Por Fabrizio Gallas e Marden Diller - André Silva saiu do Brasil com 19 anos para viver nos Estados Unidos e trabalhar nos bastidores da Associação dos Tenistas Profissionais onde trilhou um caminho de sucesso sendo por dois anos um dos empresários de Roger Federer.
Silva recebeu uma homenagem esta semana do Rio Open em plena quadra Guga Kuerten por seus serviços prestados ao circuito mundial. Ele trabalhou com a relação dos jogadores e a entidade por vários anos, diretor do ATP World Finals, o quinto maior evento do circuito e que fecha a temporada com os oito melhores, por dois anos foi empresário de Roger Federer na Team8 ao lado de Tony Godsick onde também contava com Grigor Dimitrov e Juan Martin Del Potro.
"É especial né, eu saí do Brasil aos 19 anos, passei a minha carreira inteira fora do país e ser reconhecido aqui nessa homenagem é incrível. E meu objetivo é poder ajudar o tênis cada dia mais sempre estando por perto. É impressionante, mas por ser brasileiro parece um desafio a mais, porque todo mundo que trabalha na ATP é gringo ou americano, ou britânico."
Silva recebeu o convite para trabalhar com Godsick na imagem de Federer, Del Potro e Dimitrov e por lá ficou dois anos viajando cerca de 25% dos torneios com o suíço dono de 18 Grand Slams: "Ele é uma pessoa muito especial, independente de quem você é, ele te trata da melhor forma possível. É um ser humano especial que gosta de interagir com pessoas normais, não busca nenhuma celebridade, é um cara muito de família, e isso pra mim foi incrível, pois quando começamos a trabalhar meu filho tinha dois anos de idade e a maioria das conversas acabava em troca de experiências sobre filhos e tudo mais, então foi muito importante pra mim. E o Roger é isso, é aquilo que ele mostra ser", afirma André que contou sobre o trabalho de proteger Roger: "A parte mais difícil de trabalhar com ele é que tem muita gente que quer chegar no Roger Federer, logo é um trabalho de proteção, porque no final do dia ele só quer jogar tênis, só quer ser campeão, e se você não agenciar ele, o cara acaba falando com todo mundo e não fazendo o que tem que realmente fazer".
O brasileiro apontou que as várias viagens com os jogadores e mais um do Hóquei no gelo, a chegada do segundo filho e o convite feito pela federação americana para ser o diretor do Masters 1000 de Cincinnati, nos Estados Unidos, o fizeram sair da Team8 e aceitar o convite para o torneio preparatório para o US Open.
"A USTA começou a me ligar me convidando para ser diretor de torneio e nessa época eu havia sido pai pela segunda vez e não dava mais pra viajar tanto, então achei que seria um bom momento para voltar à direção de torneio. A amizade com o Roger, Juan Martin, Grigor continua, fiquei muito feliz de ver o Federer vencer na Austrália, queria que a final fosse contra o Grigor".
O natural de Campinas destacou que vê Federer feliz em quadra e que não pensa que o natural da Basileia vai se aposentar tão cedo: "Ele sempre disse que jogaria um pouco mais, muita gente disse que ele encerraria logo depois das Olimpíadas, mas eu sempre soube que ele seguiria mais longe. Teve esse problema no joelho que acabou vindo para ajudar com esse período fora."
Para Silva tanto a retirada de Federer quanto a de Rafael Nadal deixarão um buraco no tênis, mas que será suprida por grandes talentos: "Não só o Roger, mas o Rafa também vai deixar um buraco. O pessoal esquece um pouquinho, Agassi e Sampras também deixaram um buraco e logo depois vieram Roger e Nadal. Mas eu sou otimista, o tênis está bom, o nível está bom, temos muitos talentos aí e eu acredito que virão outros grandes nomes. Só precisamos ter paciência, pois ninguém vai de 1 a 18 Grand Slams num estalar de dedos."
André está otimista quanto ao ano de 2017 no circuito e que os Big Four (Novak Djokovic e Andy Murray com Federer/Nadal) vão estar no topo: "A motivação desses caras está em alta, claro que o Murray ainda quer buscar o lugar dele e o Novak tem muito a provar, porque ele não quer ficar como número 3. Acredito que vai ter uma parte dessa geração nova aparecendo também. Acredito também que o Grigor Dimitrov terá um ano incrível, o talento não falta."
Possível mudança do Rio Open para o piso duro e torneio virando Masters 1000
Com a experiência dos bastidores da ATP, André conta que o tema de mudança de piso dos eventos sul-americanos para o piso rápido é frequente e algo a que a entidade poderia considerar. O diretor do Rio Open afirmou estar buscando colocar o evento no piso rápido para atrair melhores jogadores.
Não tenho dúvidas de que o tênis mudou. Não estou mais na ATP, mas é importante o pessoal olhar isso pro futuro desse evento, alias não só do evento mas de toda a América do Sul, eles precisam decidir se é mais importante manter a tradição do saibro ou realmente preparar para um futuro, pois um dos problemas que a gente tem aqui é a temporada sul-americana acaba e logo depois começa Indian wells e Miami, então muitas vezes o jogador prefere jogar na rápida pra se preparar pra esses dois em vez de jogar no saibro. É uma coisa que a ATP tem que prestar atenção, creio que exista a possibilidade, pois é interessante pra ATP manter o tênis forte na América do Sul."
Diante da possibilidade do evento virar um Masters 1000 ele deixou no ar que no momento seria melhor deixar como está como um ATP 500: "Se fosse aqui no Jockey teria realmente que aumentar a capacidade das quadras. Por exemplo, em Cincinnati temos três quadras que são maiores que as daqui e são as menores do complexo. Ao mesmo tempo acho que esse lugar é especial, estando aqui um par de horas dá pra ver que está localizado no local certo aqui no Rio então é preciso considerar que talvez se você mudar de local seja complicado. Eu não conheço o Rio, mas não sei dizer que mudar para o Parque Olímpico seja viável, já que a ATP não busca só o dinheiro ou a realização do torneio, eles querem também saber se as pessoas do Rio viriam assistir o evento."
Para André, Rio virar um Masters 1000 dependeria muito mais que a entidade criasse um 10º torneio para tal circuito que compreende nove competições do que substituir alguma delas: "Dependeria muito de alguém subir mais um torneio de categoria do que o torneio em si cair de categoria. O pessoal foca em Miami porque era considerado o quinto maior torneio, não por falha deles, já que o grupo que tem o local não está deixando eles crescerem. Falam de que Miami enfraqueceu porque se compara o torneio de 10 anos atrás com o de hoje e não foi questão de enfraquecer, mas os outros cresceram. O grupo de torneios é forte, eles vão bem e trabalham juntos, então para isso depende muito mais deles saírem do que da ATP retirar o torneio."
O torneio de Cincinnati já deu início a duas etapas de reforma onde terão oito quadras com iluminação e a construção de uma nova quadra. A quadra central ganhará áreas VIP mais espaçosas e ampliação do estacionamento.