil: Orlando Luz e Marcelo Zormann, que atingiram a 1ª e a 12ª posição do ranking juvenil nos anos de 2015 e 2014, respectivamente.
Tendo feito sua melhor campanha no juvenil justamente em 2014, atingindo o 21º posto do ranking, Menezes não obteve grandes resultados nos torneios de simples, o que o manteve longe do braço de apoio da CBT, tendo apenas parcerias de material e dependendo de sua família para todo o resto.
Para agravar mais a situação, após o vice-campeonato nas duplas no US Open juvenil ao lado de Rafael Matos, em 2014, uma lesão no joelho esquerdo veio prejudicar a carreira do mineiro de 18 anos, na época. Foram três cirurgias no joelho entre 2014 e 2016, seguidas de uma lesão na coluna, que colocaram um grande ponto de interrogação em sua carreira.
Justamente em 2016, aos 20 anos, o tenista tomou uma decisão radical. Com o apoio de sua família, o famigerado “paitrocínio”, se mudou para a Espanha para treinar na academia 4Slam, do ex-tenista Galo Blanco, que já trabalhou com nomes como Milos Raonic, Andrey Rublev, Karen Khachanov e Dominic Thiem.
A ação rendeu um salto de quase 200 posições, um grande feito para quem ocupava o 748º posto do ranking. Mas a adaptação ao circuito profissional não seguia das mais fáceis. Distante da família e com dificuldades de se firmar no circuito Challenger, o ponto de interrogação sobre sua carreira crescia ainda mais e, então, decidiu novamente sair de sua zona de conforto e retornar ao Brasil para a mentoria de Patrício Arnold, na ADK Tennis.
Foi nesse momento, após passar por adversidades, dúvidas e até mesmo ter pensado em desistir da carreira, como confessou ao blog BreakPoint Brasil, que Menezes colheu os frutos de sua persistência. Desde seu retorno ao Brasil, esteve em uma semifinal de ITF M25, uma de Challenger, em Gatineau; ficou com o vice em Binghamton e atingiu a glória maior em Samarkand, erguendo seu primeiro troféu no circuito Challenger.
Mas não foram apenas os resultados que mudaram. O João que voltou ao Brasil era outro. Dono de uma força física digna, de um mental sólido e com um jogo bastante variado, mandava um recado bastante claro que a 212ª posição no ranking ainda não era onde pretendia parar.
Sétimo cabeça de chave na chave dos Jogos Pan-Americanos de Lima, Menezes parecia um azarão em uma chave que tinha nomes como Nicolas Jarry — 64º do ranking, semifinalista do Rio Open e campeão do ATP 250 de Bastad, nesta temporada — e o experiente Facundo Bagnis, medalhista no Pan de Toronto em 2015. No entanto, nenhum dos dois foi páreo para o brasileiro, que perdeu apenas um set na semifinal para Bagnis, vindo de vitória por 2x0 sobre Jarry nas quartas.
Aos 22 anos, o mineiro entrou em quadra neste domingo (04) já com a medalha de prata e uma vaga nas Olimpíadas de Tóquio garantidas, mas para alguém que lutou tanto, conformação não é uma palavra que está no dicionário. Foram 2h20 em quadra onde João esteve abaixo nos três sets, precisou lutar, se reinventar, lidar com frustrações e com um adversário que estava em um dia igualmente iluminado. E novamente a persistência venceu.
João Lucas Magalhaes Hueb De Menezes, provavelmente um dos tenistas com o maior nome do circuito profissional, é o terceiro brasileiro a conquistar a medalha de ouro Pan-Americana nos últimos 20 anos, depois de Fernando Meligeni em 2003 e Flávio Saretta em 2007.
Se para seus dois antecessores a medalha foi um encerramento com chave de ouro — Meligeni por idade e Saretta em razão de uma lesão por stress no cotovelo direito — para Menezes essa medalha tem gosto de pedra fundamental, pois como diz o comum ditado dentre pescadores “mar calmo nunca fez bom marinheiro”. O céu é o limite para o atual 212º do ranking, que até o momento, é o único tenista do Brasil confirmado na Tóquio 2020 e que estará presente no qualificatório do próximo US Open, onde poderá disputar seu primeiro Grand Slam como profissional.